Os primeiros movimentos em prol da transferência do pleito para 2022, com a consequente prorrogação dos mandatos dos atuais prefeitos e vereadores, foram coordenados pelo presidente do Progressistas, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), como revelou a última edição de VEJA
Por Laryssa Borges
Diante da pandemia do novo coronavírus, os principais partidos políticos que formam o chamado Centrão se reuniram, por videoconferência, e decidiram que a partir de abril devem reforçar a discussão dentro do Congresso Nacional em prol do adiamento das eleições municipais de outubro. Os primeiros movimentos em prol da transferência do pleito para 2022, com a consequente prorrogação dos mandatos dos atuais prefeitos e vereadores, foram coordenados pelo presidente do Progressistas, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), como revelou a última edição de VEJA. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida pelo parlamentar a VEJA.
O Centrão é o grande articulador para adiar as eleições de outubro? Os partidos do Centro fizeram uma reunião por videoconferência e os presidentes dos partidos criaram um consenso de adiar essa discussão sobre as eleições. Decidimos esperar até o final do mês de abril para ver se voltamos ou não à discussão sobre as eleições, a depender de como a situação [do coronavírus] esteja.
Se não houver eleições, o senhor considera que os mandatos devem ser prorrogados? Não marcamos uma data específica para a discussão dos partidos de Centro sobre as eleições, mas acredito que até o final de abril vamos ter uma luz de como vai estar essa pandemia, se vai ter condição ou não de ter as eleições. Se houver condições de termos eleições em outubro, ótimo, mas se não houver condições, defendo que tenha o adiamento até 2022, com prorrogação de mandatos. Não vejo sentido fazer uma eleição no próximo ano, por exemplo. Ou este ano ou em 2022, mas é uma discussão que vamos retomar só no final de abril.
Ministros do STF e TSE são contra prorrogação de mandatos. É uma discussão que a gente vai ter no final, mas se não tiver condições de fazer eleição, como fica? Temos que ver a realidade. Ninguém estaria discutindo isso se não tivesse essa calamidade. Temos que nos adaptar a ela. Não quero me antecipar [às partes contrárias] porque fiz o compromisso de não discutir isso agora e esperar até o final de abril.
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Ao protagonizar as discussões sobre o adiamento das eleições, o senhor não tem interesse direto na causa porque tem pelo menos 200 prefeitos aliados e o Progressistas elegeu quase 500 em 2016? Todo mundo tem prefeito aliado. E tem prefeito adversário também. A discussão, acredito, não é essa. Pode beneficiar o lugar onde você tem o prefeito, mas pode beneficiar também o lugar onde você não tem o prefeito. Não é assim não. Não vejo [a discussão sobre adiar as eleições] sob esse aspecto [de o PP ter muitos prefeitos].
É recorrente políticos defenderem a unificação das eleições. Se antes era para supostamente baratear as eleições, agora é por causa do coronavírus. Não estaríamos discutindo isso se não houvesse essa situação [de pandemia]. Acho que não podemos discutir isso por oportunismo. Se houver condições de fazer as eleições este ano, serão feitas. A discussão é se vai ou não ter condições.
Ministros do TSE afirmam que as convenções partidárias podem ser feitas online, que as campanhas também poderiam ser pensadas mais para internet. O ministro [da Saúde Luiz Henrique] Mandetta disse que a crise vai ser prolongada, como vai ter uma eleição? Não vejo como fazer eleição com as pessoas em casa, com as pessoas sem poder circular. Podemos até ter um problema de saúde pública se as pessoas forem fazer campanha, se forem fazer reunião. É uma situação nova. Vamos aguardar até o final de abril para começar a pensar nisso.
VEJA revelou que o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) encomendou um parecer afirmando que a prorrogação dos mandatos é inconstitucional e que deveria haver mandatos-tampão, inclusive ocupados por juízes. Isso é uma possibilidade? Sempre tem parecer a favor e contra qualquer proposta. Mudar a data das eleições é uma decisão política do Congresso, que é soberano para isso. O ideal é termos as eleições em outubro deste ano, como está marcado. Se não tiver condições de fazer as eleições em outubro, vamos ter uma outra discussão. Defendo unificar as eleições em 2022. Adiar as eleições é o mínimo que podemos fazer em respeito aos eleitores.