DIRETO DA REDAÇÃO
Com informações de O Globo
Em busca de mais reflexões sobre as diferenças entre pesquisas eleitorais e os resultados das urnas neste domingo, a coluna do jornal carioca O Globo, chamada “o Pulso” entrevistou a CEO do Ipec, Márcia Cavallari, que chama a atenção para possível migração de votos de Ciro Gomes (PDT) para Jair Bolsonaro (PL), o alto índice de indecisos nas disputas estaduais, e o fato de que pesquisas não podem ser consideradas verdades absolutas.
O Ipec errou os prognósticos para as eleições presidenciais em 26 de 27 pesquisas.
- O que aconteceu entre sábado e domingo que possa explicar Bolsonaro com seis pontos a mais do que o registrado na última pesquisa Ipec?
- Na pesquisa estimulada, tínhamos Ciro Gomes com 5% e ele obteve 3%. Eram 5% para a Simone e ela recebeu 4% dos votos. E o Lula não ganhou no primeiro turno por 1,6 ponto percentual. Para mim, isso demonstra uma provável migração de votos para o Bolsonaro vindos de parte dos indecisos, e dos que desistiram de Ciro e Simone. A pesquisa fornece informação para o eleitorado tomar decisões estratégicas e antecipar a migração de voto no sentido, por exemplo, de tentar evitar uma decisão logo no primeiro turno. Faz parte do processo democrático o eleitor ter informação para tomar esse tipo de atitude.
- As diferenças também aconteceram nas eleições estaduais, com reviravoltas de um dia para o outro, como em São Paulo. Como explicar tanto movimento em tão pouco tempo?
- No geral, as diferenças das pesquisas para as urnas de governador e senador podem estar relacionadas a níveis muito altos de indecisos na pergunta espontânea. Em São Paulo, no sábado, esse número chegava a 40%. No Rio, eram 37%. Nós já havíamos percebido que existia chance de alterações importantes na eleição de São Paulo. Era uma não consolidação do voto e possível mudança na reta final. E na apuração das urnas nós vimos que essa movimentação ocorreu de forma concentrada em determinados candidatos aliados de Bolsonaro. Além disso, também não sabemos a relevância do papel das redes sociais e aplicativos de mensagem na reta final, mas entendemos que essas movimentações são muito rápidas, concentradas e geram subidas repentinas.
- Como resolver essa aparente tensão entre resultados de votos estimulados e espontâneos, então?
- Talvez nós tenhamos que divulgar a pesquisa informando a estimulada, mas dizendo que na pergunta espontânea há indícios de indecisão. Porque, de outro modo, fica parecendo que quando divulgamos aqueles números, eles são a verdade absoluta. A pesquisa não é infalível, os eleitores tomam decisões na reta final.
- As amostras com as quais o Ipec trabalha estão na melhor sintonia possível com a realidade do eleitorado?
- Na ausência de um Censo, nós teríamos um refinamento melhor de dados se a PNAD trouxesse informações atualizados de religião, por exemplo. Assim como se houvesse indicadores município a município e não do interior como um todo. Mas não acho que isso tenha prejudicado a pesquisa como um todo. Não é culpa disso, mas seria melhor se tivéssemos dados mais refinados.
- Quais são as possíveis medidas daqui em diante após os resultados?
- Nós estamos sempre empenhados e comprometidos em analisar tudo o que aconteceu, identificar possíveis problemas, aplicar as melhores técnicas focados em contribuir para o avanço e melhoria das pesquisas. Nós já adotamos padrões internacionais. É um processo contínuo, a cada eleição aprendemos mais. As mudanças não são imediatas, requerem estudos mais aprofundados para podermos tomar medidas. Não cansamos de dizer que pesquisas não são infalíveis.