DOS CONSELHOS DE TANCREDO ÀS ANÁLISES DAS PESQUISAS: OS EFEITOS COLATERAIS E OS PADRINHOS POLITICOS

Posted On Terça, 20 Outubro 2020 11:56
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“A perfeição da própria conduta consiste em manter cada um a sua dignidade sem prejudicar a liberdade alheia”

 

VOLTAIRE

 

 

 

Por Edson Rodrigues

 

O mercado de pesquisas está aquecido como nunca.  Há quem aplauda os resultados desses levantamentos na mesma proporção dos que criticam e desmentem. Por outro lado, há poucos os que veem as pesquisas como elas realmente são: simples fotografias de um certo momento, do momento em que são feitas, daquele intervalo de dias em que seus questionários foram aplicados.

 

Uma das boas histórias a respeito do saudoso Tancredo Neves diz respeito, exatamente, às pesquisas eleitorais. “Só há uma forma de vencer o que dizem as pesquisas: trabalhe mais”.

 

Foi dessa forma que Tancredo respondeu a um candidato a prefeito da cidade de Três Pontas, chamado Antônio da Farmácia, que o procurou para reclamar do resultado de uma pesquisa que o colocava em terceiro lugar.  Tancredo Neves deu o seguinte conselho: “volte para o seu município, reúna seus companheiros, faça, no mínimo, três reuniões, faça caminhadas diárias, visite a comunidade, entregue, você mesmo, as suas propostas de governo e, depois, faça uma pesquisa e publique no maior jornal que circula na sua cidade”. 

 

“Mas, Dr. Tancredo, e se eu não estiver em primeiro lugar”?

 

“Pode ter certeza que, pelo menos, em segundo lugar você estará.  Aí, depois de divulgar o resultado dessa pesquisa, conte ao povo que estarei no seu palanque em seu último comício”.

 

O candidato seguiu as instruções de Tancredo e, depois de 25 dias de muito trabalho, quando contratou a pesquisa, foi batata.  Ele estava em segundo lugar, quase empatado com o primeiro colocado.  Foi o “oxigênio” que faltava para que os candidatos a vereador, os simpatizantes e apoiadores da sua candidatura, saíssem às ruas, reforçando o nome de Antônio da Farmácia, que venceu a eleição.

 

Antônio foi agradecer a Tancredo que o respondeu: “o ar-condicionado e o escritório são bons para depois da vitória.  Quem, quer ganhar, gasta sola de sapato”.

 

ANALISANDO AS PESQUISAS

 

Só há uma forma de desmentir os resultados de uma pesquisa de intenção de votos para os candidatos que estão em desvantagem:  trabalhar em três turno, todos os dias.  Deixar as reuniões com equipe de campanha para depois das 22h ou para antes das 7h, e coisa bem curta.

 

Pare de meter o pau nos resultados das pesquisas e, caso queira divulgar resultados que lhe são benéficos, busque um veículo de comunicação de credibilidade, em que o povo tenha confiança para fazer de suas notícias meios de formular seu voto.

Não terceirize sua campanha, ande nas ruas sempre acompanhado de pessoas de boa índole e conhecidas do povo.  Para de produzir fake News contra os resultados das pesquisas pois, quando o seu nome aparecer bem, vai parecer, também que é fake News.  A “lei do retorno” é clara, nesse caso.

 

Use a abuse da “receita” de Dr. Tancredo Neves para seu Antônio da Farmácia: trabalhe, saia do ar-condicionado, assuma as rédeas de sua candidatura por inteiro, faça por onde e mostra que tem conteúdo, propostas e condições de cumprir a missão que você está se propondo.

 

PARA OS QUE ESTÃO À FRENTE NAS PESQUISAS

 

A partir do próximo dia 25 de outubro muitas novidades irão surgir para os candidatos que lideram as pesquisas.  Todo cuidado é pouco, qualquer escorregão pode ser fatal.

 

Não “escolha” seu adversário.  Isso é um erro mortal, pois faz com que você subestime os demais e “baixe a guarda” em relação aos demais, esquecendo que com um bom trabalho, como “receitou” Tancredo, quem está por baixo pode virar o jogo.

 

Os exemplos estão aí. Carlos Amastha aparecia com 4% nas pesquisas e foi escolhido como adversário pela União do Tocantins.  Os membros da UT dormiram no ponto, esqueceram Amastha, que foi ganhando espaço, simpatia do povo e virou o jogo, elegendo-se prefeito de Palmas.

 

Em Porto Nacional o mesmo erro foi repetido em relação a Joaquim Maia, à época um vereador do baixo clero da Câmara Municipal de Palmas, com atuação pífia.  Decidiu, então, transferir seu domicílio eleitoral para sua cidade natal.  Filho de família tradicional, sem recursos para tocar uma campanha robusta, Maia estreou nas pesquisas em terceiro lugar. Enquanto isso, os dois primeiros colocados começaram uma batalha ferrenha entre si. Já o terceiro colocado, foi com sua fala mansa para os distritos, para a zona rural, pregando uma nova forma de administrar e acabou vencendo as eleições. Pena que sua gestão não foi como ele prometeu, fraca em realizações, sem uma obra pra chamar de sua.

 

Logo, os candidatos que aparecem, hoje, como líderes das pesquisas, devem tomar muito cuidado e considerar os resultados como retratos momentâneos e mutáveis.  Daqui até o dia 15 de novembro, muitas surpresas podem acontecer, positivas e negativas.

 

Qualquer flagra de compra de voto ou um simples indício disso, uma operação da Polícia Federal – e nem precisa ser com o candidato com alvo, basta ser com alguém da sua equipe de campanha – ou uma apreensão de celular, pode jogar por terra todo um trabalho que estaria fadado à vitória.

 

Todo cuidado é pouquíssimo em tempos de campanha.

 

CUIDE BEM DOS SEUS VEREADORES

 

Em conversa reservada com um candidato a vereador muito bem cotado nas pesquisas, com chances reais de ser eleito, perguntei a ele qual era o segredo do seu sucesso, em tempos de cada um por si, por causa do fim das coligações proporcionais.

 

A resposta foi emblemática: “um santinho para cada gosto.  Faço meu trabalho de divulgação na mídia tradicional e de credibilidade.  Tudo o que sai de positivo, eu distribuo nas redes sociais.  Só peço votos para quem nos oxigenou financeiramente, ou seja, não ando com o candidato a prefeito da nossa minha chapa a tiracolo.  Em cada reduto, defendo o candidato a prefeito mais identificado com aquele eleitorado, por isso, tenho um santinho para cada ocasião.  Quem me ajuda mais, levo para as reuniões.  Ou o próprio candidato, ou a esposa dele ou o coordenador da campanha.  Eu sou leal a quem é leal comigo, a quem me ajuda e, falo com tranquilidade que os dois que mais ajudo não são da minha coligação.  Nesta disputa, ganha mais quem agrega e eu trago os meus eleitores pro lado de quem nos oxigena.  Na nossa coligação, somos quatro que agimos da mesma forma.  Quem dá mais, tem mais respaldo”, confessou.

 

Essa revelação que nos foi feita sob o manto do anonimato acontece não só em Palmas, mas nos 139 municípios do Tocantins, mas em Palmas, segundo esse candidato, é mais fácil, pois há 12 candidatos a prefeito, e isso é uma prática disseminada e corriqueira.

 

Que Deus, em sua bondade universal, nos ajude para que a Câmara Municipal de Palmas não seja um reduto dos piores candidatos e dos que agem sem ética e moralidade, nas entrelinhas do jogo político. É preciso renovação, novos e bons nomes, sem esses vícios da má política.

 

A Capital do Estado do Tocantins merece um Legislativo à sua altura.

 

AOS CANDIDATOS QUE ENGANAM A SI E AOS COMPANHEIROS: É. HORA DE ACORDAR

 

Com todo respeito aos Institutos de Pesquisa, é preciso “dar a César o que é de César”.  São tantos resultados diferentes em um espaço tão pequeno de tempo, sem nenhum fato novo que justifique as mudanças que levam candidatos que estavam em último ou penúltimo lugar, pular para a primeira colocação num estalar de dedos. Ou seja, sendo claro, tem caroço nesse angu.

Na próxima segunda-feira vamos nos aprofundar nesse assunto, pois tem muitos candidatos enganando seus padrinhos, a si mesmos e a aos eleitores.  E os institutos de pesquisa que, por acaso, estejam se sujeitando a esse tipo de manobra, é bom tomar cuidado para não se afundarem, junto com esses candidatos, na vala do sepultamento político coletivo em 15 de novembro.

 

CANDIDATOS E SEUS PADRINHOS-AVALISTAS: HOMENS E MULHERES DE PRESTÍGIO E PODER

 

Há, sim, uma grandiosa distância entre os padrinhos-avalistas de candidatos e a varinha mágica que transforma tudo em voto.

 

O apoio político de um líder em ascensão durante a campanha política é muito importante por dois motivos: dá credibilidade ao apadrinhado e, em caso de vitória abre a possibilidade do eleito em ter respaldo em Brasília nas ações parlamentares, nas articulações junto aos ministérios, ao presidente da república, Jair Bolsonaro, acesso às emendas impositivas, dentre outras facilitações.

 

Por isso é importante contar com o apoio dos nobres deputados federais e estaduais, do governador e, também, de ex-prefeitos que criaram vínculos em Brasília por conta de gestões responsáveis em seus municípios.

 

Mas apenas o apadrinhamento e o apoio político não bastam para eleger ninguém.  O apoio mais importante a ser conquistado é o do povo, do eleitor e, para isso, não basta a amizade.  É preciso deixar o conforto de seus escritórios, com ar-condicionado, e evitar discutir o “sexo dos anjos” por horas e horas com um grupo fixo de apoiadores, e partir para as ruas, gastar sola de sapato e suar a camisa, dormir tarde e acordar cedo.

 

Não confiem apenas na “varinha mágica” dos padrinhos, muito menos dos seus apoiadores, pois conquistar um bom resultado nas pesquisas não dignifica um bom resultado nas urnas.  Esta eleição tem variáveis jamais enfrentadas por outros candidatos, que são a pandemia, os milhares de desempregados e endividados e os outros milhares de descontentes com tudo o que diz respeito à política.

 

O único apoiador que tem condições de fazer uma diferença real e de modificar opiniões é o candidato a vereador, o único elo entre os eleitores da periferia, dos assentamentos, dos povoados, com o candidato a prefeito.

 

O problema é que os candidatos a prefeito têm se esquecido dos candidatos a vereador que compõem suas chapas.  Muitas vezes são pessoas simples, que tem milhares de amigos e familiares, mas, às vezes, não tem nem o dinheiro do ônibus para ir fazer política onde há muitos votos.

 

Isso é um erro grave, pois, um adversário, sabedor dessa situação, pode disponibilizar um carro para levar o “seu” candidato a vereador onde ele precisa, e ficar com os votos que seriam para o candidato, distraído, a prefeito.

 

Os candidatos a vereador são as principais peças da engrenagem eleitoral municipal, são insubstituíveis e aquele candidato a prefeito que não estiver em relação de harmonia com os que pleiteiam uma vaga no Legislativo na sua chapa, serão, certamente, surpreendidos quando se revelar o resultado das urnas.

 

Padrinhos políticos e avalistas de candidaturas ajudam muito, mas candidatos a vereador bem oxigenados e bem tratados, contam tanto quanto.

 

Fica a dica.