Segundo auxiliares, medidas para controlar as despesas públicas só serão anunciadas quando o presidente estiver convenciado de que são necesssárias
Por Antonio Temóteo
A vitória de Donald Trump para presidir os Estados Unidos e a alta no preço do dólar, que é vendido no fim da manhã desta quarta-feira, 6, a R$ 5,781, aumentaram a pressão para o governo anunciar um corte de gastos, afirmaram à EXAME técnicos da equipe econômica e da ala política que acompanham as discussões.
Entretanto, as medidas para controlar as despesas públicas só serão anunciadas quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bater o martelo e estiver convenciado de que são necesssárias.
Segundo técnicos do governo, Lula já definiu que a política de reajuste real do salário mínimo e os gastos com educação não devem ser alvo de alteração na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que será encaminhada ao Congresso.
Para o presidente da República, esses dois temas são excessivamente sensíveis e bandeiras históricas da sua gestão. Com isso, blindar de mudanças a política de reajuste do mínimo e as despesas com educação seriam uma forma de diminuir eventuais efeitos negativos na própria popularidade.
Mudanças defendidas pela equipe econômica
No cardápio de medidas apresentado ao presidente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, há a previsão de desindexar o reajuste do piso salarial do valor das aposentadorias, dos demais benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais.
Haddad, inclusive, já afirmou publicamente que essa discussão precisa ser feita ao recomendar a leitura de um artigo do economista Bráulio Borges, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
No texto, Borges tratou trajetória das contas públicas e demonstrou as dificuldades do ajuste fiscal. Uma das propostas do economista era desindexar o valor do salário mínimo dos benefícios previdenciários.
O ministro da Fazenda e a ministra do Planejamento também defendem mudanças nas regras que definem mínimos constitucionais de saúde e educação, atrelados às receitas do governo. Lula, entretanto, já disse publicamente que é contra cortes na saúde e na educação. Para o petistas, essa despesa é um investimento e não deveria ser avaliada como um gasto passível de redução.
Lula teme perda de popularidade
Como mostrou a EXAME, Haddad e Tebet têm defendido nas conversas com o Lula que um corte de despesas significativo e bem comunicado ainda em 2024, e aprovado no primeiro semestre de 2025, terá impacto econômico significativo em 2026, com dividendos positivos em ano de eleição.
Lula tem resistido à ideia de alterar as regras para a concessão de benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais, com medo dos impactos eleitorais em 2026.
O cálculo de Lula é eminentemente político e considera, sobretudo, os impactos que uma mudança nas regras para concessão dos benefícios pode ter na popularidade e nos votos do chefe do Executivo no Norte e no Nordeste.
As duas regiões concentram parte significativa do eleitorado do petista e essas populações estão entre as maiores beneficiárias dos programas sociais e de amparo ao trabalhador.
Exagero do mercado tem refletido nos preços
A avaliação tanto da ala política quanto da ala econômica é a de que há um ceticismo exagerado do mercado em relação ao governo petista. Entretanto, os preços dos ativos, como o preço do dólar, a desancoragem da inflação e a taxa de juros elevada mostram a necessidade de uma resposta da equipe econômica, avaliam auxiliares de Haddad.
O envio de um pacote de medidas robusto e uma aprovação pelo Congresso em 2025 ajudariam na queda do preço do dólar, na redução das expectativas e na inflação corrente e contribuiriam para uma queda de juros, na opinião desses membros do governo.
Esse processo terminará em 2026, avaliam técnicos da equipe econômica, com crescimento sustentado em um arcabouço fiscal crível que atrairá investimentos para o país e garantirá retomada do selo de bom pagador pelas agências de classificação de risco.
Na ala política, entretanto, há preocupação com o timing de envio das propostas para o Congresso. Mesmo com o crescimento econômico de 3% e geração de empregos, a popularidade de Lula está em queda, segundo pesquisas internas.