Justamente no momento em que O Paralelo 13 vem batendo na tecla de que o Brasil e o Tocantins estão carentes de grandes líderes políticos, recebemos a notícia da morte de Marco Maciel. Um dos poucos políticos da atualidade que podia afirmar que não tinha nenhuma mácula em toda a sua trajetória e com uma folha formidável de serviços prestados ao povo brasileiro.
Por Edson Rodrigues
Marco Maciel, ex-vice-presidente do Brasil, morreu, aos 80 anos, na madrugada deste sábado (12/6), em um hospital de Brasília. A morte foi em decorrência do mal de Alzheimer, doença que o acometia desde 2014. O pernambucano deixa esposa e três filhos.
O velório foi no Senado, no Salão Negro, e o sepultamento no Campo da Esperança.
Marco foi vice de Fernando Henrique Cardoso por dois mandatos e assumiu diversos cargos públicos em sua trajetória política, deputado estadual (1967-1971) e federal (1971-1979) por Pernambuco, presidente da Câmara dos deputados (1977-1979), governador de Pernambuco (1979-1982), ministro da educação (1985-1986) e da casa civil (1986-1987), senador (2003-2011) e finalmente vice presidente da república (1995-2003).
Marco Maciel discursa ao lado de Ulysses Guimarães, José Sarney e Tancredo Neves e Aureliano Chaves
Também foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 18 de dezembro de 2003, como oitavo ocupante da Cadeira nº 39, na sucessão de Roberto Marinho. Recebeu ainda títulos de Cidadão Honorário de 42 cidades brasileiras, a maioria delas em Pernambuco. A ele é atribuída a autoria de frases célebres como: “Tudo pode acontecer, inclusive nada”.
Marco Antônio de Oliveira Maciel nasceu em Recife no dia 21 de julho de 1940. Casado com a socióloga Anna Maria Ferreira Maciel, foi pai de três filhos e avô de quatro netos. Era formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também foi professor e advogado.
Iniciou sua carreira política em 1963 ao ser eleito presidente da União Metropolitana dos Estudantes de Pernambuco, enquanto cursava Direito na UFPE. Elegeu-se em 1966 deputado estadual em Pernambuco pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do governo militar.
Também pela Arena, foi deputado federal por dois mandatos, de 1971 a 1974 e de 1975 a 1978. Eleito presidente da Câmara dos Deputados em fevereiro de 1977, enfrentou em abril o fechamento provisório do Congresso pelo então presidente da República, Ernesto Geisel, sob o pretexto de implementar a reforma no Poder Judiciário proposta pelo governo, cujo encaminhamento vinha sendo obstruído pela oposição.
No final de 1978, foi eleito pela Assembleia Legislativa de Pernambuco para o cargo de governador do estado, após indicação do presidente Ernesto Geisel, corroborada pelo sucessor de Geisel, general João Batista Figueiredo. Seu mandato terminou em 1982 e, no ano seguinte, chegou ao Senado.
Na Posse com Fernando Henrique Cardoso
Em 1994, Marco Maciel foi indicado pelo PFL para substituir o senador alagoano Guilherme Palmeira como vice-presidente na chapa de Fernando Henrique Cardoso. A candidatura de Palmeira havia sido inviabilizada após denúncia de favorecimento de empreiteira por meio de emendas ao Orçamento da União. Maciel havia sido um dos primeiros líderes de seu partido a defender o apoio do PFL ao nome de Fernando Henrique.
Em 1º de janeiro de 1995, Maciel tomou posse como vice-presidente da República. Com bom trânsito no Congresso Nacional, foi designado por Fernando Henrique como articulador político do governo. Dessa forma, coube a Maciel coordenar as negociações em torno da aprovação das reformas constitucionais defendidas pelo novo governo, entre as quais se destacavam as reformas administrativa e fiscal voltada para o controle do deficit público, a reforma da Previdência Social, a quebra do monopólio estatal sobre o petróleo e as telecomunicações, a reforma administrativa e a extinção dos obstáculos à atuação de empresas estrangeiras no país.
Em 1º de janeiro de 2003, deixou a vice-presidência da República e, no mês seguinte, assumiu sua vaga no Senado por Pernambuco, eleito pelo PFL. Tendo apoiado o candidato José Serra (PSDB) nas eleições de 2002, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva, Maciel passou a fazer oposição ao novo governo. Ainda em 2007, filiou-se ao Democratas (DEM), sigla que sucedeu o PFL.
Em 2017, uma biografia do ex-vice-presidente da República revelou como o político conseguiu se movimentar em todos os campos ideológicos, rica em histórias dos bastidores do processo decisório da política brasileira.No livro, Castelo Branco conta toda a trajetória do deputado, e de como o político teve a carreira transformada de presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) até chegar ao cargo de vice-presidente do país. O Correio entrevistou o autor, saiba mais em: O labirinto de Carlos Maciel.
UM POLÍTICO EXEMPLAR
O exemplo que Marco Maciel deixa é o da convivência democrática, do ser humano que construía amizades e admirações improváveis, sempre pelo diálogo, inclusive durante o período negro da ditadura.
Fundador do PFL, foi apoiador de primeira hora da criação do Estado do Tocantins, tendo providenciado um encontro entre o ministro das Minas e Energia, o saudoso Aureliano Chaves, e o então líder do PFL na Câmara Federal, deputado Wolnei Siqueira, com uma comitiva de líderes do Norte Goiano, para assegurar o apoio da maioria dos deputados federais à causa tocantinense, inclusive usando da palavra no plenário para defender a criação do nosso Estado.
Maciel foi um ferrenho defensor do fortalecimento das bases educacionais brasileiras, sendo o responsável por muitas conquistas dessa área de extrema importância para o desenvolvimento do País.
Tivemos a honra de viajar por diversos estados brasileiros junto com Marco Maciel, um guerreiro da democracia, na ocasião da formação do PFL Jovem, do qual era “padrinho”.
Caixão do ex-vice-presidente Marco Maciel foi carregado por soldados dos Dragões da Independência
O brasil fica mais pobre com a partida desse homem que exerceu todos os cargos eletivos da República, faltando apenas uma eleição como presidente para coroar sua carreira – ele assumiu por diversas vezes a presidência, mas sempre na vacância do cargo, nos governos em que foi vice-presidente.
Marco Maciel deixou uma semente plantada no Tocantins, mais precisamente em Gurupi, como ministro da Educação, quando atendeu ao Comandante Jacinto Nunes, acompanhado de Wolnei Siqueira, que postulava a criação da Unirg, que, hoje, é uma realidade.
Tivemos o prazer de conhecer e conviver com esse baluarte da política brasileira, a quem sempre admiramos, principalmente depois que fixamos no gabinete do amigo e professor, Wolnei Siqueira.
O homem público, Marco Maciel, deixa como legado a certeza de, quanto mais alto for seu cargo, maior é a necessidade de andar sempre calçado com as “sandálias da humildade” e de respeitar a coisa pública.
Esteja com Deus, Guerreiro. E obrigado por tudo!