Ex-parlamentar do PDT do Rio estava internado antes da corrida eleitoral de 2022
Por Agência O Globo
Morreu nesta terça-feira (9) o ex-deputado David Miranda (PDT-RJ). A informação foi confirmada pelo marido do político, jornalista Glenn Greenwald.
Miranda estava internado desde agosto na Clínica São Vicente, na Zona Sul do Rio, quando foi hospitalizado para tratar uma infecção gastrointestinal, e foi alvo de infecções sucessivas, em um quadro de septicemia.
Um mês após o diagnóstico, Miranda desistiu de disputar à reeleição para a Câmara dos Deputados. Segundo Greenwald, a decisão de desistir do pleito foi tomada em conjunto, entre amigos e parentes do parlamentar.
Em março, Greenwald, casado com Miranda, afirmou em um relato publicado em rede social que Miranda estava a maior parte do tempo acordado e conseguia conversar, apesar da traqueostomia que teve que fazer, mas ainda se mantinha ligado a uma máquina de ventilação mecânica.
Políticos lamentam
O presidente Lula (PT) lamentou a morte do político. "Meus sentimentos ao Glenn e familiares pela perda de David Miranda. Um jovem de trajetória extraordinária que partiu cedo demais", publicou o petista.
Políticos do PSOL, partido em que Miranda começou sua carreira política, e da esquerda, também repercutiram a morte, como o deputado federal Chico Alencar (RJ), o pastor Henrique Vieira, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) e a líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali. O ex-deputado Jean Wyllys também fez uma publicação no Twitter lamentando a morte.
O prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) afirmou que David Miranda era um deputado dedicado. O presidente do PDT Carlos Lupi, partido em que Miranda estava filiado desde o ano passado, ressaltando a "perda precoce" do político.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou em postagem que o pedetista "'tinha uma vivacidade que alegrava a política".
Prisão, luta por Snowden e pela causa LGBTQIA+
Criado pela tia, David Miranda morou na favela do Jacarezinho, até sair de casa, aos 15 anos. É órfão de mãe, desconhece o pai, tem quatro irmãos com quem perdeu o contato. Trabalhou como office boy, faxineiro, despachante e gerente de uma casa lotérica. Conheceu o jornalista Glenn Greenwald aos 19 anos, quando jogava futevôlei em frente à Rua Farme de Amoedo, em Ipanema. O americano viera ao Rio a turismo. Em uma semana, já estavam morando juntos.
O casal se mudou para os Estados Unidos em seguida, onde Miranda se formou jornalismo e se especializou em marketing.
Miranda se envolveu na campanha pelo asilo de Edward Snowden no Brasil, e trabalhou junto ao marido nas revelações sobre o o sistema de vigilância global da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês). Em agosto de 2013, durante a escala de um voo em Londres, na Inglaterra, Miranda chegou a ser detido pelo governo britânico por conta do trabalho junto a Glenn. Ele foi interrogado durante nove horas no Aeroporto de Heathrow sob a lei antiterrorismo do país. À época, as autoridades britânicas alegaram que o ex-político estava envolvido com “terrorismo” quando foi detido tentando transportar documentos de Edward Snowden, segundo a polícia e documentos de inteligência.
No ano seguinte, já no Rio de Janeiro, Miranda se filiou ao PSOL, e em 2016 foi o primeiro vereador assumidamente gay a assumir uma cadeira na Câmara carioca, com 7.012 votos. O político era da mesma sigla da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018.
Em 2019, com a desistência de Jean Wyllys à cadeira de deputado federal, Miranda assumiu o posto em Brasília. Wyllys deixou o cargo ainda no primeiro mês após a eleição, após relatar sofrer ameaças de morte e decidir sair do Brasil. Em entrevista ao GLOBO na época, Miranda prometeu continuar legislando a favor das mesmas causas de Wyllys, que era forte defensor dos direitos das pessoas LGBT:
Eu acredito em uma coincidência do destino. Se eles (os opositores de Wyllys) acham que vão acabar com um LGBT, outro de nós vai assumir. Vou estar lá por todos os nossos companheiros que são tombados. Acho que, de alguma maneira, a saída dele e a minha chegada estão completamente relacionadas por essa semelhança, afirmou o político.
Em 2019, David Miranda foi eleito pela revista americana Time como um dos dez líderes da próxima geração. À publicação, o estreante em Brasília declarou estar "tremendo" antes de subir na tribuna. "Aquele lugar não foi construído para pessoas como nós", declarou.