O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), articula a formação de um bloco partidário com União Brasil, PSB e PDT, legendas que integram a base do governo, além do PP, que hoje se declara independente do Palácio do Planalto. Caso seja sacramentado, o grupo vai abrigar 173 deputados, tonando-se o maior da Casa, e isolar o PL, agremiação do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliada histórica do PP.
Com O Globo
O movimento de Lira se dá para fazer frente a um outro bloco partidário, recém-formado por MDB, PSD, Republicanos e Podemos, que conta com 142 parlamentares, o mais numeroso do momento. Nesse aliança, 70% dos deputados são apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com o líder do grupo, deputado Fábio Macedo (Podemos-MA).
Se o presidente da Câmara conseguir unir PP, PDT, União e PSB nas mesmas fileiras, os dois maiores blocos da Casa serão formados, majoritariamente, por governistas, o que beneficia o Palácio do Planalto. Passados quatro meses de gestão, Lula ainda não conseguiu arregimentar uma base sólida no Congresso. Juntos, os partidos que negociam a aliança proposta por Lira controlam sete ministérios.
O líder do PSB, Felipe Carreras (PE), correligionário do vice-presidente, Geraldo Alckmin, afirma que o governo só tem a ganhar com as movimentações recentes na Casa.
– É bom para o governo. Tem o PSB, um partido super da base do governo, tem vice-presidente e ministros, somos aliados de primeira hora. Tem o PDT, que é do nosso campo. Tem o União Brasil que é um partido que foi muito importante, tem dois ministros de Estado – avaliou o líder do PSB na Câmara, Felipe Carreras (PE). – Tem o MDB, já indo para outro lado (outro bloco), que é um aliado importante, que está junto com Republicanos e PSD – completou.
A formação de blocos é determinante para os partidos ocuparem os postos de destaque na Congresso. Quanto maior a aliança, mais capacidade de barganha ela tem para assumir relatorias de projetos importantes. Além disso, garante musculatura nas negociações com o Planalto.
PL isolado
Ao passo que as articulações beneficiam o governo, esvaziam a direita, pois dividem em três o Centrão, o grupo formado por PP, PL e Republicanos, que dava sustentação à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na configuração que se desenha, PP e Republicanos se aliaram a legendas fieis a Lula e isolaram o PL, sigla do ex-presidente.
Ainda assim, o líder do PL, Altineu Cortes (RJ), diz que o partido não cogita aderir à base de Lula. O deputado afirma que a aliança com o PP vai ruir, caso a legenda integre o bloco negociado por Arthur Lira.
– Se o PP decidir ficar na oposição ao governo, possivelmente poderia fazer um bloco com a gente. Não tem (chance de ir para o bloco articulado por Lira) porque o PSB e o PDT são governistas e nós somos oposição – disse Altineu Cortes.
A decisão de formar o bloco ainda não está sacramentada e um acordo só deve ser fechado na semana que vem, quando os líderes partidários vão debater o assunto
Impasses na esquerda
O segundo maior partido da Câmara, atrás do PL, o PT tende a não participar de nenhum dos blocos. Já o PDT ainda não formou consenso sobre a possibilidade de se unir a PP, União e PSB. Há uma negociação paralela dos pedetistas para formar um bloco apenas com Solidariedade e PSB. O martelo ainda não foi batido.
O líder do Solidariedade na Câmara, Áureo Ribeiro (RJ), disse que é mais interessante para seu partido ficar em um bloco amplo com o PP. Apesar disso, ele reconhece que há dificuldades em atrair o PDT.
– É discussão de espaço, como é que vai conduzir o bloco. Tem entendimento do rodízio de liderança, estamos conversando, declarou.
O deputado André Figueiredo, líder do PDT na Câmara e presidente interino do partido, adotou outro tom e disse que não há acordo ainda para o bloco com o PP.
– Não tem nada conversado, muito menos resolvido. Conversamos na próxima semana – disse.
Apesar disso, há integrantes do PDT que buscam o entendimento com Lira.
– Se quisermos ter um mínimo de protagonismo na Câmara teremos que fazer bloco. Foi cogitado um com PSB e Solidariedade. Como não andou ainda… – afirmou o deputado Mário Heringer (PDT-MG).