Presidente da Câmara se tornou uma das principais lideranças políticas do Brasil; entretanto, segundo cientista político, ele não atua como um mediador entre os poderes
Por Guilherme Strabelli
Maia se aproveitou de falhas do governo Bolsonaro para se consolidar como um dos líderes políticos do Brasil e pautar a agenda nacional.
Em meio à crise política que o Brasil atravessa e à pandemia de Covid-19, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) se consolidou como uma das principais lideranças políticas do país.
Com o poder obtido ao longo dos últimos meses, período em que esteve à frente da presidência da Câmara, Maia se tornou peça-chave na política nacional, sendo essencial para pautar as decisões da Câmara e ditar os rumos do país.
Entretanto, para o cientista político Márcio Juliboni, mesmo com um tom moderado durante seu período na presidência da Casa, Maia não atua como um mediador entre os Três Poderes.
Segundo Juliboni, Maia se aproveitou da “clara inabilidade política do governo Bolsonaro , no primeiro ano e meio de mandato” e “ocupou o vácuo de poder, compondo uma espécie de triunvirato com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre , e do STF, Dias Toffoli ”.
Essa situação, aliada ao seu tom moderado, contribuiu para que o presidente da Câmara pautasse a agenda política do país.
Juliboni avalia que o parlamentar está trabalhando, de fato, em prol da eleição de um sucessor para a presidência da Casa. E não para mediar conflitos, "se pensarmos um mediador como alguém que constrói pontes e busca o consenso entre partes que divergem sobre determinado assunto", diz o cientista.
"Os encontros de Maia com figuras de outros poderes não visam, tanto, a construir pontes e costurar consensos. Buscam, a meu ver, marcar a posição do grupo que representa, mantendo, assim, a legitimidade de sua liderança, perante esses parlamentares".
Diante disso, Juliboni diz que "a chave", para compreender o comportamento de Rodrigo Maia nesse momento, é entender o que está em jogo na eleição para a presidência da Câmara, que será realizada em fevereiro de 2021.
A eleição
Uma vez que não pode ser reeleito para o cargo, Maia estaria usando sua força política para conseguir apoio para garantir a eleição de um sucessor . Devido ao afastamento com Bolsonaro, agravado após a participação do presidente em atos antidemocráticos, Maia estaria tentando se aliar a partidos de esquerda para obter sucesso na eleição.
"A Câmara está dividida em três grandes blocos: o Centrão , que apoia Bolsonaro; os partidos de esquerda, que compõem a oposição; e os independentes, representados por Maia. Nenhum dos três blocos, sozinho, conseguirá eleger o novo presidente da Câmara.
Assim, como, até aqui, Bolsonaro enxerga Maia como um adversário e pretende colocar, em seu lugar, um aliado do Centrão, Maia sabe que só terá chances de emplacar seu sucessor, se conquistar o apoio da esquerda ", explica Juliboni.
O cientista diz ainda que essa busca de apoio explica os posicionamentos recentes de Maia em relação às pautas discutidas pela Câmara. "Não é por acaso que Maia tem defendido pautas que desagradam ao governo, como o Fundeb e a oposição à criação de uma ' Nova CPMF ', bem como a defesa das investigações das redes de fake news", afirma Juliboni.
Possível mudança de tom e crise política
Segundo Juliboni, a postura de Maia durante os atritos com Bolsonaro e seus aliados sempre foi responsiva. Isto é, ele apenas reagia aos ataques feitos contra ele e contra a Câmara.
Com a mudança de discurso de Bolsonaro , Juliboni considera "sintomático" que pautas como o impeachment do presidente tenham saído da pauta de Maia. Isso colabora para que a relação entre os poderes fique estável.
O cientista diz ainda que, caso o tom dos debates comece a aumentar novamente, a crise deverá se agravar. "É possível que voltemos a ver uma escalada de agressividade e ameaças políticas. Some-se isso à deterioração da economia, por causa do coronavírus, e seria um prato cheio para fortes turbulências políticas e sociais", conclui Juliboni.