- Tocantins - 35 anos de trajetória, com conquistas, algumas mazelas e histórias paralelas. É por isso que a luta continua na busca do Tocantins que merecemos

Posted On Quinta, 05 Outubro 2023 05:47
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Tocantins completa 35 anos hoje, em 5 de outubro de 2023. Nessa travessia no tempo, a mais nova Unidade Federativa do Brasil, mesmo tropeçando, caindo e se levantando, vitimado pelo caminhar, às vezes trôpego, desenhado por alguns descompromissados com a ética na política e com o desrespeito para com a coisa pública, se consolidou como Estado. Um Estado que segue soberano numa trajetória traçada por sua gente, calejada de luta e esperançosa em um futuro que foi almejado por idealistas que, ao longo de séculos, bradaram forte em defesa do sonho libertário do povo do norte goiano, preso aos grilhões do abandono e da pobreza.

 

 

Por Edivaldo Rodrigues e Edson Rodrigues

 

 

        Esse Tocantins que sonhamos e desejamos precisa ser redescoberto. É por isso que se faz necessário aflorar a indignação nas praças, nos palácios, nas catedrais, nas ruas e nas escolas, e nesses espaços bradar pela reedição dos compêndios, reescrevendo a história do Tocantins, que celebra nesta data três décadas e meia de sua criação. Por todo esse período prevaleceram os fatos oficiais, enquanto se negou cotidianamente um processo de luta que atravessou o tempo, manejado por centenas de homens e mulheres, que se abstiveram do acalanto e do aconchego familiar para fazer tremular a bandeira da liberdade, símbolo do idealismo da gente tocantina, armada de esperança e da vontade de conquistar a cidadania plena.

 

       Somos hoje um Estado em franco desenvolvimento, originado da parte pobre e abandonada pela elite e pelos governantes de Goiás. Nessa caminhada obstaculosa, a união de forças que resultou na efetivação dessa realidade não pode ser personificada. Ela é a convergência dos anseios de muitos canoeiros, obreiros, religiosos, estudantes, profissionais liberais, entidades não governamentais, instituições filantrópicas e o povo, esse povo que se lançou na sua mais ousada manifestação de autonomia, uma luta que atravessou os séculos.

 

       A luta pela criação do Tocantins foi desestimulada inúmeras vezes pelos ocupantes dos palácios em Brasília e desmerecida em forma de resistência por alguns mandatários poderosos de Goiás. Esses fatos fortaleceram ainda mais a jornada de um povo ávido por exercer seus direitos, praticar sua cultura, seus costumes e suas tradições. Os verdadeiros líderes desse processo libertário não se vergaram nem se moldaram aos interesses de alguns poucos, defensores aguerridos de interesses primordialmente patrimonialistas.

 

       Não celebraríamos o Tocantins de hoje sem as batalhas de ontem, oportunidade em que ideias e argumentações fluíam em longos debates nas trincheiras intelectualizadas da ATI - Associação Tocantinense de Imprensa. Foi dali que o brado convicto de liberdade ganhou o território nacional, através dos escritos e impressos de João Matos Quinard, Fabricio Cesar Freire e Oswaldo Ayres, que na companhia de outros tantos, jovens ainda, fortaleciam os alicerces democráticos da CONORTE, como José Carlos Leitão,Goianyr Barbosa, TotoCavalcante, Jales Marinho, Célio Costa, Aldo Azevedo, Fernando Storni, Santos Ninha, Edimar Gomes, Zéza Maia, entre muitos outros. Nessa caminhada histórica, embalavam o berço para acalantar a espera secular de um Estado em gestação.

 

       Da mesma forma, centenas de estudantes da parte abandonada de Goiás, asilados na capital goiana, agiam assim. Ali, distantes de suas famílias, com os corações despedaçados pela saudade e os espíritos de guerreiros dilacerados pela dor da revolta, buscavam um futuro promissor garantido pelas principais universidades do sul rico, negadas ao norte pobre. Entre o final da década de 1970 e a segunda metade da década de 1980, esse grupo se organizou através da AJUT – Associação da Juventude Tocantinense, entidade que deu voz a essa coletividade, liderada pelo então estudante de Engenharia Civil Otoniel Andrade.

 

       Foi dessa união de forças estudantis, mobilizadas em plenárias realizadas na Assembleia Legislativa de Goiás, no Auditório do Centro Administrativo e na Casa do Estudante Universitário, que Goiânia conheceu a determinação da gente tocantina. Isso foi expressado em inúmeros manifestos, faixas e cartazes espalhados pelas principais ruas e avenidas da cidade, reivindicando diuturnamente, durante quase uma década, a criação do Estado do Tocantins.

 

       No entanto, a luta dessa parcela significativa de jovens, hoje homens e mulheres que se tornaram renomados profissionais a serviço da mais nova Unidade Federativa do Brasil, foi e continua sendo desconhecida pela história oficial, que insiste em marginalizar aqueles que se dedicaram completamente e verdadeiramente a essa conquista. O Jornal O Paralelo 13, que nasceu naquele período como fruto dessa efervescência libertária, não se calou no passado histórico, não vai se calar no presente e nem no futuro que almejamos.

 

       Do mesmo modo, qual é o sentido lógico de manter ocultas, à margem da história, as personalidades que deram a mais expressiva contribuição para a criação e a consolidação do Estado do Tocantins? A quem interessa os fatos relatados por aqueles que detêm o poder? Certamente não a nós, do Jornal O Paralelo 13. Temos a convicção de que o Tocantins perderia muito, diante de seu povo como sociedade organizada, sem a coragem do Juiz Feliciano Braga Machado, que na Comarca de Porto Nacional, entre os anos de 1956 e 1961, assinava suas sentenças com a rebelde frase: “Comarca de Porto Nacional – Estado do Tocantins”, desafiando o Tribunal de Justiça de Goiás em nome de uma causa que lhe custou a carreira de magistrado.

 

       É certo que essas histórias paralelas, que glorificam alguns poucos e diminuem social e culturalmente aqueles que tentam liderar pelos bastidores, são prejudiciais. Não sabemos se por desinformação ou por interesses exclusos, mas muitos historiadores, professores e até mesmo jornalistas relutam em mencionar que foi o então senador Benedito Ferreira, em 1985, quem elaborou um Projeto de Lei versando sobre a criação do Tocantins, que foi aprovado pelo Congresso Nacional e em seguida vetado pelo presidente José Sarney.

 

       O fato mais simbólico disso tudo é que esse mesmo Projeto de Lei foi resgatado pela Assembleia Nacional Constituinte, com a liderança do então deputado federal José Wilson Siqueira Campos, e juntado às Emendas Populares, articuladas por entidades de grande representatividade junto ao povo tocantinense,  como a CONORTE, a Associação dos Municípios do Extremo Norte, a Associação dos Município do Vale do Araguaia, e o Comitê Pró-Criação do Tocantins, que por serem compostas por lideranças que pensavam e agiam em defesa dos princípios éticos e desenvolvimentistas como base de sustentação do novo Estado, foram também marginalizadas no processo de implantação do Tocantins.

 

       O Tocantins, que hoje celebra 35 anos de sua criação, mesmo tendo enfrentado desafios e sido manchado por alguns poucos governantes corruptos, nos enche de orgulho e aquece nossos corações, pois sabemos que a jornada foi marcada por dificuldades. Destacando os momentos em que esses representantes desonraram nossa bandeira, um símbolo que tremulou com orgulho quando o estado foi criado.

 

       Não nos abalam os afastamentos, processos e prisões de governadores, a aposentadoria compulsória de juízes e desembargadores, nem as investigações intermináveis envolvendo congressistas, deputados, prefeitos, vereadores e auxiliares governamentais. Continuamos firmes, mantendo nossa soberania e cidadania, preparados para continuar buscando o Tocantins que merecemos.

 

       Nossa história é repleta de desafios superados e conquistas notáveis. O Tocantins nasceu em uma região que muitos consideravam problemática, mas hoje é um estado com vastas potencialidades. Com seus 277 mil quilômetros quadrados e uma natureza exuberante, produzimos riquezas em profusão. Nossa logística bem distribuída permite que nossa diversificada produção alcance os principais centros consumidores do país.

 

       Milhões de toneladas de soja, milho, sorgo, arroz, abacaxi, minério, peixe, carne bovina, suína e de frango são exportadas através da Ferrovia Norte Sul e de mais de 7 mil quilômetros de rodovias estaduais e federais. Essas mercadorias chegam aos Estados Unidos, Europa e Ásia, gerando riqueza, renda e empregos para nossa população, solidificando cada vez mais nossa cidadania.

 

       Nossa balança comercial impressiona com números positivos, com um aumento de 67% nas exportações e 44% nas importações em apenas um ano. Nosso PIB mais que dobrou nos últimos 10 anos, saindo de 16 bilhões de reais para 46 bilhões de reais, um aumento de 166%. Possuímos o maior rebanho de gado de corte do Brasil, com 10 milhões e 800 mil cabeças. Além disso, milhões de hectares de terras agricultáveis produzem 6,5 milhões de toneladas de grãos por safra. A produção mineral cresceu 342%, faturando cerca de 84 milhões de reais, sendo que a industrialização do calcário ocupa o quarto lugar, e a do fosfato está em segundo lugar no país.

 

       Mas não é só isso. Da terra que foi considerada mazela pela elite sulista de Goiás, nasceu um respeitado polo educacional. A realidade do passado, que obrigava crianças e adolescentes a deixarem suas casas e migrarem para o sul do país em busca de educação, mudou. Hoje, o Tocantins é um centro de ensino superior de qualidade, com universidades e campus em todas as regiões do estado. Isso possibilita que milhares de profissionais se formem anualmente e ocupem seus postos de trabalho em diversas áreas, impulsionando nosso estado em direção ao futuro.

 

       Portanto, o Tocantins que celebramos hoje, com 35 anos de existência, é um testemunho de resiliência e determinação. Apesar das adversidades e dos momentos em que alguns de nossos representantes nos envergonharam, continuamos firmes em nossa busca por um Tocantins que verdadeiramente merecemos.

 

 

Última modificação em Quinta, 05 Outubro 2023 09:08