"Não vou esperar f. minha família", disse Bolsonaro em reunião com Moro

Posted On Sexta, 15 Mai 2020 06:40
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Transcrição de trecho de vídeo da reunião ministerial do último dia 22 consta em petição da Advocacia-Geral da União (AGU)

 

Por Sarah Teófilo

 

A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou uma petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) com trechos da transcrição do vídeo da reunião de 22 de abril entre o presidente Jair Bolsonaro e ministros. Conforme o documento, em um dos momentos, o presidente disse que não esperaria "f." a família dele ou amigos.

 

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar, se não puder trocar, troca o chefe dele, não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", disse Bolsonaro, segundo a transcrição.

 

O vídeo faz parte de inquérito do STF que apura as acusações do ex-ministro Sergio Moro contra o presidente da República de reiteradas tentativas de interferência política na PF. A fala em questão, segundo o documento, foi feita quando o presidente lembra que um veículo de comunicação noticiou que um irmão de Bolsonaro teria estado sem máscara em um açougue.

 

O Correio, por meio do Blog do Vicente, já havia publicado que Bolsonaro tinha usado o palavrão para se referir a uma atuação contra seus filhos e também tinha preocupação com amigos. Nesta quinta-feira, Bolsonaro comentou a reunião em sua tradicional live das quinta-feiras e mostrou mensagens de celular de Moro.

Argumentos de Bolsonaro

A petição feita pela AGU, responsável pela defesa do presidente da República, traz apenas dois trechos da reunião de quase duas horas, o que gerou protesto da defesa de Sergio Moro (leia abaixo). A petição é um pedido para que seja levantado o sigilo de todas as falas do presidente, exceto as que fazem referência a "eventuais e supostos comportamento de nações amigas" e "as manifestações dos demais participantes da reunião".

 

No documento, a advocacia pontua que, destacando trecho em que o presidente fala em "segurança nossa", que a segurança presidencial e de familiares é feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A AGU também ressalta que são apenas os dois trechos citados por eles que possuem relação com o inquérito.

 

Segundo AGU, em nenhum momento o presidente menciona direta ou indiretamente superintendente, diretor-geral ou Polícia Federal. Em um trecho, porém, é possível ver que Bolsonaro usou o termo "PF" ao menos uma vez na reunião — em um trecho selecionado pela AGU no qual o presidente reclama da falta de informações. "Eu não posso ser surpreendido por notícias, pô. Eu tenho a PF que não me dá informações; tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a Abin tem seus problemas, mas tem algumas informações...", disse.

 

Em seguida, acrescentou: "E me desculpe o serviço de informação nosso — todos — é uma vergonha, uma vergonha, eu não sou informado e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça. Não é extrapolação da minha parte. É uma verdade".

 

Nota divulgada pela defesa do ex-ministro Sergio Moro

 

"Sergio Moro e seus advogados foram surpreendidos com a petição da AGU, em favor do presidente da República, no inquérito junto ao STF. A transcrição parcial revela disparidade de armas, pois demonstra que a AGU tem acesso ao vídeo, enquanto a defesa de Sérgio Moro não tem. A petição contém transcrições literais de trechos das declarações do Presidente, mas com omissão do contexto e de trechos relevantes para a adequada compreensão do que ocorreu na reunião –inclusive, na parte da “segurança do RJ”, do trecho imediatamente precedente. De todo modo, mesmo o trecho literal, comparado com fatos posteriores, como a demissão do diretor-geral da PF, a troca do superintendente da PF e a exoneração do ministro da Justiça, confirma que as referências diziam respeito à PF e não ao GSI. A transcrição parcial busca apenas reforçar a tese da defesa do presidente, mas reforça a necessidade urgente de liberação do vídeo na íntegra."

 

Rodrigo Rios, advogado de Sergio Moro