Veja por que Bolsonaro está prestes a romper oficialmente com Tarcísio

Posted On Segunda, 26 Mai 2025 06:27
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O governador paulista Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro. O governador paulista Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro.

As últimas 72h colocaram o governador de SP na iminência de ser ‘excomungado’ do bolsonarismo. De fato, a petulância do carioca é um sinal claro de rebelião

 

 

Por Henrique Rodrigues

 

 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), parece cada vez mais fascinado com o poder, e confiante de que pode trilhá-lo por conta própria. Em franco movimento de independência e autonomia, ele vem acumulando sinais claros de que já vislumbra um futuro político sem receber ordens ou instruções de Jair Bolsonaro (PL), apostando numa trajetória própria que pode culminar em uma candidatura presidencial no ano que vem. Essa ambição já havia sido revelada quando o governador participou de um evento com empresários e outros ricaços em Nova York, nos EUA, há poucos dias, onde praticamente admitiu, à revelia do “capitão”, que pensa em disputar o Palácio do Planalto. Naquela ocasião, foi duramente criticado e humilhado por Bolsonaro, que passou a tratá-lo como carta fora do baralho para 2026, dizendo que o carioca que governa os paulistas “não tem experiência” e que “não seria nada sem seus votos”.

 

Agora, o rompimento parece ainda mais próximo. A filiação do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, ao PP, realizada na última quinta-feira (22), numa casa noturna luxuosa paulistana, escancarou o distanciamento assumido de Tarcísio em relação ao “bolsonarismo raiz”, em que pese seu discurso e postura fascistoides, iguaizinhos ao do “chefe”. O evento, recheado de simbolismo político e repleto de lideranças do Centrão, funcionou não apenas como vitrine para o projeto de Derrite de chegar ao Senado, mas também como palco para que Tarcísio reafirmasse sua suposta força nacional, ignorando de forma deliberada o clã Bolsonaro e a liderança do ex-presidente.

O discurso de Tarcísio foi direto no evento: “Para quem duvida que esse grupo vai estar unido no ano que vem, eu digo para vocês: esse grupo estará unido”. O grupo ao qual se referia era composto por caciques de partidos de centro-direita, como Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP), Gilberto Kassab (PSD), Renata Abreu (Podemos) e Antonio Rueda (União Brasil). Não, você não leu errado. O fiel escudeiro não tal fiel assim Ciro Nogueira sinalizou estar prestes a deixar o barco também, assim como o próprio Valdemar Costa Neto, “dono” do partido de Bolsonaro, bem como o onipresente Kassab, ícone máximo do fisiologismo do centrão. Todos estavam com Tarcísio no palco, em um ambiente lotado, alegre, com a presença de mais de 80 prefeitos do estado de São Paulo.

Mais do que uma suposta demonstração de força, o evento sinalizou a articulação de uma frente ampla da direita tradicional (se é que ele ainda existe) que não dependa de Bolsonaro, um bufão desajustado e insuportável que, certamente, para essas próprias lideranças, estará condenado e preso dentro de poucos meses, sem direitos políticos.

 

É dispensável dizer que o incômodo entre bolsonaristas foi imediato. Parlamentares e outras figuras de primeira linha ligados a Bolsonaro e ao movimento ideológico ultrarreacionário liderado por ele não compareceram à cerimônia. A bem da verdade, a maioria sequer foi convidada, pois os organizadores já sabiam de antemão que respostas malcriadas e incivilizadas seriam disparadas de pronto por essa corja do chapéu de alumínio. Os poucos que foram convidados nem deram as caras, uma vez que isso seria encarado como “dar palanque” a um político que já é visto como rival do candidato oficial de Bolsonaro em 2026.

 

Derrite também rompe o script

 

Ao lado de Tarcísio, o secretário Derrite também deu demonstrações de que já não se pauta mais pela cartilha bolsonarista. Assumiu publicamente sua pré-candidatura ao Senado, sem fazer qualquer alusão às pautas cansativas do rosário intragável dos bolsonaristas, como anistia e “Bolsonaro 2026”.

 

“São Paulo tem a possibilidade real de eleger dois senadores conservadores”, bradou Derrite, junto com a conhecida e batida história de que providenciará mudanças na legislação penal, outra vez apelando ao tema da violência como garantia de votos fáceis.

 

Essa ausência de acenos ao ex-presidente de extrema direita foi criticada nos bastidores de Brasília por aliados próximos de Bolsonaro, que veem em Derrite mais um nome que segue os passos do governador rumo a um pretenso projeto político independente.

 

O silêncio do “mito” e a bênção do Centrão

 

O movimento incomodou a capital federal. Segundo aliados de Bolsonaro, o antigo ocupante do Palácio do Planalto ainda não escolheu quem apoiará caso permaneça inelegível (e ele continuará), mas a tendência é que opte por alguém da própria família, com sinais de preferência por sua esposa Michelle Bolsonaro. Ainda assim, figuras como Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto, que cravam a faca nas costas de Bolsonaro abertamente, não escondem que Tarcísio é o nome de suas preferências.

 

“Se houver essa decisão, governador, tanto o União Brasil quanto o Progressistas estarão ao seu lado”, declarou Ciro. Já Valdemar afirmou que “quem vai dizer quem será o candidato a presidente é o Bolsonaro. Por quê? Porque ele é o dono dos votos”. Mas admitiu: “Temos que ver o que o Tarcísio vai resolver para que a gente possa resolver a nossa vida”.

 

Mesmo diante dessa cautela verbal, o gesto de reunir as principais lideranças do centrão em torno de um evento que o exalta, e que ensaia até uma linha sucessória, aproxima Tarcísio de uma ruptura definitiva com seu padrinho político. Em breve, pelo andar da carruagem, o carioca colocado artificialmente por Bolsonaro no governo de São Paulo sairá debaixo das asas do padrinho de maneira oficial. O que resta saber é: isso vai dar certo, tendo em vista a máquina de assassinar reputação das redes digitais do bolsonarismo?

 

 

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