Mesmo durante a longa calmaria vivida pelo Estado do Tocantins em relação à sua imagem na mídia nacional, sem as operações da Polícia Federal, denúncias de corrupção ou de malversação de dinheiro público, um de seus políticos – desde que se tornou um líder, com mandatos concedidos pelo povo – parece que se imbuiu da “missão” de não deixar o Brasil esquecer que no Tocantins – ou representando o Tocantins – tem como continuar a manter, de forma negativa, o nome do Estado na mídia
Por Edson Rodrigues
O Jornal O Globo divulgou, no último dia 30, que o senador Irajá Abreu voltou a fazer das suas. Ele é alvo de uma investigação da Polícia Federal sobre supostas irregularidades na destinação de recursos de uma emenda do parlamentar.
Irajá respondeu ao jornal, informando que desconhece a investigação, pois não foi notificado, mas “reitera que todas as indicações de emendas parlamentares foram feitas de forma correta e dentro da legalidade”.
CRONOLOGIA NEFASTA
Senador Irajá Abreu e sua ex-senadora Kátia Abreu
Irajá Silvestre Filho, o Irajá Abreu ou o Irajá filho da ex-senadora Kátia Abreu, que vai completar 42 anos depois de amanhã, dia três de fevereiro, começou a frequentar as páginas negativas da imprensa nacional desde que se elegeu deputado federal, numa espécie de “cronologia nefasta”.
Em 2012 um ônibus transportava funcionários de uma das fazendas de Irajá, em Gurupi (TO), em 28 de abril, quando o condutor não respeitou a preferência da via e bateu em cheio na traseira de uma moto, que levava piloto e um passageiro na garupa.
Irajá foi condenado, em primeira e em segunda instância, a indenizar as famílias em R$ 50 mil cada e a pagar pensão de dois salários mínimos a cada filho dos homens que faleceram, até que eles atingissem os 18 anos, mas recorreu até o STJ e apontou que as vítimas tinham culpa pelo acidente, segundo consta no processo. O STJ manteve a condenação e, desde 2013, ele paga pensões às crianças.
Esse processo teve vários desdobramentos e terminou com o advogado das vítimas acusando o Irajá de fazer um acordo “por fora” com as famílias, às quais pagou 150 mil reais.
Hoje senador, Irajá, desde 2013, quando exercia o primeiro mandato como deputado federal, gasta parte da cota parlamentar com empresas investigadas pela Polícia Federal.
Em 2013, quando exercia o primeiro mandato como deputado federal, Irajá foi flagrado gastando recursos públicos com empresas investigadas pela Polícia Federal. Em 7 anos, Irajá desembolsou quase meio milhão de reais com a Prime Solution, a Copiadora Exata e a WR Gráfica e Editora, todas empresas de Tocantins investigadas na Operação Replicantes, deflagrada em novembro de 2019, por supostos crimes de peculato, fraudes em licitações, desvio de recursos e lavagem de dinheiro, durante a gestão do ex-governador Marcelo Miranda (MDB). O esquema teria custado R$ 54 milhões aos cofres públicos entre 2015 e 2017.
A Prime Solution, para qual o senador pagou R$ 110 mil desde que assumiu a cadeira no Senado Federal, tem como sócio-administrador Clésio Antunys Pereira Mendonça, indiciado pela PF por ser laranja no esquema criminoso.
As investigações, no entanto, apontaram que tanto a Prime quanto a Exata e a WR fazem parte de um mesmo grupo, chamado de Exata, pertencente ao empresário Franklin Douglas Alves Lemes, preso em novembro de 2019.
Em 2018, quando era deputado federal, Irajá Filho foi apontado como o parlamentar “campeão em desmatamento” na Câmara dos Deputados. A denúncia partiu do site Repórter Brasil, a partir de dados do Ruralômetro, painel que monitora a atuação de deputados em temas ambientais e rurais.
De acordo com a página, em 2010, Irajá chegou a ser autuado pelo Ibama por ter desmatado uma área equivalente a 75 campos de futebol para dar espaço para a monocultura do eucalipto. O local abriga vegetação de preservação permanente, o que lhe rendeu uma multa no valor de R$ 120 mil.
Segundo a mesma reportagem, ele teria recebido, em 2014, R$ 361 mil em doações de campanha vindas de empresas desmatadoras ou que já haviam sido multadas por infrações ambientais. Na época, Irajá Filho afirmou ao portal que “todas as doações foram realizadas dentro da lei, devidamente declaradas e aprovadas pelo TRE-TO”.
Em 2019 O senador Irajá Abreu (PSD) foi condenado pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 50 mil por danos morais coletivos, devido irregularidades com funcionários que trabalharam no plantio de eucalipto em duas fazendas dele no Tocantins. O parlamentar ainda pode recorrer da decisão.
Veículo oficial do senador em acadêmia de ginastica no DF
A decisão apontou que o parlamentar teria usado uma empresa, na qual era sócio, para contratar os trabalhadores para as próprias fazendas. As propriedades rurais ficam em Ponte Alta e Aliança do Tocantins. As irregularidades supostamente ocorreram em 2016. Durante fiscalização, os auditores do Ministério Público do Trabalho verificaram que os trabalhadores estavam em condições ruins de segurança e saúde, além disso, estariam expostos a riscos de acidente devido à falta de manutenção em instalações elétricas.
Ainda em 2019, o carro oficial do Senado cedido a Irajá Abreu foi flagrado três vezes no estacionamento de uma luxuosa academia no Setor de Clubes Sul, em Brasília. Em março de 2020, o senador foi com o veículo para um show da banda Maroon 5, no estádio Mané Garrincha.
Em 2022 carro oficial cedido a Irajá Abreu, voltou a ser usado para fins particulares, numa atividade não relacionada ao exercício do mandato. O veículo com a placa 041 foi visto – e fotografado – estacionado por volta de 20h50 no shopping Casa Park, em Brasília, no sábado (26/2) de Carnaval.
O senador Irajá Silvestre Filho (PSD-TO), foi alvo de uma denúncia de estupro na madrugada do dia 23 de novembro de 2020, em São Paulo. Uma modelo de 22 anos registrou boletim de ocorrência (B.O.) contra ele no 14º Distrito Policial da capital paulista, em Pinheiros. O caso foi arquivado. (imagem SBT)
Todas essas situações, comprometedoras para um político, foram noticiadas pela imprensa nacional e, sempre, destacando – negativamente – o Tocantins, Estado pelo qual Irajá chegou à vida política.
A CALMA DO COSTUME
Por isso não é de se estranhar a calma e a tranquilidade com que Irajá Abreu se manifestou após a nova investigação aberta contra ele. Apesar da coleção de processos, investigações e ações, muitos em segredo de Justiça, o senador do PSD continua sua vida pública tranquilamente, com foro privilegiado e com todos os seus bens à sua disposição.
Triste, mesmo, é para o povo do Tocantins ver o nome do Estado, de novo, associado a atos não republicanos.
Mais triste ainda é saber que no meio de tanta gente boa, ainda tem quem vote em político que só “joga contra”.
Oremos!