Suposto hacker tentou se passar por Paulo Guedes e conversou Glenn Greenwald

Posted On Terça, 24 Setembro 2019 15:21
Avalie este item
(0 votos)
 Walter Delgatti Neto, o 'Vermelho', apontado como "líder" dos supostos hackers presos na Operação Spoofing Walter Delgatti Neto, o 'Vermelho', apontado como "líder" dos supostos hackers presos na Operação Spoofing

Para PF, há provas de que outras pessoas também atuaram na invasão do Telegram de autoridades; Walter Delgatti está preso desde 23 de julho

 

Por Agência O Globo

 

A Polícia Federal obteve provas de que o suposto hacker Walter Delgatti Neto - preso na primeira fase da Spoofing, em 23 de julho - tentou se passar pelo ministro da Economia Paulo Guedes e pela líder do PSL na Câmara, deputada Joice Hasselmann (SP) após o invadir o Telegram deles, mantendo conversas com interlocutores como se fosse essas autoridades públicas.

 

As novas evidências foram usadas para deflagrar a segunda fase da Operação Spoofing, na semana passada, e também apontam para a participação de mais duas pessoas nas invasões do Telegram de autoridades públicas, fato que era negado pelo suposto hacker até então.

 

O próprio Walter Delgatti fez fotos de seis conversas mantidas por ele em nome de Guedes, principalmente com jornalistas, e enviou para sua lista de contatos. O material foi encontrado pela PF nos aparelhos eletrônicos apreendidos com ele, que já havia admitido ter feito essa invasão.

 

Em relação a Joice, Delgatti se passou por ela e tentou enviar uma notícia para o colunista do GLOBO Lauro Jardim por meio do Telegram. A falsa nota apontava que participantes de uma reunião no Palácio do Planalto haviam sugerido a demissão coletiva dos procuradores da Lava Jato. Segundo a PF, Jardim desconfiou da notícia e tentou telefonar para o Telegram da deputada, que não atendeu. Com isso, diz a PF, os supostos hackers ficaram assustados e acharam ter sido descobertos.

 

A PF identificou indícios de que os dois novos personagens presos na segunda fase da Operação Spoofing , deflagrada na semana passada, Luiz Molição e Thiago Eliezer, também participaram das invasões do Telegram de autoridades públicas em conjunto com Delgatti. O juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do DF, autorizou os bloqueios de bens e a quebra de sigilo bancário de Eliezer e Molição, medidas solicitadas pelo delegado Luís Flávio Zampronha na investigação.

 

De acordo com documentos da nova fase da investigação, a PF aponta que Molição e Eliezer também guardavam cópia dos diálogos gravados do Telegram do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava- ato em Curitiba. Esses diálogos, segundo os investigadores, foram a base para as reportagens do site The Intercept Brasil sobre as conversas da Lava Jato.

 

Para a PF, as novas evidências apontam que Delgatti estava mentindo quando disse que agiu sozinho no caso. Os novos indícios surgiram após a análise dos aparelhos eletrônicos apreendidos com o suposto hacker.

"Após a análise dos arquivos armazenados nos dispositivos telemáticos apreendidos com Walter Neto, foi possível perceber o envolvimento de ao menos outras 2 (duas) pessoas nos fatos investigados: i) Luiz Henrique Molição, que teria atuado diretamente nas invasão de dispositivos informáticos alheios, bem como na interceptação e divulgação de comunicações realizadas pelas vítimas através do aplicativo Telegram; e ii) Thiago Eliezer Martins Santos, que atuaria no desenvolvimento de técnicas voltadas à invasão de redes de computadores e comunicação e teria conhecimento ou participaria dos crimes cibernéticos praticados por Walter Delgatti Neto", afirma a PF na representação.

 

Para os investigadores, são as primeiras provas contundentes de que outros personagens também participaram das invasões . Os outros que estão presos com o grupo - Danilo Marques, Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Oliveira - são investigados por manterem relações com Delgatti e por suposta participação em fraudes bancárias, mas não tiveram identificada nenhuma relação direta com as invasões do Telegram das autoridades públicas.

 

Sobre Eliezer, a PF também suspeita que ele pode ser o braço financeiro por trás do grupo. Investigadores identificaram movimentações financeiras suspeitas na conta de uma pessoa que seria ligada a Eliezer. Os investigadores tentam descobrir se o grupo recebeu pagamentos pelas invasões do Telegram .

 

A defesa de Thiago Eliezer nega as acusações e diz que ele não teve participação nas invasões e nos fatos investigados. A defesa de Molição não foi localizada para comentar.

"Greenwald falou com Luiz Molição, preso pela PF por invasão de celulares, diz revista

O jornalista do The Intercept, Glenn Greenwald, manteve conversa com Luiz Molição, o sexto preso do grupo de hackers suspeito de invadir celulares de autoridades, na segunda fase da operação Spoofing. Os diálogos obtidos com exclusividade pela Crusoé, no computador de Walter Delgatti Neto, o Vermelho, revelam que ele não agiu sozinho – o que desmente a versão apresentada à Polícia Federal. De acordo com a revista, Greenwald também tratou sobre a estratégia de publicação dos diálogos vazados entre membros da operação Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro. No trecho, Molição chega a dizer a Greenwald que está “saindo muita notícia sobre isso” e, na sequência, afirma que “eles estão fazendo um jogo para tentar desmoralizar o que está acontecendo”.

 

 Conversa

A Polícia Federal acredita ter encontrado uma conversa que aponta para o envolvimento do hacker Luiz Henrique Molição com o vazamento de mensagens publicadas pelo site The Intercept. Para os investigadores, um áudio encontrado em seu celular mostra uma suposta conversa com o jornalista Glenn Greenwald – que não é tido como investigado. Molição foi preso na quinta-feira, 19, na segunda fase da Operação Spoofing.

 

“Chegamos à conclusão de que eles estão fazendo um jogo para tentar desmoralizar o que tá acontecendo”, afirmou o hacker, em um curto diálogo. “Então, é… a gente… eu estava discutindo com o grupo… eu queria falar com você um assunto”.

 

“Analisando o perfil de instagram “@luiz.molicao” foi identificado um vídeo no stories no qual seria possível ouvir a voz de Luiz Molição, que segundo a equipe policial, aparenta ter semelhança com a voz do interlocutor do jornalista Glenn Greenwald na gravação de áudio acima mencionada”, diz a PF, na representação pela prisão de Molição.

 

Segundo os investigadores, a conversa teria ocorrido no dia 7 de junho, e Molição faz referência ao “grupo que pegou o Telegram de várias pessoas”.