O discurso do general da reserva, Paulo Chagas, divulgado e compartilhado em inúmeras redes sociais, representa o discurso de milhões de brasileiros. Paulo Chagas fala exatamente o que pensa uma sociedade sem voz, sem vez, pessoas que estão presas em suas casas, pessoas livres em uma sociedade que escraviza que usa o discurso da abolição, mas nunca assinaram a alforria do povo.
Por Edson Rodrigues
A escravidão não é apenas o trabalho não remunerado como na época dos impérios, a escravidão continua no século XXI, modernizada certamente, acompanhando os avanços da modernidade. Mudaram-se as formas, as nomenclaturas, mas ela continua impregnada no mundo.
É escravo aquele que precisa dos serviços da saúde pública, é escravo aquele que paga seus impostos corretamente, mas é obrigado a ver no noticiário sobre a falta de infraestrutura, de saúde, de segurança de uma sociedade. Aquele que ouve o discurso do representante do povo no qual diz: “estamos em crise, não há recursos”. O mesmo noticiário cita o nome do político envolvido em inúmeros esquemas de corrupção, enriquecimento ilícito, esquemas que beneficiam uma minoria, as custas de uma população inteira.
A tortura não para por aí, o desemprego aumenta e preocupa. Para o general, precisamos progredir intelectualmente. Crescer. Temos vivido a era das cavernas, com pensamentos retrógrados e atitudes inaceitáveis, a exemplo disso foi a postura do presidente do Senado, Renan Calheiros com o Supremo Tribunal Federal, a maior corte do País foi desrespeitada, afrontada, no qual um oficial, representante do Poder Judiciário foi simplesmente ignorado. O ofuscamento do judiciário representa o fim de um Estado, de uma sociedade com regras no qual devem valer para todos indistintamente.
As pessoas estão acordando, lentamente talvez, mas prova disso foram os manifestos em todo o País na época do presidente Fernando Collor, em 2013 quando as ruas ficaram lotadas. Este ano, em que estudantes ocuparam as universidades e instituições públicas.
Todas essas manifestações provam que a sociedade, não quer mais vínculo com políticos, eles passaram do reconhecimento e caíram no descrédito. Prova disso são os veículos particulares utilizados por eles, por medo da reação pública, porque (com algumas exceções), sabem do descrédito, que hoje a classe passa por uma situação vergonhosa.
Os protestos, os que já assistimos ou lemos nos livros de história, eles são apenas o começo do que virá. As operações que preocupam a muitos e aliviam a outros, é a prova de que o judiciário pode, deve e tem buscado ser independente, e apesar da demora, a lei se aplica a todos, e ninguém está acima dela.
Confira na íntegra o texto do general Paulo Chagas:
Liberdade para quê? Liberdade para quem?
Liberdade para roubar, matar, corromper, mentir, enganar, traficar e viciar?
Liberdade para ladrões, assassinos, corruptos e corruptores, para mentirosos, traficantes, viciados e hipócritas?
Falam de uma “noite” que durou 21 anos, enquanto fecham os olhos para a baderna, a roubalheira e o desmando que, à luz do dia, já dura 26!
Fala-se muito em liberdade!
Liberdade que se vê de dentro de casa, por detrás das grades de segurança, de dentro de carros blindados e dos vidros fumê!
Mas, afinal, o que se vê?
Vê-se tiroteios, incompetência, corrupção, quadrilhas e
quadrilheiros, guerra de gangues e traficantes, Polícia Pacificadora, Exército nos morros, negociação com bandidos, violência e muita hipocrisia.
Olhando mais adiante, enxergamos assaltos, estupros, pedófilos, professores desmoralizados, ameaçados e mortos, vemos “bullying”, conivência e mentiras, vemos crianças que matam, crianças drogadas, crianças famintas, crianças armadas, crianças arrastadas, crianças assassinadas.
Da janela dos apartamentos e nas telas das televisões vemos arrastões, bloqueios de ruas e estradas, terras invadidas, favelas atacadas, assaltos a mão armada.
Vivemos em uma terra sem lei, assistimos a massacres, chacinas e seqüestros. Uma terra em que a família não é valor, onde menores são explorados e violados por pais, parentes, amigos, patrícios e estrangeiros.
Mas, afinal, onde é que nós vivemos?
Vivemos no país da impunidade onde o crime compensa e o criminoso é conhecido, reconhecido, recompensado, indenizado e transformado em herói! Onde bandidos de todos os colarinhos fazem leis para si, organizam “mensalões” e vendem sentenças!
Nesta terra, a propriedade alheia, a qualquer hora e em qualquer lugar, é tomada de seus donos, os bancos são assaltados e os caixas explodidos. É aqui, na terra da “liberdade”, que encontramos a “cracolândia” e a “robauto”, “dominadas” e vigiadas pela polícia!
Vivemos no país da censura velada, do “microndas”, dos toques de recolher, da lei do silêncio e da convivência pacífica do contraventor com o homem da lei. País onde bandidos comandam o crime e a vida de dentro das prisões, onde fazendas são invadidas, lavouras destruídas e o gado dizimado, sem contar quando destroem pesquisas cientificas de anos, irrecuperáveis!
Mas, afinal, de quem é a liberdade que se vê?
Nossa, que somos prisioneiros do medo e reféns da impunidade ou da bandidagem organizada e institucionalizada que a controla?
Afinal, aqueles da escuridão eram “anos de chumbo” ou anos de paz?
E estes em que vivemos, são anos de liberdade ou de compensação do crime, do desmando e da desordem?
Quanta falsidade, quanta mentira, quanta canalhice ainda teremos que suportar, sentir e sofrer, até que a indignação nos traga de volta a vergonha, a autoestima e a própria dignidade?
Quando será que nós, homens e mulheres de bem, traremos de volta a nossa liberdade?
Paulo Chagas é General da Reserva do Exército do Brasil.