Escolhido relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) é visto como inimigo no Palácio do Planalto. Segundo interlocutores do governo, o presidente Jair Bolsonaro acredita que o parlamentar, que voltou aos holofotes em grande estilo, quer “foder” o governo.
Por Vicente Nunes
Quando a confirmação do nome de Calheiros para relatar a CPI chegou ao Planalto, o clima azedou de vez. O governo vinha trabalhando pesado nos bastidores para fazer tanto o relator quanto o presidente da CPI da Covid, como forma de ter controle das investigações e blindar Bolsonaro. Mas o governo teve de engolir a derrota.
A presidência da Comissão ficará com o senador Omar Aziz (PSD-AM), considerado independente pelo Planalto, mas que pode ser seduzido pela liberação de verbas de emendas parlamentares e pela distribuição de cargos na administração federal. Aziz quer ser candidato a governador do Amazonas.
Bolsonaro nas mãos da República das Alagoas
O problema maior do governo com Renan Calheiros é que Bolsonaro não pode se aproximar demais dele, na tentativa de atraí-lo para seu lado, porque isso causará uma ciumeira enorme no presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O senador e o deputado são inimigos políticos e brigam pelo controle de Alagoas.
Lira, como se sabe, é vingativo. E está sentado sobre mais de 100 pedidos de impeachment de Bolsonaro. Mais: o presidente da Câmara está travando um grande embate com o ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno do Orçamento de 2021.
Ele exige que o governo mantenha intactas as emendas parlamentares constantes no Orçamento, que teriam sido negociadas com Guedes. O ministro da Economia, porém, nega o acordo com Lira e pediu a Bolsonaro que vete parte do Orçamento, sobretudo, no que se refere às emendas parlamentares.
Ou seja, Bolsonaro está nas mãos da República das Alagoas. E isso lhe custará muito caro, admitem integrantes do Palácio do Planalto.