Nem só as fake news poderão atrapalhar a vida do eleitor. Propagandas reais, mas “feitas sob encomenda” entram no páreo
Por Edson Rodrigues
O eleitor pode ter certeza que cada candidato com uma estrutura mínima de campanha vai se utilizar de todas as ferramentas tecnológicas para levar a sua mensagem – seja ela verdadeira ou não – a cada um que lhe interesse.
Os maqueteiros modernos usam ferramentas eletrônicas que os eleitores nem desconfiam e se valem dessas vantagens para ludibriar a mente do eleitorado, de acordo com as necessidades do candidato.
As eleições de outubro serão as primeiras em que essas ferramentas eletrônicas estarão em uso com autorização e regulamentação da Justiça Eleitoral. Ou seja, todas são legais, mas, nem todas, morais.
Se por um lado as fake news funcionarão como uma máquina destruidora de futuros políticos e carreiras promissoras, ouso de outras ferramentas pode colocar na cabeça do eleitor exatamente o que ele quer ouvir – mesmo que essas promessas não sejam verdades, induzindo os cidadãos a votar em um candidato que, a princípio, não seria o de sua preferência.
ESCLARECIMENTO
Este artigo não se trata de uma denúncia, mas de um fato que precisa ser esclarecido aos cidadãos tocantinenses.
Os candidatos, mesmo aqueles com passagens pela seara judicial, com processos, indiciamentos, com dívidas com a Justiça, até aqueles que já são réus e os condenados, estarão se utilizando dessas ferramentas para, a todo custo, tentar ludibriar seus alvos, que são os eleitores, com informações e declarações que passarão a quilômetros de distância de suas fichas policiais, em um espaço em que podem “conversar” com os eleitores, longe dos olhos da mídia, da imprensa.
O papel da imprensa é questionar, esclarecer e levar a conhecimento público a vida pregressa de cada candidato, alertando os eleitores sobre quem está pedindo seu voto.
Com esses novos instrumentos, o candidato elimina a presença incômoda da imprensa e tenta manter um diálogo em que se apresenta como o mais puro, o mais ímpio dos políticos.
Estamos falando das redes sociais, como o Facebook e o Whatsapp.
No Facebook, por exemplo, o candidato pode mostrar apenas o que fez de bom – uma emenda parlamentar para um município qualquer, por exemplo – e divulgá-la apenas para os usuários dessa rede social que tenham idade para votar, ou seja, direcionar a mensagem a quem lhe interessa. E, para fazer isso, ele paga por ela.
Essa ferramenta se chama impulsionamento de publicação e, ao comprá-la, o candidato pode selecionar desde a idade de quem vai recebê-la, até a localidade, passando por sexo, condição social e preferências ideológicas. Ou seja, é o “tiro direto no alvo”, evitado que o eleitor possa fazer sua escolha de acordo com sua própria consciência e influenciando no seu julgamento.
O Paralelo 13 estará, a partir de agora, fazendo um monitoramento dessas postagens, assim que identificar o uso dessas ferramentas para ta finalidade. Não conseguiremos, claro, apurar e ter acesso a 100% dessas postagens, mas prometemos o máximo de dedicação para que você, nosso leitor, tenha a liberdade que lhe é de direito para formular, da melhor e mais imparcial maneira possível, o seu voto.
Veja o que disse ao site UOL um dos maiores estudiosos em direito eleitoral do Brasil:
Manipulação do eleitor ocorre mesmo sem fake news, diz advogado eleitoral
Com a crescente importância da internet na campanha eleitoral, a preocupação contra tentativas de manipular o eleitorado tem se voltado para as chamadas fake news, ou notícias falsas. Mas outro risco considerável de influência sobre os eleitores vem de uma inovação permitida nestas eleições, a de que os candidatos possam pagar pelo impulsionamento de publicações nas redes sociais, dirigindo dessa forma a propaganda eleitoral a um público específico.
A afirmação é do advogado eleitoral Fernando Neisser, coordenador adjunto da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político). "Mas de fato não é essencial, para que exista manipulação, que o conteúdo seja falso. Posso construir uma mensagem com um tipo de tendência, que faça seduzir o eleitorado abaixo do seu nível de consciência. Nossa lei não proíbe isso e daí o alerta que a sociedade tem que se proteger", diz Neisser.
O especialista em direito eleitoral concedeu entrevista nesta terça-feira (24) ao site UOL .
Esta será a primeira eleição com a possibilidade de os candidatos investirem dinheiro na campanha pelas redes sociais. O impulsionamento de publicações, possível, por exemplo, no Facebook, serve para que determinada publicação seja vista por um número maior de usuários. A ferramenta também permite direcionar a publicação para um público de perfil pré-determinado.
Segundo Neisser, o risco está na possibilidade de que os candidatos consigam construir propagandas específicas ao gosto de cada segmento do público, ao invés de dirigirem as mesmas mensagens de campanha a toda a sociedade, o que iria conferir um poder maior aos instrumentos de marketing político.
O advogado também alerta que os usuários que repassam notícias falsas em suas redes sociais podem ser responsabilizados por crime eleitoral. "É preciso entender, nós somos responsáveis por aquilo que compartilhamos", diz.
Neisser faz um alerta de que nessa eleição a sociedade esteja atenta ao receber conteúdo sobre candidatos, tanto contra como a favor, e sempre busque checar se aquela informação foi divulgada por mais de uma fonte confiável.
Preocupação com Whatsapp
Segundo Neisser, o WhatsApp é o meio que mais preocupa quanto aos riscos de propagação de informações com o intuito de tentar manipular os eleitores. Isso porque, diferentemente de outras redes, como Facebook e Instagram, no Whastapp as mensagens não ficam numa espécie de mural público, que pode ser consultado pelas autoridades.
Caso o cidadão encontre algo que julga ser uma notícia falsa ou tentativa de manipulação do eleitor, a sugestão do advogado é denunciar às autoridades eleitorais. "Há uma serie de canais de denúncia que podem ser encaminhadas pela própria internet", ele afirma.