A aprovação da PEC dos Pioneiros na Câmara Federal chegou trazendo muitas alegrias aos tocantinenses que foram contemplados com o ato do então governo Siqueira Campos que, em reconhecimento aos bravos tocantinenses que encamparam a luta inicial de Teotônio Segurado, em cobrar pelo descaso com o então Norte Goiano, iniciando um movimento separatista que resultou na criação do Estado do Tocantins, concedeu uma justa vantagem de 30 pontos no primeiro concurso público realizado pelo já consagrado Estado do Tocantins
Leia um parecer do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no fim dessa matéria
Por Edson Rodrigues
A questão é governos posteriores, motivados por desavenças políticas com a União do Tocantins, grupo político liderado por Siqueira Campos, cassaram a vantagem de 30 pontos dos servidores aprovados no concurso e todos foram demitidos, exonerados de suas funções públicas do dia para a noite, transformando a questão em um imbróglio político que vinha durando décadas.
A LUZ NO FIM DO TÚNEL
Ex-governador Siqueira campos
No ano de 2010, em uma ação impetrada pela própria União do Tocantins, o senador eleito, Marcelo Miranda, do MDB, é impedido de assumir, via Justiça eleitoral. Em seu lugar assume o portuense Vicentinho Alves, quarto colocado na corrida pelo Senado, que consegue aprovação em plenário da convalidação do reconhecimento dos direitos dos servidores públicos demitidos. Para ser Lei constitucional, o projeto de Vicentinho precisa ser aprovado pela Câmara dos deputados.
Vicentinho terminou seu mandato de senador sem ter a aprovação, mas conseguiu eleger seu filho, Vicentinho Jr., deputado federal. Vicentinho Jr. assume a responsabilidade de apadrinhar a causa e, após três anos de muita luta, conseguiu, na semana passada, a aprovação do projeto, por 422 votos a 28, que passou a ser Lei Constitucional.
Para conseguir essa vitória, o deputado federal Vicentinho Jr. contou com o apoio decisivo do senador Eduardo Gomes que, como líder do governo federal no Congresso Nacional, articulou com as lideranças de partidos e com a mesa-diretora da Câmara, que tem Arthur Lira como presidente, para colocar o projeto de Lei dos Pioneiros tocantinenses em pauta.
O OUTRO LADO DA MOEDA
Mas, todo bônus traz um ônus. Nesta última sexta-feira , os secretários de Estado da Fazenda, de Planejamento, da Casa Civil, de Comunicação e o presidente do Igeprev, estiveram reunidos para calcular o impacto da aprovação da PEC dos Pioneiros nas finanças do Estado.
Dentre os principais impactos, os participantes da reunião elencaram a diminuição dos repasses mensais para os demais poderes, cortes nas despesas gerais, corte de pessoal, interrupção de obras, no pagamento de progressões e promoções de servidores, enfim, a aprovação da PEC dos Pioneiros não foi uma boa notícia para as finanças do Tocantins.
O Estado trabalhava com uma previsão de gastos, dentro do orçamento anual, que terá que ser reduzido significativamente para que possa continuar enquadrado na Lei de Responsabilidade Fiscal, e não correr o risco de cometer crime semelhante ao que levou a ex-presidente Dilma Rousseff a sofrer um impeachment.
Com as recontratações, muitas demissões terão que ser feitas para que o Tocantins se mantenha enquadrado á Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como todos os concursos públicos e seus editais se tornarão nulos, com as taxas pagas pelos inscritos serão devolvidas. Os certames do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da Educação serão cancelados, assim como progressões e promoções.
As obras programadas para esta gestão serão todas interrompidas, todas as licitações serão interrompidas, assim como os investimentos em infraestrutura e ações sociais.
TRABALHO JOGADO FORA
Durante a coletiva, após a reunião, os representantes da gestão atual expuseram que, quando chegaram ao governo, após a cassação de Marcelo Miranda, encontraram os cofres estaduais vazios, folhas de pagamento do funcionalismo público três meses atrasadas, obrigações com o Igeprev com dois anos de atraso, fornecedores e prestadores de serviço, alguns, com mais de um ano de atraso em seus pagamentos, a Saúde Pública estava em estado de greve, com as farmácias dos hospitais com estoque zero, falta de insumos hospitalares e de profissionais para atuar na Saúde, assim como déficit no número de ambulâncias, sem contar a frota estadual totalmente sucateada.
As estradas estaduais em péssimas condições, empréstimos junto à instituições financeiras nacionais e internacionais em atraso, com um verdadeiro caos nas finanças estaduais, que configuravam uma quase insolvência.
Após anos de muito trabalho, muitos ajustes e muita luta, segundo os representantes do governo, o Estado se encontra, hoje, na “categoria B” de capacidade de endividamento, o que significa que precisa, apenas, do aval do governo federal para contrair empréstimos e financiamentos, mas pode realizar operações dando como garantia seus próprios recursos em caixa, incluindo os repasses do FPE e da receita própria do estado, como ocorreu com o empréstimo de 150 milhões de reais conseguido junto ao Banco Regional de Brasília.
Apesar disso, caso a aprovação da PEC seja mantida, dificilmente o Tocantins conseguirá manter o ritmo atual de investimentos e obras.
NEM TUDO ESTAR PERDIDO PARA O GOVERNO DO ESTADO
Baseado em um parecer, emitido por unanimidade pelos membros do Conselho Nacional de Justiça, o Ministro do STF, Luiz Fux, encaminhou para a Mesa-Diretora da Câmara Federal uma recomendação pela rejeição do Projeto de Lei, por ser considerado inconstitucional, antes que seja promulgado e publicado no Diário Oficial da União. Ainda assim, o governo do Estado deve entrar com uma ADIN, junto ao próprio Supremo Tribunal Federal, alegando a inconstitucionalidade da PEC dos Pioneiros.
É claro que a PEC dos Pioneiros, além de um direito, é importante para os servidores aprovados em concurso dentro dos seus parâmetros, da mesma forma que são claros os efeitos devastadores que terá em relação ás finanças do Estado, justamente em um momento de readequação econômica.
Só nos resta aguardar que um consenso seja articulado para uma solução que seja boa para os dois lados, afinal, a anulação das vantagens dos pioneiros atingiu muita gente, mas a retomada imediata e intempestiva desses direitos prejudicará muito mais pessoas.
Há de haver um meio termo.
Oremos!