Por Edson Rodrigues
Os indígenas da etnia Krahô do Tocantins não participarão dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMI) que acontecerão em Palmas de 23 de outubro até 1º de novembro próximos. A informação foi confirmada por meio do ofício de n° 03/2015 encaminhado ao articulador dos JMI, Carlos Terena, informando a decisão da União dos Caciques Krahô.
Os caciques justificam que a organização do evento não respeita o povo indígena e ainda, que os organizadores estariam usando o nome e a imagem do povo indígena "para promover a sua própria imagem como gestores, que apoiam o nosso povo e a causa indígena, o que não é verdade", diz o ofício.
A União dos Caciques informa ainda que não há como participar de um evento promovido peo governo federal: "como podemos participar de um evento financiado por um governo que está promovendo o genocídio de nossos parentes GuaraniKaiowa no Mato Grosso do Sul, e em várias outras regiões do País", questionam.
A etnia não poupou críticas e afirmou não poder permitir que o povo indígena Krahô sirva de vitrine. "Nós não pintamos nossos corpos para sairmos bonitos na foto, pintamos para representar nossa história, nossas conquistas e tradições, portando, quem quiser fazer foto do povo Krahô, venha participar de nossos Jogos Tradicionais Krahô, desta forma, qualquer cidadão do mundo poderá conhecer melhor nossa cultura e nosso jeito", afirmam.
O documento da União dos Caciques Krahô exige que os organizadores do evento retirem as imagens o nome dos Krahô de qualquer meio de comunicação que sirva de promoção aos Jogos Mundiais Indígenas. O documento é assinado por 28 caciques da etnia.
UM SECRETÁRIO “EXTRAORDINÁRIO”
Não foi por falta de aviso. O Paralelo 13 já havia alertado seus leitores sobre as andanças do prefeito Carlos Amastha com o secretário extraordinário dos Jogos Indígenas, Hector Franco, por paragens que nada tinham a ver com o evento. Afinal, tem índio na Europa? Assim sendo, a bomba estourou agora, com o documento dos Krahô.
De onde saiu Hector Franco? Quais suas habilitações para organizar o evento em questão? Havia a necessidade de uma secretaria extraordinária para dar conta das obrigações?
A resposta está no próprio documento dos Krahô, onde diz que os organizadores dos Jogos Mundiais Indígenas não ouviram as comunidades que irão participar e que nem todos os indígenas do Estado do Tocantins foram convidados. "Foram convidados somente os Xerentes, Karajá,Javaé da Ilha do Bananal e os Krahô, deixando de foram outros indígenas do Estado que na nossa opinião deveriam todos participar como as anfitriãs dos jogos, que são os Karajá Xambioá, Apinajé e KrahôKanela", diz o documento, salientando que a equipe da secretaria extraordinária nunca foi nas comunidades esclarecer sobre os jogos, terminando afirmando que quem se beneficiará com os jogos será o comércio da Capital, enquanto que as comunidades indígenas servirão apenas de massa de manobra, de bonecos na vitrine, sem nenhuma melhoria efetiva na vida das aldeias.
Com a palavra o prefeito de Palmas e seu secretário “extraordinário”.
HORA DE MOSTRAR QUEM É CACIQUE, QUEM É ÍNDIO
Mas, nesta hora, é a vez, também de se mostrar quem é o verdadeiro cacique e quem são os índios. Estamos falando da Câmara Municipal de Palmas e seu presidente, Rogério Freitas que, ante essa manifestação dos Krahôs, devem se mobilizar pra mostrar que não estão de joelhos para o Executivo Municipal.
Uma comissão deve ser formada com vereadores de todos os partidos para apurar o porquê dessa falta de harmonia entre a secretaria extraordinária e os próprios personagens dos Jogos Indígenas. Os 40 milhões de verba federal e a contrapartida da prefeitura de Palmas foram gastos onde? Por qual motivo? Para qual objetivo?
Não só os vereadores, mas o Ministério Público Estadual e Federal, assim como o TCE devem atuar no caso. Fazer um levantamento dos preços pagos pelo material e pela estrutura do evento, assim como de todos os gastos a cargo da secretaria Extraordinária.
Ao contrário do ditado popular que diz que “há muito cacique para pouco índio”, os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, a se realizar em Palmas parece ter “muito índio para pouco cacique”.
Está na hora dos cacique mostrarem que merecem seus postos e agirem em nome daqueles que representam, ou seja, o povo palmense e tocantinense.
Ah, como eu gostaria de saber falar “quem viver, verá” em alguma língua indígena