“Se o povo quiser votar no candidato da esquerda, o povo que decide. Mas a responsabilidade passar ser de todos nós”, pontuou.
POR DANIEL CARVALHO
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira (23) que está a procura de um partido que possa controlar e afirmou que o PP é uma possibilidade de filiação. A sigla é comandada pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), líder do centrão convidado para assumir a Casa Civil, principal ministério do Palácio do Planalto.
"Tentei e estou tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido. Está difícil, quase impossível", afirmou Bolsonaro em uma entrevista à Rádio Grande FM, de Mato Grosso do Sul, transmitida também por uma das redes sociais do presidente.
"Então, o PP passa a ser uma possibilidade de filiação nossa."
Bolsonaro se aproximou ainda mais do centrão em um momento de extrema fragilidade, quando se vê ameaçado por mais de cem pedidos de impeachment e pelo avanço da CPI da Covid sobre supostos casos de corrupção envolvendo o governo.
Além disso, o presidente e seu governo vêm assistindo a uma escalada de impopularidade. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje seu principal adversário, ampliou vantagem nas intenções de voto para 2022 e cravou 58% a 31% no 2º turno, segundo pesquisa mais recente do Datafolha.
Para levar Ciro Nogueira para o governo, Bolsonaro teve que deslocar o general Luiz Eduardo Ramos para a Secretaria-Geral, e o atual titular da pasta, Onyx Lorenzoni, para o Ministério do Trabalho e da Previdência, que será recriado a partir de um esvaziamento do Ministério da Economia.
Na entrevista, Bolsonaro disse que a medida provisória que cria a nova pasta, permitindo o rearranjo na Esplanada dos Ministérios, já está pronta, mas só deve ser publicada após sua conversa presencial com Ciro Nogueira, o que está previsto para segunda-feira (26). Inicialmente, a expectativa era que o texto fosse publicado nesta sexta.
"Obviamente a medida provisória está pronta, mas só vou mandar para publicação depois que falar com ele [Ciro Nogueira]", afirmou.
Hoje o governo Bolsonaro tem 22 ministérios, 7 a mais do que os 15 prometidos na campanha eleitoral de 2018 sob a gestão de Michel Temer (MDB), seu antecessor, eram 29 pastas. A administração atual chegou a ter 23, mas o Banco Central perdeu este status com a aprovação de sua autonomia.
Um dos objetivos da troca é organizar a base do governo e dar mais visibilidade a ações de Bolsonaro que serão tomadas daqui em diante, como a reformulação do Bolsa Família, considerada peça-chave para a campanha à reeleição em 2022.
Antes de ficar fragilizado e se ver obrigado a se unir ao grupo de partidos que têm como uma das principais características o fisiologismo, Bolsonaro e aliados recriminavam o centrão e a prática do toma lá, dá cá.
"Qual é a nossa proposta? É indicar as pessoas certas para os ministérios certos. Por isso, nós não integramos o centrão, tpouco estamos na esquerda de sempre", disse o candidato Bolsonaro, em propaganda política antes de assumir a Presidência.
"Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão", cantou na campanha de 2018 o hoje ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno.
Para atender o centrão, o governo faz promessas de liberação de bilhões em emendas parlamentares e agora prepara até a recriação de ministérios, contrariando outro discurso da campanha, o do enxugamento da máquina pública.
Na sexta entrevista concedida apenas nesta semana, numa nova estratégia de comunicação para tentar se recuperar nas pesquisas, Bolsonaro também defendeu o nome de seu advogado-geral da União, André Mendonça, como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Mendonça, o "terrivelmente evangélico" de Bolsonaro, vem enfrentando resistência no Senado, Casa que precisa sabatiná-lo e aprovar sua indicação para que ele possa ingressar na corte.
"Da minha parte, sempre tem um critério técnico. O André Mendonça preenche em tudo no tocante ao conhecimento da questão jurídica no Brasil", disse Bolsonaro.
"Agora, eu queria somar a isso a questão de ser evangélico. Falei, antes até da campanha, na pré-campanha, que eu indicaria um terrivelmente evangélico para o Supremo. Eu não estou misturando política, justiça e religião, mas acredito eu, como sou cristão, que o perfil adequado neste momento seria este, além de eu cumprir um compromisso de campanha", afirmou o presidente.
Antes de conceder a entrevista, Bolsonaro conversou com apoiadores. O registro de um canal de internet bolsonarista que tem acesso ao "cercadinho" de apoiadores no Palácio da Alvorada só publicou no início da tarde uma versão editada do vídeo com a interação. A entrada da imprensa profissional não é autorizada.
Nas imagens, Bolsonaro aparece reclamando de críticas que recebe de seus próprios eleitores. "Qualquer coisa que acontece tem um pessoal nosso que dá pancada em mim. Querem dar pancada? Tá bom. Quem é teu candidato para 2022? Não tem? Então cala a boca, pô", disse o presidente.
Bolsonaro também voltou a defender o voto impresso, embora tenha dito que "na comissão [especial da Câmara, que analisa a proposta], não passa".
Em tom de ameaça, o presidente disse que a população não permitirá que aconteça o que houve em outros países. No entanto, ele não explicou ao que exatamente se referia.
"O nosso exército, que são vocês, a gente não vai aceitar acontecer o que ocorreu em outros países. Porque depois, para retornar, pessoal...", disse Bolsonaro.
"O que a gente quer é jogar dentro das quatro linhas da Constituição e queremos eleições limpas. Eleições que não sejam limpas não são eleições", afirmou o presidente.