A escandalosa minirreforma eleitoral em tramitação no Congresso Nacional, com perdão de multas e afrouxamento nas condenações de inelegibilidade, dificilmente sairá do papel a tempo para ter validade já nas eleições de 2024.
Por Edson Rodrigues
Apesar de já ter sido votada e aprovada na Câmara Federal, a proposta está sendo cozinhada em banho maria pelo Senado, com um andamento lento e várias mudanças sendo propostas. O prazo final para que possa ter validade nas eleições municipais de 2024 é o dia seis de outubro.
Essa indefinição vem causando mudanças no comportamento dos partidos em relação às filiações e formação de Comissões Provisórias nos municípios.
OS “ESPERTOS” E OS "DESCONFIADOS"
Os dirigentes partidários perceberam o jogo de cena que vem sendo praticado por alguns pré-candidatos a prefeito, que buscam filiações apenas para aumentar seu cacife eleitoral e chegaram à conclusão de que precisarão ter muita cautela antes de constituir comissões provisórias nos maiores colégios eleitorais, mas, principalmente, nos municípios em que houver transmissão do Horário Obrigatório de Rádio e TV.
É fácil exemplificar a questão: um certo candidato faz sua filiação em um partido de médio ou grande porte, jurando “fidelidade eterna”, exaltando sua “competitividade”. Nesse momento, seu “valor no mercado político” vai às alturas e todos ficam satisfeitos. Mas, como o tempo até as convenções que decidirão os escolhidos dos partidos é longo, os outros partidos de médio e grande porte começam a apresentar propostas melhores para aquele “candidato fiel”, oferecendo mais visibilidade, mais recursos, mais infraestrutura partidária. O que vai acontecer? É óbvio que o “fiel” vai trair a confiança de quem o acolheu, da mesma maneira que o indeciso, que o nome em ascensão ou que qualquer candidato faria, caso recebesse uma proposta mais interessante e mais concreta para o êxito de sua candidatura.
Em alguns casos, dependendo do caráter, o “fiel” pode até, num primeiro momento, não se desfiliar do partido que o acolheu, mas, certamente, vai exigir mais da direção da agremiação, mesmo sabendo, desde antes de entrar, das condições limitadas.
Essas manobras permitem que pré-candidatos consigam dar mais visibilidade às suas pretensões, atrair o interesse da mídia para si e, em caso de mudança de partido nos minutos finais, deixará a legenda na mão, abandonada, e com os candidatos a vereador a ver navios.
É por causa disso que há os “espertos” e os “desconfiados” nesse processo, em que os dirigentes partidários definiram que o processo sucessório para 2024 pode – e deve – andar em um ritmo mais lento, deixando as definições para o ano que vem, quando findar o prazo para os pretensos candidatos estarem filiados a um partido para participar do pleito.
Diante de todas essas movimentações e percepções, a maioria dos dirigentes partidários do Tocantins está conversando, fazendo previsões e escutando seus principais líderes regionais, abrangendo os 139 municípios do Estado, dando uma “pisada no freio” na antecipação da sucessão municipal de 2024, que já vinha tomando as rodas de conversa e concentrando a atenção de todos, deixando para o primeiro trimestre de 2024 a largada na corrida das filiações, pois, além de tudo, ainda há a questão da não possibilidade de coligações e a obrigatoriedade do respeito às regras das federações partidárias.
As federações, fechadas de cima para baixo, podem criar situações em que muitos pré-candidatos a prefeito e a vereador irão correr o risco de não ter garantia de legenda, podendo, sob esse risco, promover um êxodo para partidos mais “estáveis”, subjugando as legendas federadas à possibilidade de ficar sem candidatos.
OUTRAS PRIORIDADES
Por conta de todo esse risco e ante o iminente resfriamento das movimentações políticas pré-eleitorais, a saída para alguns partidos será a voltar a atenção e as forças para outras prioridades, como a realização de seminários e reuniões estaduais para esclarecer seus quadros sobre as regras eleitorais, definir uma linha de atuação como agremiação e definir as estratégias a serem adotadas.
ABRIL DE 2024 E A ABERTURA DA JANELA
Até lá, as atenções estarão voltadas para o mês de abril, quando se abrirá a “janela” que permite a troca de partido sem o risco da perda do mandato.
Com todas as acomodações – de forças e de ações -, já é praticamente certo que haverá um grande movimento de quadros entre partidos, principalmente em Palmas e nos demais maiores colégios eleitorais do Estado, em que haverá uma verdadeira “bolsa de valores” em que a cotação de cada candidato junto à opinião pública será colocada à prova e os partidos farão “investimentos” para atrair mais cotados.
Palmas deve concentrar o maior número de mudanças de partido, principalmente na questão da saída dos que participam de alguma federação, pois, sem as coligações partidárias, para se candidatar por qualquer legenda será necessário observar e avaliar sua densidade eleitoral, sua capacidade de ter uma chapa com bons candidatos, puxadores de voto.
Esses serão os pontos de estudo obrigatório de cada candidato a vereador para, em abril, já estarem conversados e acertados com a cúpula do partido para o qual cada um pretende se filiar.
É óbvio que nem todos terão facilidade para se filiar, como já foi explanado neste panorama, pois já há partidos com suas chapas praticamente fechadas, assim como estarão as portas para os candidatos detentores de mandato.
Enfim, o momento é de reflexão e de se preparar para uma batalha hercúlea para garantir um novo partido e ter a garantia de legenda.
O jogo será jogado entre o time dos “espertos” e o time dos “desconfiados”. A inteligência, a percepção e a estratégia serão determinantes para a definição dos vencedores.
É observar, anotar e trabalhar. Tudo no seu devido tempo...