Ato de lançamento da pré-candidatura acontece sob desconfiança interna, ex-ministro diz que disputa 'para valer'
Por Daniel Weterman
Em quase uma hora de discurso, o pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, disparou ataques a adversários, colocou Lula, Bolsonaro e Moro no mesmo "balaio", prometeu acabar com o teto de gastos públicos, revisar a reforma trabalhista, taxar grandes fortunas, tributar lucros e dividendos e ainda propôs o fim da reeleição no País.
Isolado e sem alianças partidárias encaminhadas até o momento, o PDT lançou a pré-candidatura de Ciro em Brasília, nesta sexta-feira, 21, antecipando a quarta disputa do ex-ministro e ex-governador do Ceará em uma campanha presidencial. O partido evocou o legado de Leonel Brizola e usou o centenário do político, comemorado neste sábado, 22, para apresentar o pré-candidato como um "rebelde" - o lema da campanha é "a rebeldia da esperança".
No discurso, o pré-candidato do PDT vinculou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-aliado político, ao presidente Jair Bolsonaro, a quem acusou de praticar genocídio na pandemia de covid-19. O foco das críticas foi a economia, tema que se tornou o centro da polarização na campanha dos principais pré-candidatos este ano. "Seria exagero dizer que os presidentes, apesar de diferentes em muitas coisas, foram iguaizinhos em economia, e que o modelo econômico que copiaram uns dos outros nos trouxe a este beco sem saída?", afirmou Ciro.
Em coletiva de imprensa, ele afastou a possibilidade de apoiar Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro. "Eu ajudei o Lula em todas as eleições. Será que existiria o Bolsonaro se não fosse a contradição econômica, social e moral do Lula? Eu não posso ficar de novo sustentando as irresponsabilidades do Lula."
Ciro prometeu acabar com o teto de gastos públicos, medida implementada durante o governo do ex-presidente Michel Temer em 2016 e que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Ele criticou a regra por excluir as despesas com o pagamento de juros da dívida pública e reduzir os investimentos. "Prometo, portanto, acabar com essa ficção fraudulenta chamada teto de gastos e colocar em seu lugar um modelo que vai tocar o Brasil adiante sem inflação e com equilíbrio fiscal verdadeiro."
Ao direcionar ataques ao pré-candidato do Podemos, Sérgio Moro, Ciro Gomes prometeu encaminhar uma proposta de reforma do combate à corrupção a ser debatida a partir de março deste ano, antes da campanha. "Não haverá espaço para estrelismos e efeitos especiais nem espetáculo para conquista de plateias ou, pior, de eleitores", disse o pré-candidato, classificando o adversário do Podemos como um caso "de glória efêmera como juiz e agora candidato a se derreter em contradições, mentiras e despreparo".
O que Ciro propõe implantar no governo, se eleito, é o que chama de Plano Nacional de Desenvolvimento. Para isso, diz estar disposto a fazer alianças com quem concordar em mudar o atual modelo econômico do País. Em uma tentativa de atrair a líder da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, para a vice na chapa, Ciro Gomes afirmou que a ex-ministra tem "todos os dotes para ser uma presidente do Brasil" e que é cedo para falar em vice.
O pré-candidato disse ainda estar disposto a propor um conjunto de reformas para aprovação no Congresso e plebiscito, incluindo o fim da reeleição. Na economia, defendeu uma política para acabar com o déficit fiscal, ou seja, garantir que o governo arrecade mais do que gasta, mas abandonado o chamado tripé macroeconômico (meta de inflação, meta fiscal e câmbio flutuante). Nesse sentido, prometeu cobrar impostos sobre os lucros e dividendos, taxar grandes fortunas e acabar com o que chamou de "festival de desonerações sem controle e sem retorno".