Os milhões do fundo eleitoral e os “vaqueiros”: quem ganha dinheiro com a eleição

Posted On Segunda, 26 Setembro 2022 05:25
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Nunca um Fundo Eleitoral distribuiu tanto dinheiro para os partidos e candidatos, assim como jamais, na história política do Tocantins, um apoio político nunca custou tão caro 

 

Por Edson Rodrigues

 

Já dizia minha saudosa mãe: “filho, você ainda vai ver tanta coisa na política, que nem Deus vai acreditar”.  Pois, nestas eleições de 2022, essa “premonição” está se concretizando das mais diversas maneiras.

 

Afinal, quanto custa um voto?

 

Os parâmetros são os mais variados para definir o valor de um voto, mas, dependendo do “topete” do chefete, da “liderança” classista, de bairros, de ex-prefeitos, ex-deputado federal, estadual, prefeitos e outros “líderes”, o custo jamais foi tão elevado por um voto.  Um mercado inflacionado, de acordo com os recursos do Fundo Partidário, que, também, nunca foram tão generosos.

 

Dependendo do colégio eleitoral sobre o qual o “chefete” tem influência, o valor cobrado por ele para “influenciar” sua área de influência, pode ser mais alto que um ano do salário que ele recebe. E olha que estamos falando de apenas 45 dias de campanha.

 

Logo, “receber” o apoio desses “influenciadores eleitorais”, custa não só o valor acertado, como combustível, contratação de cabos eleitorais, alimentação, aluguel de veículos e outros gastos, isso tudo sem ter a certeza de que, no fim, esse apoio vai virar voto na urna.

 

FUNDO MILIONÁRIO E SILÊNCIO GARANTIDO

 

Toda essa “inflação eleitoral” só está sendo possível por conta do Fundo Partidário milionário, aprovado pelo Congresso Nacional para este ano. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro vetou o aumento da verba, mas os congressistas derrubaram o veto e mantiveram o aumento do Fundo Eleitoral em proveito próprio.

 

Isso encheu o “mercado” de candidatos endinheirados, em busca de um cargo eletivo e, segundo estimativas, inflacionou em 450% o custo de “receber” um apoio, pois essa prática, além de controversas, está intrinsecamente ligada ao famoso “caixa dois”, pois é onde os candidatos mais “ousados”, derramam recursos na busca insana pelo voto.

 

Mas, o pior lado desse “negócio” com os votos da população é a garantia de silêncio de ambas as partes – do comprador e do vendedor.

 

O pacto de silêncio é uma das garantias para que o negócio seja realizado. Só recebe quem não fala nada e só paga quem não terá interesse nenhum em revelar o ocorrido.

 

Os “aliciadores de votos”, que, antes, eram chamados de “lideranças”, hoje, no jargão político são conhecidos por “vaqueiros”.  Qualquer semelhança com “gado” ou “voto de cabresto“ não é mera coincidência.

 

O “vaqueiro” é que “laça” os votos compráveis e os oferece aos candidatos.

 

GADO “REPARTIDO” EM PORTO NACIONAL

Toda essa situação que inflacionou o preço do voto, criou, logo aqui, em Porto Nacional, uma situação inusitada, que beira à comédia, se não fosse trágica.

 

Um vereador apoia três candidatos a deputado estadual e dois a deputado federal. Cada “apoiado” de um grupo político diferente. Como esse vereador teve uma votação expressiva na cidade, ele resolver “repartir” seus votos entre os candidatos que o estão pagando por apoio, com o objetivo, óbvio, de faturar o mais alto possível com sua “reserva” de votos.  Cada um dos seus apoiados é levado a um bairro ou comunidade distinta, sem misturar as cores e sem invasão de território, criando um clima de satisfação entre os “compradores” e de extrema satisfação para o “vendedor”, que consegue faturar por cada pedaço da cidade que o apoiou.

 

Um candidato a senador resolveu apostar alto nessa “liderança” e acabou inflacionando ainda mais o mercado, sem nem desconfiar que os “vaqueiros”, também são conhecidos pelos ”jeitinhos” ou “trairagens” de última hora, e vão dormir, do dia primeiro de outubro para o dia dois, achando que serão os mais bem votados naquela região...

 

PISTAS, RASTROS E CONSEQUÊNCIAS

Os candidatos e “vaqueiros” que entram de cabeça nessas negociações, fazem os acertos e “recolhimentos”, olho no olho, tête-à-tête, sem transferências bancárias, com 99% dos pagamentos e acertos feitos em “cash”, dinheiro vivo, longe das câmaras de monitoramento, em locais reservados, sem comentar o assunto, em hipótese alguma, por telefone ou aplicativo de mensagens.

 

Em quase todas as cidades do Tocantins negociações, assim, vêm acontecendo.  Todos achando que estão invisíveis aos olhos da Lei.  Mas, se nós, dO Observatório Político de O Paralelon13 já estamos sabendo, imagina as polícias Federal e Civil, encarregadas pela Justiça Eleitoral de investigar esse tipo de ação.

 

As ações do “vaqueiros” e dos candidatos beiram o inacreditável, de tão ingênuas, por uma parte, e tão inescrupulosas, da outra parte.  Nestas últimas duas semanas que antecedem as eleições, os “desvios de rota” e “acertos de rumo” serão tantos entre as “lideranças” políticas locais e regionais, que nem Nostradamus seria capaz de prever.

 

Quem estava “fechado” com fulano vai levar seu grupo para votar em “sicrano” e vice-versa em todas as versões possíveis.

 

As consequências dessas movimentações repentinas podem ser cadeia, bloqueio de bens e ressarcimento de verbas ao erário público.

 

Afinal, o Fundo Partidário vem do meu, do seu, do nosso dinheiro, que é alocado, via impostos, para bancar essa “farra” eleitoral.

 

Os Ministérios Públicos Eleitorais Estadual e Federal estão acompanhando a movimentação de gastos de todos os candidatos, principalmente dos inexpressivos que receberam recursos superiores aos que concorrem à reeleição.

 

Em caso de desvio de finalidade dos recursos do Fundo Eleitoral, constatados nas prestações de contas, serão abertos inquéritos investigativos que vão mapear, dia a dia, o caminho do dinheiro.  Se as contas de campanha forem rejeitadas por “condições insanáveis”, o candidato flagrado, eleito ou não, perde todas as condições de tomar posse, ser diplomado e, o pior, de ter seus votos somados à legenda.  Ou seja, pode prejudicar desde os companheiros proporcionais até os candidatos majoritários, diminuindo as chances de eleição de quem agiu corretamente com seus gastos de campanha.

 

Além disso, serão os seus bens, do candidato irregular, que serão penhorados, bloqueados e arrestados para o ressarcimento dos cofres públicos.

 

Ou seja, será uma despedida oficial de qualquer pretensão política futura.

 

Ainda bem que a Lei vale para todos e para todas....

 

Confira, abaixo, quanto, cada partido, tem para gastar nestas eleições:

 

União Brasil: R$ 782,5 milhões

PT: 503,4 milhões

MDB: R$ 363,2 milhões

PSD: R$ 349,9 milhões

PP: R$ 344,8 milhões

PSDB: R$ 320 milhões

PL: R$ 288,5 milhões

PSB: R$ 268,9 milhões

PDT: R$ 253,4 milhões

Republicanos: R$ 242,2 milhões

Podemos: R$ 191,4 milhões

[19:53, 25/09/2022] Edson Rodrig Clsto: PTB: R$ 114,5 milhões

Solidariedade: R$ 113 milhões

PSOL: R$ 100 milhões

PROS: R$ 91,4 milhões

Novo: R$ 90,1 milhões (a sigla informou que devolverá o dinheiro)

Cidadania: R$ 87,9 milhões

Patriota: R$ 86,5 milhões

PSC: R$ 76,2 milhões

PCdoB: R$ 76,1 milhões

Rede: R$ 69,7 milhões

Avante: R$ 69,2 milhões

PV: R$ 50,6 milhões

Agir: R$ 3,1 milhões

DC: R$ 3,1 milhões

PCB: R$ 3,1 milhões

PCO: R$ 3,1 milhões

PMB: R$ 3,1 milhões

PMN: R$ 3,1 milhões

PRTB: R$ 3,1 milhões

PSTU: R$ 3,1 milhões

UP: R$ 3,1 milhões

Não existe dinheiro que não deixe rastro...