Por Edson Rodrigues
O Observatório Político de O Paralelo 13 vem acompanhando os trabalhos de “tecelagem” das colchas de retalhos para as eleições estaduais de outubro e, como já havíamos falado antes, o clã dos Abreu vem desenvolvendo um trabalho em duas frentes em busca da reeleição da senadora Kátia Abreu, mas que, com o desenrolar dos fatos, acabou incluindo, também, seu filho, senador Irajá Abreu. Ou seja, a colcha dos Abreu será uma das maiores já vistas na história política do Tocantins. Resta saber sobre a resistência e a capacidade de “cobertura” dessa colcha.
Quem entende de costura sabe o que é uma “trama”. A trama é um dos componentes básicos usados na tecelagem, usado para transformar linha ou fio em tecido. Pode referir-se também ao espaçamento entre os fios que constituem o tecido: uma trama menor significa fios menos espaçados entre si; uma trama maior significa fios mais espaçados entre si. Ou seja, a trama é a principal responsável pela força do tecido e do que é feito com ele.
Logo, podemos chamara a confecção da colcha de retalhos do clã dos Abreu de “trama”, com o mesmo sentido de “plano”, “planejamento”. A metáfora, aliás, é perfeita!
A trama do clã dos Abreu envolve duas possibilidades: a formação de uma colcha de retalhos para apoiar o governador em exercício, Wanderlei Barbosa, à reeleição, tendo Kátia Abreu como candidata à reeleição ao Senado, ou a formação de uma chapa com o senador Irajá Abreu candidato ao governo, tendo Kátia como candidata à deputada federal.
Até uma reunião de 15 deputados estaduais já foi realizada para discutir o convite do clã dos Abreu para fazer parte da colcha de retalhos, mas defenderam que a conversa teria que ser com todos juntos, não individualmente, como tem feito Irajá, apesar dessas reuniões ocorrerem sempre de forma cordial, buscando uma aproximação com os deputados estaduais, sem citar composições ou imposições de apoio.
POSSIBILIDADE REAL, CASAMENTO DESFEITO
E desses deputados, os que já conversaram com Irajá confirmaram que ele cogita, sim, se candidatar ao governo, apesar de afirmar que “não está na política para ser plano B”.
Mas, o fato é que a possibilidade do “plano B”, com Irajá para o governo e Kátia para deputada federal está na mesa de discussões e é considerado “plausível”. Afinal, Irajá é um político sério, membro da mesa-diretora do Senado, como primeiro-secretário, discreto, porém astuto.
Em meados de setembro de 2021, por exemplo, Irajá fez um giro pelo Estado, conversando com vereadores de todos os segmentos partidários e com prefeitos de sua base política, sem que nenhuma publicidade tenha sido dada a esses fatos.
Mais para o fim de 2021, o giro de Irajá foi na região do Bico do Papagaio, desta vez, acompanhado pelo pré-candidato ao governo, Ronaldo Dimas, ex-prefeito de Araguaína, que apoiou sua eleição ao Senado, deixando de lado o amigo de longa data, César Halum (ato conhecido na política como “trairagem”, pois Halum passou seu mandato de deputado federal enchendo os cofres de Araguaína com verbas federais, frutos de emendas impositivas de sua autoria, para, no fim, ser “trocado” por Irajá). O apoio de Dimas foi determinante para a eleição de Irajá ao Senado, por isso, Irajá levou para esses encontros o empresário Edson Tabocão que, em algum momento de 2021 foi convencido pelo clã dos Abreu a entrar na vida política e é, hoje, cotado para ser o candidato a vice-governador seja no “plano A”, seja no “plano B”.
A questão é que “pau que dá em Chico, dá em Francisco”. Tudo caminhava bem na trama da aliança entre o clã dos Abreu e Ronaldo Dimas, quando eis que acontece o afastamento do governador Mauro Carlesse pelo STJ.
De imediato, Wanderlei Barbosa assume o governo e o Palácio Araguaia passa a agir como um ímã para os Abreus. Tudo o que já estava “costurado” até Araguaína, foi desfeito e reaproveitado para costurar um “tapete vermelho” até a sede do governo estadual, em Palmas.
Ronaldo Dimas foi “deixado no altar”, e o “noivo” da vez passou a ser Wanderlei Barbosa, afinal, teimar em uma pré-candidatura que, com dois anos de caminhada não decolou, seria muita cegueira política para dois senadores.
Ex-prefeito de Araguaina Ronaldo Dimas
E eis que surgem, juntos e cheios de “amabilidades”, Kátia, Irajá e Edson Tabocão, em pleno gabinete do governador Wanderlei Barbosa, declarando todo seu “amor” e apoio político ao novo chefe do Executivo estadual que, por acaso, está sem partido para concorrer às eleições de outubro.
Obviamente, a primeira questão a ser resolvida era o fato de Wanderlei Barbosa contar com o apoio da maioria dos deputados estaduais, enquanto que, nos últimos quatro anos, aos Abreus se mantiveram distantes dos parlamentares da Assembleia Legislativa sendo, em sua campanha, Irajá tentou emplacar uma “chapinha” composta só por candidatos sem mandato, ignorando muitos dos atuais deputados estaduais.
A “chapinha” de Irajá não elegeu ninguém, logo, não causou nenhuma baixa nos atuais parlamentares, o que abriu a possibilidade de diálogo entre as partes, como vem acontecendo com cuidado cirúrgico para não melindrar ninguém, pois os bastidores indicam que todos os deputados estaduais estão com o pé atrás com os Abreus, pela desconfiança de que eles já teriam prontas suas chapas de federal e estadual, sobrando pouco espaço para os “novos amigos”.
Ou seja, independente da trama, do tamanho e da cor, resta saber se a colcha de retalho dos Abreus terá a forma de “Titanic” ou de “Arca de Noé”, e será suficientemente forte para dar abrigo a todos os que estão sendo “chamados para o time”.
O FATOR “SE” NO FUTURO POLÍTICO DE KÁTIA ABREU
Paulo Mourão e Katia Abreu
O folclore brasileiro diz que “o ‘se’ não existe”, para avaliar expressões como “ah, se ela gostasse de mim” ou “se eu não tivesse feito aquilo”, ou seja, não adianta “chorar o leite derramado”.
Mas os “ses” que vão se interpor no caminha da senadora Kátia Abreu são muitos e, ao contrário da sabedoria popular, podem, sim, existir, e influenciar muito em seu futuro político, pois se referem a situações que ainda vão acontecer.
E serão muitos, por exemplo, como serão as tratativas dos deputados estaduais com o governador em exercício, Wanderlei Barbosa. SE eles optarem por manter o distanciamento político com o clã dos Abreu, é bem provável que o governador opte por manter os laços com sua base política.
Como será a forma e o modelo com que Kátia Abreu irá conduzir, no Tocantins, a composição do palanque presidencial de Lula, SE o PT viver um imbróglio político com a candidatura natimorta de Paulo Mourão ao governo do Estado, que nunca decolou e que não agrada aos demais membros do diretório estadual. Tudo depende SE Célio Moura vai seguir as orientações da cúpula nacional ou da estadual, SE Paulo Mourão vai renunciar à sua candidatura, aceitando ser candidato, apenas, a deputado federal e SE o diretório estadual aceitará essa hipótese.
Em outra hipótese, o posicionamento de Kátia Abreu dependerá, também, SE o PSD de Irajá Abreu irá compor Federação Partidária com o PT. SE os diretórios estaduais do PSD aceitarão essa composição. SE o PSD decidir ter uma candidatura própria à Presidência da República e, finalmente, o “se” mais importante, pois depende exclusivamente da própria senadora, SE Kátia Abreu aceitaria, nesse “plano B”, com Irajá candidato ao governo, se candidatar apenas à deputada federal.
Certamente, será preciso uma trama muito forte nessa colcha de retalhos em formação pelo clã dos Abreu, pois, no fim, apesar de toda essa composição, todo esse planejamento e toda essa movimentação política que ele pode provocar, essa colcha terá uma única finalidade: manter Kátia Abreu na vida Pública.
O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS VOTOS
O grande desafio da senadora Kátia Abreu será, além dessa trama fortíssima para compor a sua colcha de retalhos, conseguir os 170 mil votos que foram colocados como necessários para sua eleição, para os deputados estaduais que estiveram reunidos com Irajá Abreu. Segundo as contas do clã, esse número seria suficiente para elegê-la deputada federal, o que seria suficiente para “levar mais um” do grupo que compuser com eles (note-se que de plano B, a candidatura de Irajá Abreu ao governo do Estado está sendo tratada 100% como plano A).
Em sua primeira candidatura ao Senado, o Ibope publicou pesquisa colocando a senadora com 25 pontos percentuais à frente de Eduardo Gomes, o que representava uma diferença aproximada de 250.000 votos. Com a abertura das urnas o resultado foi uma diferença de 5.932 votos, ou 0,87%: Kátia Abreu - 282.052 - 41,64%; Eduardo Gomes - 276.120 - 40,77%. Diferença: 5.932 - 0,87%.
Em 2018, na primeira eleição sem o apoio de Siqueira Campos ou de Marcelo Miranda, Kátia conheceu seu verdadeiro tamanho político, ficou em quarto lugar na disputa pelo governo do Estado. Carlesse - 174.275; Vicentinho - 127.758; Amastha - 123.103 e Kátia Abreu - 90.033 votos.
Resta saber onde Kátia pretende levantar esses 170 mil votos, após essa avaliação dos eleitores de todo o Estado quanto á sua pretensão de ser governadora. Ou ela vai ter que trabalhar muito para não sofrer uma grande decepção, ou promove, sabe-se lá como, um “milagre da multiplicação dos votos”, coisa que nunca se viu na política nacional, muito menos na tocantinense.
Ou ela tem um ás na manga, ou a informação dos 170 mil votos é a primeira fake news oficial desta sucessão estadual...