O Pássaro, Raízes e Eu

Posted On Quinta, 05 Dezembro 2024 14:05
Avalie este item
(0 votos)

Todos os dias, faça chuva ou faça sol, o “galo de campina” — esse pássaro de beleza singular e exótica — vem ao meu encontro aqui na barraca raízes na praia do caju .

 

 É como se tivéssemos firmado um pacto silencioso, um elo que se fortaleceu com o tempo.

 

No começo, ele era desconfiado, talvez incerto sobre o que esperar desse contato inusitado entre mundos tão diferentes.

 

 Mas, aos poucos, foi se entregando, talvez pela fome que o conduzia ou pela curiosidade diante do inédito.

 

 

E assim, construímos uma amizade singela, quase poética.

 

Minhas manhãs na barraca raízes  da praia do Caju nunca mais foram as mesmas.

 

Observar seus movimentos, o balé do voo, as notas do seu canto, e a cumplicidade com sua companheira é como desvendar um mistério cotidiano.

 

Enquanto isso, Joaquim frita os ovos e faz o café que já exala o cheiro gostoso, Doguinho, Jerry e Luke correm e brincam nas areias da praia, compondo um cenário onde tudo parece se alinhar a um propósito maior.

 

A vida ali pulsa em uma sincronia perfeita.

 

 O lago segue seu caminho silencioso, as araras riscam o céu em voos eternamente acompanhados, e a fumaça do café no copo americano sobe com calma, como quem não tem pressa.

 

E, enquanto tudo isso acontece, o tempo segue seu rumo implacável, deixando-nos entre instantes de pura contemplação.

 

O passarinho passareia. O cão ladra. Palmas se desenrola, com seus mistérios e encantos ainda por explorar.

 

Quando olho para o lado e percebo que eles se foram, a mente divaga: para onde foram? Que destino os espera? E, desse contato tão breve, o que eles levam consigo? O que deixaram comigo?

 

Não tenho as respostas. Só Deus as tem.

 

Sei apenas que eles me deixam algo impagável, imensurável.

 

 Essas manhãs de introspecção aqui na raízes me ensinam que talvez eu seja o maior beneficiado dessa convivência com a sincronia perfeita do universo .

 

 Enquanto eles seguem seus instintos, eu aprendo sobre a simplicidade da existência, sobre o valor do momento presente.

 

A vida segue . Cada curva no curso, cada garrancho desenhado pelo tempo, tudo é parte de algo maior.

 

 E, em minha prece silenciosa, peço a Deus que eu nunca perca a capacidade de olhar e viver intensamente as maravilhas da sua criação.

 

Amanhã, eles voltarão aqui na barraca Raízes, o Joaquim, sempre disponível para promover esse encontro com ovos caipira fritos, beijú, café quente e água gelada . E, nesse reencontro na barraca raízes , seremos todos um pouco diferentes, moldados pela experiência de ontem e pela expectativa de amanhã.

 

Tom Lyra