Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) receberam com alívio o resultado da pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (23), que mostrou estabilidade do mandatário
POR MARIANNA HOLANDA, RENATO MACHADO, DANIELLE BRANT, MATHEUS TEIXEIRA E JULIA CHAIB
Na avaliação de integrantes da campanha, os números poderiam ter vindo piores diante do novo aumento no preço dos combustíveis e da prisão de um ex-ministro do governo. O resultado, segundo esses aliados, mostra que Bolsonaro pode ter chegado a um piso no primeiro turno e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a um teto.
O Datafolha mostra o petista com 19 pontos de vantagem sobre o presidente, marcando 47% das intenções de voto no primeiro turno, contra 28% de Bolsonaro.
Os números se assemelham ao da pesquisa passada, divulgada no final de maio. Na ocasião, o ex-presidente tinha 21 pontos de vantagem.
A maior preocupação do entorno do chefe do Executivo tem sido a crise econômica e a alta dos preços da gasolina e do diesel. Mas, como a Folha de S.Paulo mostrou, o governo deve mudar o pacote de combustíveis que havia proposto para dar um incremento direto nos benefícios do Auxílio Brasil.
A avaliação é de que a situação econômica chegou a um momento tão complicado que tudo que há de ruim é atribuído ao presidente. A pesquisa reforçou que a única variável que importa neste momento é o bolso, na avaliação do Planalto.
Por isso, aliados esperam que, diante do pacote reformulado de R$ 1.000 de ajuda aos caminhoneiros, do aumento no vale-gás e de um Auxílio Brasil de R$ 600, Bolsonaro poderá voltar a subir nos levantamentos eleitorais. Eles lembram que o melhor momento de popularidade do presidente foi quando o governo pagou R$ 600 do auxílio emergencial, durante o momento mais agudo da pandemia.
O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (PL-TO), afirma que a população tem cada vez mais a percepção que a questão dos preços dos combustíveis está ligada ao contexto externo e que as medidas do governo nesse sentido serão sentidas em breve.
"Muita coisa sobre o governo pode melhorar daqui para a frente e assim vai melhorar, com certeza, a situação do presidente Bolsonaro", disse Gomes, que aposta na reeleição do mandatário.
O Planalto também credita a estabilidade de Bolsonaro diante do reajuste dos combustíveis à estratégia de comunicação do governo que, no caso, conseguiu transferir a responsabilidade e, de certa forma, vilanizar os executivos da Petrobras.
A campanha de Bolsonaro tem um instituto de pesquisa próprio contratado, mas seus integrantes costumam também se orientar por uma média dos principais levantamentos.
Ainda assim, há aliados que desacreditam as pesquisas publicamente. Coordenador-geral da campanha do pai, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chamou o levantamento de "torcida contra o Bolsonaro".
"Quer dizer que o Lula defende o aborto em rede nacional e a pesquisa mostra que ele não cai entre os evangélicos? Isso não é pesquisa, é torcida contra Bolsonaro", afirmou, em nota.
Na campanha petista, a avaliação é de que o Datafolha reflete o atual cenário econômico negativo, o que breca possibilidades de crescimento de Bolsonaro.
A aposta no PT é que as próximas semanas serão decisivas para avaliar o desempenho do presidente, quando ele colocar na rua novo pacote de medidas econômicas.
Se as medidas não surtirem efeito, líderes petistas avaliam que Bolsonaro poderá desidratar e chegar ao piso de seu eleitorado, que, dizem, fica entre 20% a 25% da população.
Se as propostas tiverem apelo popular, Bolsonaro conseguiria manter a polarização para tentar levar a disputa a um segundo turno.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), considera que o cenário de estabilidade mostra a consolidação dos votos em Lula e Bolsonaro.
"Tem um resultado consolidado, tanto pro lado de Lula como do Bolsonaro. A terceira via não se mexeu", diz.
A presidente tem dúvidas sobre o efeito eleitoral que a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro terá na popularidade de Bolsonaro por avaliar que o mandatário tem uma base muito fiel. Ela opina, porém, que o caso desmonta o discurso anticorrupção do mandatário.
Se Bolsonaro conseguir botar o novo pacote econômico-social de pé, o PT deve adotar o discurso de que as propostas são meramente eleitoreiras e têm data para acabar, em dezembro deste ano.
O ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) afirmou, por sua vez, que a população "está querendo definir [as eleições] no primeiro turno". "Com a liderança absoluta de Lula e a polarização consolidadas, a tendência que está emergindo é que o povo está querendo definir no primeiro turno. Quanto mais o povo compara Lula e Bolsonaro, mais a nossa vitória está assegurada", disse, em nota.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse não ser impossível Ciro Gomes desbancar Bolsonaro e enfrentar Lula no segundo turno.
Para ele, a prisão de Milton Ribeiro ainda não se refletiu na pesquisa. "Esse negócio que aconteceu ontem [prisão] ainda não deu repercussão eleitoral para o Bolsonaro. Não deu tempo. Acho que ainda vai dar consequência porque não vai ficar só nisso", afirmou.
A pesquisa também mostrou que a grande aposta da terceira via, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), não decolou até o momento, um mês após ter sido confirmada por MDB, PSDB e Cidadania como o nome do bloco.
O levantamento mostrou a senadora com 1% das intenções de voto.
O presidente do Cidadania, Roberto Freire, minimizou o resultado. Afirmou que ainda estão em "início de campanha".
"Pesquisa a gente sabe que apenas está representando o momento. Seguimos em frente acreditando que o Brasil vai romper essa polarização entre Lula e Bolsonaro. Estamos em início de campanha", afirmou.