Como o novo governo de Trump nos EUA pode impactar a economia brasileira

Posted On Quinta, 07 Novembro 2024 06:10
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Dólar pode manter valorização com novo governo americano Dólar pode manter valorização com novo governo americano

Segundo analistas, políticas propostas pelo republicano podem provocar efeito na valorização do dólar, na pressão inflacionária e na alta dos juros

 

 

Por Ana Vinhas

 

 

A vitória de Donald Trump, que conquistou o segundo mandato de presidente dos Estados Unidos nesta terça-feira (6), deve trazer mais desafios para a economia brasileira. Segundo analistas, as políticas propostas pelo republicano podem provocar um efeito na valorização do dólar, na pressão inflacionária e na alta dos juros.

 

“A vitória contundente de Donald Trump, acompanhada pelo fortalecimento significativo dos republicanos, reforça a percepção de um cenário marcado por políticas mais protecionistas e uma tendência de aumento da pressão inflacionária, o que pode resultar na elevação das taxas de juros nos Estados Unidos”, afirma Gesner Oliveira, sócio da GO Associados e professor da FGV.

 

Segundo ele, a expectativa é de que isso leve a um fortalecimento do dólar e, por consequência, a uma desvalorização das moedas de países emergentes, incluindo o real.

 

No Brasil, explica, essa conjuntura externa projeta uma pressão sobre a moeda local, elevando as expectativas de desvalorização do real e, por tabela, aumentando a pressão inflacionária. “Esse contexto reforça a necessidade de uma política fiscal mais rigorosa e cuidadosa com o equilíbrio das contas públicas, para controlar a inflação e evitar aumentos significativos nas taxas de juros”, acrescenta.

 

A moeda norte-americana registrou recuo de 1,82% em novembro, mas, no ano, acumula ganhos de 16,95%. Nesta semana, a expectativa do mercado é que o governo federal anuncie pacote de corte de gastos, para manter as contas públicas dentro do arcabouço fiscal.

 

No mesmo dia da vitória de Trump, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, anunciou aumento de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 10,75% para 11,25%. Os juros altos combatem a alta dos preços, mas dificultam o crédito, afetando a atividade econômica.

Investimentos

 

Para o professor Diogo Carneiro, da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), o desfecho da eleição norte-americana pode trazer diversas consequências para o Brasil, sendo algumas delas mais diretas e imediatas e outras mais indiretas e com desdobramentos de longo prazo.

 

O possível aumento na taxa de juros norte-americana também seria ruim para o Brasil, enquanto atrairia divisas internacionais para títulos do governo americano, contribuindo para minguar investimentos em outras partes do mundo, sobretudo mercados emergentes como o Brasil.

“Ou seja: do ponto de vista do investidor, é melhor deixar o dinheiro ‘emprestado’ para o governo norte-americano a uma taxa de juros alta do que investir no Brasil, que é considerado muito mais arriscado. Isso deve prejudicar investimentos no Brasil e tornar o dólar mais caro”, explica Carneiro.

 

Ele destaca ainda que a imposição de tarifas “lineares” de importação afetará as vendas do Brasil para os EUA, e isso deve ser particularmente ruim para as commodities (e os EUA são um importante mercado para o Brasil).

 

“Ainda que não haja expectativa de que um governo Trump adote medidas diretas contra o Brasil, as possíveis medidas adotadas devem prejudicar o país indiretamente. Isso deve ocorrer por meio de restrições nas importações norte-americanas, de efeitos na taxa de câmbio e também pelo arrefecimento do mercado internacional global, além do enfraquecimento de relações multilaterais”, acrescenta.

 

Pressão inflacionária

 

O entendimento de que vitória de Trump tende a fortalecer o dólar no longo prazo também é defendido por Fernando Moulin, partner da Sponsorb, professor e especialista em negócios e transformação digital.

 

“O câmbio deve aumentar, o que traz mais pressão inflacionária e também, por outro lado, faz com que o governo, economicamente, tenha que trabalhar mais forte seus fundamentos para poder evitar que o dinheiro, que vai para os mercados emergentes, fuja dos capitais, isso é importante para fechar as contas públicas”, afirma Moulin.

 

Ele diz que é possível imaginar, em termos de balanço de comércio exterior, não haver tanta mudança, uma vez que os Estados Unidos, historicamente, a despeito de republicanos ou democratas, tendem a ter uma agenda econômica ou comercial muito pragmática. Nesse sentido, o Brasil é um grande parceiro comercial de alguns produtos, sobretudo do agronegócio, avalia o analista.

 

“Vemos uma valorização do dólar contra moedas dos países emergentes, a valorização do bitcoin e das criptomoedas porque foram defendidas publicamente por Trump. Portanto, é um cenário com muito espaço para desdobramentos”, acrescenta.