Dominghetti Pereira, homem que denunciou suposto esquema de corrupção no governo Bolsonaro. Ele é policial militar em Minas Gerais e responde por 37 processos judiciais
Por Lauriberto Pompeu e G1
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid decidiu antecipar para esta quinta-feira, 1º, o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti, policial militar de Minas Gerais que diz ter recebido pedido de propina para fechar contrato com o Ministério da Saúde ao oferecer vacina da AstraZeneca. Dominguetti iria depor aos senadores na sexta-feira, 2, mas agora ocupará o tempo reservado à oitiva de Francisco Emerson Maximiano, dono da Precisa Medicamentos.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse ao Estadão que a mudança ocorreu porque a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber decidiu acatar pedido de Maximiano para permanecer em silêncio.
Sob o argumento de que não vão tolerar “um outro Wizard” – uma referência ao empresário Carlos Wizard, que nesta quarta-feira, 30, se recusou a responder a perguntas, amparado em decisão judicial – senadores da CPI vão recorrer da decisão de Rosa Weber, que concedeu habeas corpus a Maximiano.
Conhecido como Max, o empresário comanda a Precisa Medicamentos, que negocia no Brasil a aquisição da vacina indiana Covaxin. Segundo a decisão do STF, Max precisa comparecer ao interrogatório, mas poderá se recusar a responder perguntas ‘potencialmente incriminatórias’.
O dono da Precisa chegou a pedir ao Supremo para ser alçado ao status de investigado, o que lhe livraria de assinar o termo de compromisso em falar a verdade, mas não conseguiu.
Já Luiz Paulo Dominguetti, que vai depor nesta quinta-feira, não apresentou qualquer recurso ao STF. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Dominguetti disse ter aberto negociação com o governo em nome da empresa Davati Medical Supply para vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. De acordo com ele, o então diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose para que a negociação avançasse, o que acabou não ocorrendo. Ferreira Dias foi demitido.
Em depoimento à CPI, na semana passada, o deputado Luís Miranda (DEM-DF) e seu irmão Luís Ricardo, servidor do Ministério da Saúde, também citaram Ferreira Dias como sendo um dos gestores que faziam pressão para acelerar o negócio com a Precisa, intermediária da venda da Covaxin, mesmo com suspeitas de irregularidades no contrato. Além disso, o deputado Miranda confirmou ao Estadão que foi oferecida a ele propina para que o irmão destravasse o negócio.
Saiba quem é Dominghetti Pereira, homem que denunciou suposto esquema de corrupção no governo Bolsonaro
O homem que se apresentou como representante da Davati Medical Supply - que diz ser intermediária na venda da AstraZeneca - e denunciou um suposto esquema de propina em reportagem do jornal Folha de São Paulo, é o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominghetti Pereira.
Segundo a corporação, ele trabalha no município de Alfenas, no Sul do estado.
Na reportagem da Folha de São Paulo, Luiz Paulo disse que negociou com representantes do Ministério da Saúde a venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, e só não fechou negócio porque não concordou em pagar propina.
O envolvimento do PM neste tipo de negócio é recente, como explicou um homem que trabalhou com ele, tentando vender vacinas às prefeituras mineiras. Ele não quis se identificar.
“Eu conheci ele mais ou menos em fevereiro deste ano. Foi na época que o estado do Amazonas estava tendo aquele colapso da Covid”, disse o homem.
Segundo o funcionário, nenhum contrato chegou a ser assinado.
Responde a 37 processos na Justiça
Luiz Paulo Dominghetti Pereira morou em Belo Horizonte até o fim do ano passado. Segundo os moradores, a família era reservada e praticamente não tinha contato com a vizinhança. O dono do apartamento em que ele morava disse que Dominghetti saiu devendo quatro meses de aluguel, e ainda responde, na Justiça, a um processo de cobrança desta dívida.
Em outro processo, o PM é acusado por uma mulher de ter comprado um carro financiado em nome dela. Além de não pagar as parcelas, levou multas que estão em nome da proprietária e sumiu com o veículo, que até hoje não foi localizado. Ao todo, o nome dele aparece em 37 processos na Justiça.
A Davati negou que Luiz Paulo seja seu representante no Brasil e admitiu que não tem convênio com a AstraZeneca. O laboratório responsável pela vacina afirmou que não tem empresas privadas como representantes e que só vende imunizantes contra a Covid para governos e organismos multilaterais.
A Polícia Militar de Minas Gerais informou que Luiz Paulo Dominguetti Pereira, autor da denúncia de cobrança de propina no Ministério da Saúde, é integrante da força no estado e atualmente está lotado no batalhão da cidade de Alfenas, no Sul de Minas.
Depois que a denúncia veio a público, a PM de Minas instaurou relatório de investigação preliminar para apurar se a conduta dele fere o código de ética e disciplina da instituição.
Ainda segundo a PM, no ano passado, Dominghetti trabalhou no gabinete militar do governo do estado, mas foi afastado da função por não corresponder ao perfil necessário de atuação no órgão.