As defesas deles questionam a quem cabe a competência da investigação em curso
Por Lara Tôrres
O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, e aliados próximos decidiram ficar em silêncio durante depoimentos à Polícia Federal sobre o caso da venda irregular de joias sauditas nos Estados Unidos . Apesar disso, a defesa do ex-mandatário e entregará a íntegra de uma conversa em áudio entre seu advogado, assessor e ex-ministro, Fábio Wajngarten, e seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. A informação é do Blog da Andréia Sadi.
Silêncio
Bolsonaro não é o único a depor à PF nesta quinta-feira (31). A corporação convocou, para depoimentos simultâneos, a esposa do ex-presidente, Michelle Bolsonaro; Mauro Cid, ex-ajudante de ordens; Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid; Fábio Wajngarten, advogado, assessor e e-ministro de Bolsonaro; Frederick Wasseff, também advogado de Bolsonaro; o segundo-tenente Osmar Crivelatti; e Marcelo Câmara, que também é militar.
Dentre eles, as defesas do próprio Bolsonaro, Michelle, Marcelo Câmara e de Wajngarten divulgaram notas às 11h40 explicando que o motivo do silêncio de seus clientes é um questionamento sobre o fato de o inquérito tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF), não na primeira instância da Justiça Federal.
Os advogados se baseiam no fato de a Procuradoria-Geral da República (PGR) ter defendido a tramitação do caso na 6ª Vara Federal de Guarulhos (SP), onde é apurada a denúncia sobre as joias dadas pela Arábia Saudita e retidas no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
"Assim, considerando o respeito às garantias processuais, a observância ao princípio do juiz natural, corolário imediato do devido processo legal, os peticionários optam, a partir deste momento, por não prestar depoimento ou fornecer declarações adicionais até que estejam diante de um juiz natural competente", dizem Paulo Amador Bueno e Daniel Tesser, que defendem Jair Bolsonaro e Michelle.
Eduardo Kuntz, no documento de defesa de Marcelo Câmara, alegou que o Peticionário destaca que está inteiramente à disposição para prestar os esclarecimentos adicionais, desde que o faça perante autoridade com atribuição para tanto, como já o fez anteriormente neste mesmo procedimento".
O mesmo advogado afirma, em outro ofício relacionado à defesa de Wajngarten, que “o Peticionário permanece inteiramente à disposição para prestar eventuais esclarecimentos, desde que sejam observadas as regras intransponíveis do devido processo legal, ampla defesa, de competência de suas prerrogativas profissionais como advogado e, ainda, respeitado o seu domicílio, que é na Capital Paulista".
Depoimento 'perigoso'
Nem todos, porém, resolveram se calar nas oitivas. Tanto Mauro Cid quanto seu pai teriam respondido aos questionamentos da PF. Os diversos depoimentos deles causam grande preocupação no entorno bolsonarista, que não tem ideia do que o ex-ajudante de ordens pode estar contando em sua versão dos fatos aos investigadores.
Conversas
A conversa se deu no mês de maio, em meio a uma discussão sobre a operação para recomprar o relógio vendido irregularmente nos Estados Unidos, para devolvê-lo ao TCU.
No áudio em questão, Mauro Cid teria dito a Wajngarten que "nem sabia que você estava nesse circuito [de resgate do Rolex saudita]”, e que “se não fosse Fábio [Wajngarten] nessa guerra toda aí, o negócio estaria muito mais enrolado".