PF investiga suspeitas de uso ilegal do software contra jornalistas, políticos e adversários do ex-presidente
Da Redação
Documentos obtidos pela Polícia Federal na operação Última Milha apontam que servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) lotados no Centro de Inteligência Nacional (CIN) utilizaram o software espião FirstMile durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As informações foram reveladas pelo jornal Folha de São Paulo.
O CIN foi criado por meio de um decreto assinado por Bolsonaro em julho de 2020, sob a gestão de Alexandre Ramagem, então diretor da Abin, que atualmente é deputado federal e pré-candidato do PL para o cargo de prefeito do Rio de Janeiro.
O Centro de Inteligência Nacional foi estabelecido com o objetivo de planejar e executar atividades de inteligência para enfrentar ameaças à segurança e estabilidade do Estado, além de assessorar órgãos competentes em políticas de segurança pública. No entanto, a estrutura foi apelidada de "Abin paralela" devido à nomeação de servidores e policiais federais próximos a Ramagem e à família Bolsonaro.
De acordo com o jornal, o FirstMile foi utilizado pela Abin entre 2019 e 2021, sendo adquirido e hospedado nos computadores da Diretoria de Operações de Inteligência. Contudo, documentos e depoimentos indicam seu uso a pedido de pessoas ligadas ao CIN.
A operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023, investiga suspeitas de uso ilegal do software contra jornalistas, políticos e adversários do ex-presidente Bolsonaro.
A PF cumpriu 25 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva em vários estados do Brasil. A Procuradoria-Geral da República (PGR) destaca a suspeita de que Ramagem se corrompeu para evitar a divulgação de informações sobre o uso irregular do software durante sua gestão na Abin.
O ex-diretor da Abin é apontado como integrante do "núcleo da alta gestão" pela PF, responsável por ações e omissões relacionadas ao FirstMile. A investigação indica que ele postergou demissões e possíveis divulgações, manipulando o julgamento da investigação interna.
À Folha de São Paulo, Ramagem nega irregularidades e diz, por meio de sua assessoria, que o CIN foi "criado para cumprir atuação da Abin como órgão central do sistema brasileiro de inteligência e implementar inteligência corrente e coleta estruturada de dados."
Sobre os servidores e policiais federais lotados no CIN utilizarem o FirstMile, ele afirmou que os "centros, diretorias e superintendências da Abin possuem demandas de inteligência, mas apenas o departamento de operações utilizava a ferramenta."
Ramagem alegou ainda ao jornal que a investigação da PF só foi possível porque sua gestão "fez correição e investigação na corregedoria" sobre o sistema.
"Outras instituições adquiriram a mesma ferramenta, sem notícias de providências de auditoria. Não me encontro como investigado, já tendo inclusive representado à PF contra imputações infundadas", disse.