Polícia Federal aponta que há mensagens no aparelho do ex-deputado que citam Michel Temer em conversa sobre distribuição de propina em 2012
Com iG São Paulo
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin atendeu um pedido do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, e autorizou, nesta segunda-feira (4), uma nova perícia em um aparelho celular do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), dentro de um inquérito da Operação Lava Jato que tramita na primeira instância .
De acordo com a Polícia Federal, há mensagens no aparelho da marca Blackberry em que Eduardo Cunha cita o presidente Michel Temer. O diálogo, segundo interpretação dos agentes da PF, trata do pagamento de propina pelo empresário Joesley Batista, do Grupo J&F.
Moro autorizou a nova perícia no celular a pedido da defesa de Cunha. O equipamento encontra-se na sede do Supremo, em Brasília, e será encaminhado a Curitiba.
Perícia
Uma primeira perícia no aparelho já foi realizada e o laudo encaminhado a Fachin. De acordo com os agentes, Cunha e o então deputado Henrique Eduardo Alves (MDB-RN) conversaram, em 2012, sobre o repasse de propina por Joesley Batista a políticos do MDB na Câmara.
A PF aponta que a certo ponto do diálogo, Cunha teria dito a Alves que a distribuição de pagamentos combinada com Joesley não agradaria a Temer. “Isso vai dar merda com o Michel”, escreveu Cunha, segundo o laudo da PF.
Entretanto, ao ser remetido à primeira instância, somente o laudo foi encaminhando junto com os autos, motivo pelo qual a defesa de Cunha solicitou o envio das mídias com os arquivos extraídos e do aparelho para nova perícia.
Neste inquérito da Lava Jato, Cunha é investigado por supostamente participar de um esquema de desvio de recursos na contratação de navios-sonda pela Petrobras. O ex-deputado nega qualquer participação. Atualmente, ele se encontra preso preventivamente no Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
A ação penal
O ex-deputado é acusado de ter recebido propina de ao menos US$ 5 milhões – pagos por meio de doações à igreja Assembleia de Deus – para viabilizar a construção de dois navios-sondas da Petrobras entre junho de 2006 e outubro de 2012.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República ( PGR ), que inicialmente ofereceu a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF), Cunha recebeu propina para facilitar a contratação, junto ao estaleiro Samsung, dos navios-sondas Petrobras 10.000 e Vitoria 10.000, sem licitação.
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot alegou na denúncia que a atuação de Cunha no esquema "ficou evidenciada, entre outros motivos, pela expedição, em 2011, de requerimentos apresentados à Comissão de Fiscalização e Finanças da Câmara dos Deputados, exigindo informações sobre os contratos relativos aos fornecedores da Petrobras".
Os requerimentos foram assinados pela ex-deputada Solange Almeida, que também é ré nessa ação penal, e teriam como objetivo pressionar o lobista Júlio Camargo para o pagamento de propinas em atraso a Eduardi Cybga. Os requerimentos pediam informações ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério de Minas e Energia relativos a contratos, aditivos e procedimentos licitatórios do Grupo Mistui e suas subsidiárias no Brasil e no exterior.
Os procuradores da Lava Jato alegam que o "autor intelectual" dos requerimentos teria sido Eduardo Cunha. Esse entendimento é embasado em dados fornecidos pela diretoria geral da Câmara dos Deputados sobre os arquivos eletrônicos referentes aos requerimentos