“...Venho com as retinas impregnadas e a alma enriquecida das imagens do universo físico e espiritual da minha gente, de suas terras, dos seus rios, das suas belas e incomparáveis paisagens; venho do Bico do Papagaio, que o abandono e as injustiças o tornaram violento; venho das margens do Tocantins, onde as lavadeiras batem as roupas dos ricos vendo as águas levarem as energias da mocidade, desgastadas no repetido malhar nos batedouros; venho das margens do Araguaia, onde os pescadores, nas formulações de seus sonhos, no renascer de suas esperanças, tostam a pele ao sol e olvidam as injustiça; venho das desenvolvidas mas desarrumadas regiões das áreas planas do grande caminho integrador do Brasil...” Foi com essas poéticas palavras, retiradas da alma e do coração, que o então deputado federal José Wilson Siqueira Campos, apresentou sua terra e sua gente aos seus pares, num discurso histórico, oportunidade em que balizou os integrantes da Assembleia Nacional Constituinte de 1988 para a criação do Estado do Tocantins.
De lá para cá, a linha do tempo nos impôs batalhas diuturnas, travadas com coragem e ousadia, na busca intransigente da transformação dos ideais libertários dessa esperançosa gente do Norte, e no rompimento definitivo dos grilhões do atraso que prendiam esta Região ao Sul desenvolvido. Nessa travessia, caminhamos sobre obstáculos quase intransponíveis, mas fez-se a vitória. Assim, não se pode negar, após o findar da última batalha, foi possível implementar a grande evolução econômica dessas terras calorosas e desenhadas pelas áquavias dos rios Araguaia e Tocantins, que expôs os sentimentos de várias gerações no decorrer dos séculos, que se fez realidade no dia 5 de outubro de 1988, nas Disposições Transitórias da Constituição Federal.
Siqueira Campos, Brito Miranda, Darci Coelho e Ulysses Guimarães
Nós, o povo nortense, lutamos com denodo por mais de um século pela sua emancipação. Está registrado nas folhas da história que por solicitação de Joaquim Theotônio Segurado, Dom João XI criou em 18 de março de 1808, a Comarca de São João das Duas Barras, dando autonomia econômica e financeira, separando-a da Província de Goyás. Esse grande líder lusitano e outras figuras emblemáticas dessa Região, chegaram a criar a Província de São João da Palma, em 1821, que teve vida breve.
Outras expressividades libertárias se fizeram presentes nessa batalha de vontades separatistas, No século XX, o Brigadeiro Lysias Rodrigues, nas décadas de 1930/40 encabeçou a luta pela criação do Território Federal do Tocantins, que foi vetado pelo interventor de Goiás, Pedro Ludovico Teixeira. Na década de 1950 foi a vez do juiz de direito Feliciano Machado Braga e outros nortenses ilustres como Fabrício César Freire, Osvaldo Ayres, João Matos Quinand e Vicente de Paula Oliveira, através da emblemática ATI – Associação Tocantinense de Imprensa, encamparem na rebelde Porto Nacional o desejo de emancipação.
Já na década de 1960/70 o cearense José Wilson Siqueira Campos chega à sofrida e abandonada Região Norte de Goiás e assume com vigor a bandeira de criação do Estado do Tocantins. Ele foi eleito deputado federal nos anos de 1970 e faz da criação do Estado do Tocantins sua principal bandeira até que, após até mesmo fazer greve de fome, viu o sonho realizado com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Mas ele não caminhou sozinho. Nessa luta, que atravessou os séculos, também levantaram as vozes em favor da liberdade do povo do Norte, figuras ilustres como Trajano Coelho, Antônio Poincaré de Andrade, Dr. Euvaldo Thomaz de Souza, José Freire, Totó Cavalcante, Darci Martins Coelho, Adão Bonfim, Vicentinho Alves, Otoniel Andrade, João Cruz, Jacinto Nunes, Moisés Nogueira Avelino, Zéza Maia, Dom Alano, Brito Miranda, Antônio Andrade, José Carlos Leitão, Getúlio Matos, João Rocha, Célio Costa, Manoel Reis Cortez, Dr. Chiquinho Neto, além de renomadas instituições como a Cenog, e Conorte, Ajut, e atuantes veículos de comunicação como o Jornal do Tocantins, o Estado do Tocantins, o Paralelo 13, O Jornal e o Primeira Página, dentre outros.
De quintal de Goiás, quando os investimentos públicos não chegavam a 20 por cento do que era arrecadado não Região, o hoje Estado do Tocantins se tornou uma economia pujante, dominada pelo agronegócio e crescendo cada vez mais nas áreas do turismo, dos serviços, do comércio e da industrialização. Centralizado, o Tocantins, com a Ferrovia Norte Sul cortando todo seu território, tem uma logística favorável, o que é importante para a exportação de comodities para a Europa, Ásia e América do Norte.
Em tão pouco tempo já podemos nos orgulhar do sistema público de saúde, com seus veios abraçando todo o território tocantinense, além da expressividade da área educacional, que em pouco mais de três décadas cresce como polos de educação básica e superior de qualidade, onde não havia sequer uma escola de ensino médio. Também se destaca a quase universalização da água tratada e da energia elétrica implantada nas cidades e no campo. Não se pode esquecer do avanço da infraestrutura em todas as áreas, principalmente nas nossas rodovias – (saímos de 243 quilômetros de rodovias estaduais asfaltadas em 1988 para mais de 8.000 quilômetros atualmente) –, que ligam todas as cidades do estado à capital, Palmas.
Projeto Rio Formoso
Essa mesma Palmas que é um orgulho para os tocantinenses. Planejada, essa candidata a metrópole do século XXI, tirou as cidades da margem direita do rio Tocantins do isolamento, trazendo o novo, o moderno, o que era sonhado, promovendo progresso a uma localidade conhecida pejorativamente como o “corredor da miséria”, e que com determinação e valorização do povo do lugar foi transformada numa das regiões mais produtivas do Brasil no cultivo da soja.
Mas... apesar de tantos números que nos orgulham, as sucessivas crises políticas mancham a imagem do mais novo e promissor estado do Brasil em nível nacional. Nesses últimos anos o Tocantins tem sido sacudido com frequentes noticias destacadas nas editorias de polícia. Foram inúmeras prisões, cassações e suspenções de direitos políticos daqueles que deveriam representar o povo com respeito e honestidade, que deixam o tocantinense revoltado e descrente na política.
Sabedores que somos que a luta é permanente, uma luz no fim do túnel nos alimenta e desfaz as desesperanças, pois na contramão de muitos que jogaram lama na história do Tocantins, podemos afirmar que o senador Eduardo Gomes, com ligação política em todos os seguimentos partidários do Estado, é uma voz admirada, respeitada e reverenciada no cenário político nacional, o que traz uma visibilidade positiva às terras de Theotônio Segurado, e permite a toda essa gente do antigo Norte Goiano, vivenciar esse presente de tribulações com os olhos voltados para um futuro promissor. É sabido que, mesmo com os dissabores vivenciados, nada diminui o orgulho de nosso povo de trabalhar e acreditar que cada batalha será vencida no seu tempo, isso porque “Essa Terra é Nossa”!
Parabéns, Estado do Tocantins!