As próximas 72 horas serão cruciais para o futuro do ministro da Justiça e da Lava Jato. Infelizmente, o que será decisivo não será onde está a verdade e, sim a opinião pública
Por Edson Rodrigues
Comecemos pela premissa de que a Justiça não aceita como provas documentos ou evidências obtidos ilegalmente. As gravações apresentadas pelo site The Intercept, em que há supostas ações ilícitas do ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro e o procurador da República no Paraná Deltan Dallagnol encaixam-se nessa situação. Ou seja, para um julgamento, não valem nada.
Mas, é verdade que esses diálogos deixaram uma nuvem negra de dúvida pairando sobre as reputações de Moro e Dallagnol, logo os dois mais comemorados juristas dos tempos de limpeza ética e depuração da política, responsáveis, entre outras coisas, pela prisão dos ex-presidentes Lula e Michel Temer, pela prisão do ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, do ex-governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, entre outros políticos e pela repatriação de milhões e milhões de reais desviados pela máfia da corrupção política para paraísos fiscais.
Os próximos diálogos a serem revelados pelo jornalista britânico Glenn Greenwald, dono do site The Intercept, que ficou conhecido mundialmente pela divulgação de arquivos hackeados do governo americano no caso conhecido como “Wikileakes”, e que ele diz que são muitos, serão cruciais para que se possa mensurar a diferença entre o fato e a sua consequência.
Se, de fato, Moro e Dallagnol agiram fora da ética, duas coisas são certas: a carreira política – a jurídica ele já havia abandonado para ser ministro de Bolsonaro – de Sérgio Moro vai ter durado apenas seis meses e Dalton Dallagnol será alvo de um inquérito interno do Ministério Público e, possivelmente, destituído do seu cargo de procurador da República.
Agora, se as gravações não revelarem nenhuma afronta à ética jurídica, as consequências da revelação das gravações vão colocar em risco a economia do País, a credibilidade da imprensa e a carreira jornalística de Greenwald.
FATOS JURÍDICOS
- Todas as condenações oriundas da Operação Lava Jato foram conduzidas por Sérgio Moro apenas na primeira instância. Os acusados recorreram até as mais altas cortes e foram condenados, também por elas. Estariam os membros das mais altas cortes envolvidos em um plano diabólico para condenar os “pobres” políticos e conspirando para trazer Bolsonaro ao poder?
- Até agora, nos áudios revelados, não há nada que indique conduta desonesta ou antiética de Moro de Dallagnol, pois trechos pinçados aqui e ali, sem contextualização, não podem ser interpretados da forma correta.
- A Justiça reconheceu que o sítio de Atibaia não era de Lula e permitiu ao seu alegado dono, Fernando Bittar, a venda do imóvel.
- Já o tríplex do Guarujá, Lula era tão dono que a OAS foi condenada a devolver a ele os valores pagos pelo imóvel.
FATOS A SEREM APURADOS
- O Hacker Tal Prihar foi preso no último dia seis de maio, em Paris, França, na operação conjunta da Polícia Federal e do FBI (o Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos) para combater crimes praticados nas redes. Ele atuava de Brasília, onde “alugava” a casa de José Dirceu, o ex-todo-poderoso dos governos do PT, preso pela Lava Jato por Corrupção.
David Miranda (esquerda) é casado com o jornalista americano Glenn Greenwald e tem dois filhos adotados
- Há uma semana atrás, descobriu-se que o celular do ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi hackeado, tendo todo o seu conteúdo copiado pelo autor do ataque cibernético.
- Menos de seis dias depois da descoberta do hackeamento do celular do Ministro, o site The Interceptor, do jornalista Glenn Greenwald, inicia a divulgação exclusiva dos áudios de Moro e Dallagnol.
- Greenwald fez sua fama de jornalista investigativo publicando, também com exclusividade, arquivos hackeados do governo americano.
- O companheiro de Greenwald, David Miranda, é deputado federal pelo PSOL, partido do ex-deputado federal – que abandonou o cargo – Jean Wyllis. Greenwald e Miranda são acusados de crimes contra a segurança pública do Reino Unido.
REPERCUSSÃO
Ante tantos fatos e tantas variáveis e possibilidades, não nos cabe, aqui, fazer julgamentos sobre a atuação de Moro, de Dallagnol, de Greenwald nem de Miranda. Mas, voltamos a afirmar, que as próximas 72 horas serão cruciais para a vida futura dessas quatro pessoas citadas acima.
A repercussão levou a reações e depoimentos que conferem a real gravidade dos fatos.
Membros do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) apresentaram um pedido para que o órgão investigue as conversas entre o procurador Deltan Dallagnol e o ministro e ex-juiz, Sergio Moro, e se houve violação dos princípios do juiz e do promotor natural, da equidistância das partes e da vedação de atuação político-partidária.
O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, e relativizou as mensagens trocadas por ele com procuradores da operação Lava-Jato , divulgadas pelo site "The Intercept Brasil" . Questionado se as revelações sobre o ex-juiz federal colocam em xeque a isenção de Moro para continuar no cargo e desenvolver seu trabalho, Mourão disse que responderia "de uma forma muito simples: “conversa privada é conversa privada, né? E, descontextualizada, ela traz qualquer número de ilações. Então o ministro Moro é um cara da mais ilibada confiança do presidente, é uma pessoa que, dentro do país, tem um respeito de enorme da população, haja vistas aí as pesquisas de opinião que dão a popularidade dele”, declarou o vice-presidente.
O Conselho Federal da OAB, composto por conselheiros de cada unidade de federação, se reuniu hoje para analisar o caso das mensagens vazadas de Sergio Moro e da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. No entendimento da OAB, o afastamento dos envolvidos é necessário "especialmente para que as investigações corram sem qualquer suspeita".
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno , também divulgou uma mensagem de defesa de Moro , na qual diz que a integridade e devoção à pátria do ex-juiz federal "estão acima de qualquer suspeita" .
Moro e Dallagnol negam irregularidades e denunciam invasão ilegal de suas comunicações.
Mas, no fim, será a opinião pública, a voz do povo, que vai decidir se os áudios divulgados pelo The Interceptor são um “tsunami” ou apenas um “traque”.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos!!