Sem conseguir fechar alianças nas fileiras da centro-direita, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conta agora com o apoio do deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade, para atrair os "desgarrados" da terceira via. Em articulações de bastidores, Paulinho da Força, como é conhecido, tenta levar políticos e eleitores do PSD de Gilberto Kassab e também do União Brasil para a campanha do PT ao Palácio do Planalto.
Com Estadão Conteúdo
O Solidariedade é, até hoje, o único partido de centro na coligação nacional que sustenta a candidatura do PT e reúne também o PSB, PCdoB, PV, Rede e PSOL. Agora, as negociações têm sido feitas com o objetivo de garantir que partidos da chamada terceira via liberem seus diretórios estaduais e abram palanques para Lula, impedindo o avanço do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Eu venho fazendo esse papel. Estou tentando ampliar a aliança nos Estados com personalidades da política. Em Minas, por exemplo, tenho conversado com a turma do Romeu Zema e, na Bahia, com o ACM Neto", disse Paulinho da Força. A estratégia, no caso, é para construir os movimentos "Lulema", em Minas, e "Luneto", na Bahia.
O governador Romeu Zema tentará a reeleição pelo Novo, com apoio do Solidariedade, e ACM Neto é pré-candidato do União Brasil ao governo da Bahia. Antes da ofensiva para atrair eleitores de Zema, o PT começou a negociar o apoio do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que vai disputar o governo de Minas. Até agora, porém, há impasse nas tratativas com Kalil por causa de divergências em relação à vaga para o Senado.
Dividido entre a adesão a Lula e a Bolsonaro, o PSD - comandado por Kassab - não terá candidato próprio ao Planalto e deve liberar os diretórios para que apoiem quem bem entenderem. Kassab chegou a convidar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) e também o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung para que se candidatassem ao Planalto, mas não obteve sucesso na empreitada.
Desembarque
O União Brasil, por sua vez, desembarcou do grupo da terceira via, que tem enfrentado dificuldades para lançar chapa única à sucessão de Bolsonaro. Até agora, por exemplo, não há acordo entre o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB). Após desistir desse casamento, o União Brasil anunciou como pré-candidato seu presidente nacional, o deputado Luciano Bivar (PE).
Como mostrou o Estadão, o Planalto ameaçou tirar cargos do partido, caso fosse selada a aliança do partido com o MDB, PSDB e Cidadania. A ideia é levar uma parte do União Brasil - que tem quase R$ 1 bilhão de recursos dos fundos eleitoral e partidário, além do maior tempo de TV na campanha - para apoiar o projeto de reeleição de Bolsonaro.
Ainda assim, Paulinho da Força tem procurado nomes conhecidos do PSD e do União Brasil, que possam garantir a liberação de bancadas. No PSD, por exemplo, ele mantém conversas com o senador Omar Aziz (AM), que foi presidente da CPI da Covid, e com o deputado Marcelo Ramos (AM). Vice-presidente da Câmara, Ramos chegou a comparecer ao ato que selou a aliança entre o Solidariedade e o PT, no último dia 3.
Em meados de abril, a relação entre o presidente do Solidariedade e o PT chegou a ficar estremecida. O deputado demonstrou descontentamento com vaias que recebeu em um encontro de Lula com sindicalistas. Na ocasião, ele questionou se a disposição do petista em construir uma aliança ampla para derrotar Bolsonaro era para valer. O atrito foi contornado numa reunião organizada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
De qualquer forma, assim como o ex-governador Geraldo Alckmin - que se filiou ao PSB após 33 anos nas fileiras tucanas e foi escolhido vice na chapa de Lula -, o nome de Paulinho da Força está longe de ser consenso entre militantes do PT. Um dos motivos citados para a desconfiança é o de que, em 2016, os dois defenderam o impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
No lançamento da chapa com Alckmin no dia 7, o ex-presidente fez acenos a forças políticas de centro. "Mais do que um ato político, essa é uma conclamação. Aos homens e às mulheres de todas as gerações, todas as classes, religiões, raças e regiões do País. Para reconquistar a democracia e recuperar a soberania", afirmou o petista.
Aliados do ex-presidente admitiram, nos bastidores, que a aliança atual é considerada insuficiente e há a necessidade de se aglutinar mais forças políticas ao centro para se formar, de fato, uma frente ampla.