ADEUS A TOTÓ CAVALCANTE

Posted On Sexta, 19 Julho 2024 10:16
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A política tocantinense está, mais uma vez, definitivamente desfalcada de um dos seus maiores líderes. Morreu Totó Cavalvante

 

 

Por Edson Rodrigues

 

 

A Família O Paralelo 13 tem em seus arquivos registros, em nossas primeiras edições, de antes da criação do Tocantins, da greve de fome do então deputado estadual por Goiás, representante da Região Norte do estado, Totó Cavalcante, em apoio ao movimento separatista que, anos depois, resultaria na criação do Tocantins.

 

Mas, a figura de Totó, um baluarte da política tocantinense, acabou não recebendo a atenção devida pelos governantes que o Tocantins teve, após a sua criação, à exceção de Wanderlei Barbosa, que, ao procurar por Totó Cavalcante, este já estava com a saúde bastante debilitada e sem condições de uma atuação plena.

 

Ontem, no saguão do Palácio Araguaia José Wilson Siqueira Campos, vários portuenses e tocantinenses de todas as regiões do Estado que foram se despedir desta inigualável figura pública, do guerreiro filho de Porto Nacional, líder estudantil  e tocantinense genuíno, resgataram histórias que deveriam constar em todas as narrativas sobre a criação do Tocantins.

 

A residência do deputado Totó Cavalcante, em Goiânia, na Vila Nova, era o porto seguro para os engajados na luta pela criação do Tocantins. Muitos homens e mulheres tocantinenses tiveram ali o pouso em suas jornadas para tratamento de saúde, para peregrinações em busca de colocação para um filho que estudava na capital, e encontraram a mão amiga e generosa do deputado estadual.

 

Quando veio a batalha final da convocação da Constituinte de 1988, que consolidou as reais condições da criação do Estado do Tocantins, muitas barreiras precisaram ser quebradas na própria Assembleia Legislativa de Goiás e nas cúpulas partidárias locais, que não tinham o interesse em perder o sofrido “norte goiano”, local onde, de quatro em quatro anos apareciam, com promessas sob medida para a população, mas que não passavam de promessas, e era considerado apenas um “curral eleitoral” fácil de ser manipulado, ante o desespero da população por melhorias que nunca vinham.

 

Mas Totó Cavalcante tinha na iniciativa privada uma de suas cartas na manga. Ninguém menos que um nascido no Note Goiano que era o principal dirigente da cúpula da maior empresa de Comunicação de Goiás, o saudoso ex-senador João Rocha, que ditava as cartas na Organização Jaime Câmara, e convenceu o ex-deputado Jaime Câmara em defender e dar todo apoio à luta separatista.

 

Antevendo o perigo da resistência da classe política goiana, que impunham obstáculo sobre obstáculo nas Comissões internas da Assembleia Legislativa e a possibilidade da luta pela criação do Tocantins não ganhar destaque nacional na mídia, Totó Cavalcante participou da greve de fome junto com José Wilson Siqueira Campos e, com a ajuda de Jaime Câmara, tem seu calvário expostos nas telas de televisão de todo o Brasil, nas capas dos principais jornais impressos, que passaram a dar boletins sobre seu estado de saúde, até chamar a atenção dos congressistas constituintes.

 

Esse destaque ganhou reforço em Brasília, por meio do tocantinense José Carlos Leitão, na época, presidente da Conorte, entidade formada por filhos do Norte Goiano que defendiam a criação do Tocantins, da qual Totó Cavalcante foi um dos fundadores, que aproveitou seu ótimo trânsito entre as principais redações sediadas no Distrito Federal e, por meio das páginas do Correio Braziliense, estampou nacionalmente a batalha separatista e seu primeiro mártir. Totó Cavalcante, na lute pelo novo Estado do Tocantins.

 

EXEMPLO A SER SEGUIDO

 

Voltando ao saguão do Palácio do Governo do Tocantins, estivemos lado a lado com Paulo Mourão, com Ronivon Maciel, vereadores, secretários, Ivonte Brito, Jovenine e sua esposa, os ex-governadores Marcelo Miranda, Carlos Gaguim, Moisés Avelino, deputado federal Toinho Andrade, o ex-prefeito portuense Otoniel Andrade, dezenas de portuenses e tocantinenses, ilustres ou não, é que tivemos a consciência exata do quanto o Tocantins perdeu ao deixar de valorizar o papel crucial de Totó Cavalcante em sua história na luta separatista.

 

Otoniel Andrade, assim que assumiu a prefeitura de Porto Nacional, foi um dos que buscou o resgate de nomes como Totó Cavalcante, que participaram da luta separatista de forma contundente, mas que foram sendo alijados pelos governos que assumiram o Estado.

 

Como prefeito de Porto Nacional, criou em seu gabinete um departamento de consultoria e assessoria de gabinete, alocando ex-vereadores, ex-vice-prefeitos e muitos ex-secretários que estavam sem vencimentos ou condições financeiras condizentes com seus papéis na história separatista, e os nomeou com conselheiros, inclusive alguns que sempre lhe foram oposição. Durante os seus quatro anos de mandato, Otoniel protegeu, apoiou e valorizou, independente da cor partidária. Essa atitude de Otoniel não afetou os cofres públicos de Porto Nacional e serviu para resgatara a dignidade de tocantinenses e portuenses históricos.

 

UM POUCO DA HISTÓRIA DE TOTÓ CAVALCANTE

 

 

Totó Cavalcante é uma lenda que continuará viva em nossas mentes. Mesmo em seu período de alijamento da história política do Tocantins, jamais foi visto nas portas de gabinetes em busca de oportunidade ou reconhecimento.

 

Nas eleições de 1982, foi eleito deputado estadual em Goiás pelo PMDB com 18.024 votos e reeleito em 1986 com 15.297 votos. No pleito de 1994, foi eleito primeiro-suplente do senador Carlos Patrocínio, assumindo temporariamente o mandato.

 

Foi um dos responsáveis pela criação do Tocantinse chegou a participar da greve de fome junto ao deputado Siqueira Campos, que permaneceram 98 horas e 35 minutos de jejum pela causa.

 

Mas, há um registro emblemático que O Paralelo 13 faz questão de trazer ao conhecimento geral: amigo e irmão de Goianyr Barbosa, dois sonhadores natos, idealistas e visionários, Totó Cavalcante lhe contou que precisava se aposentar, mas ainda restavam pouco mais de dois anos de arrecadação para que sua aposentadoria fosse plena.

 

 

Goianyr ficou quieto e tentou, na época, via governo do Estado, a resolução do problema. Não teve êxito. Foi atrás do então deputado federal Laurez Moreira, hoje vice-governador, que, após ouvir os argumentos e Goianyr, prontamente tomou a decisão de nomear Totó Cavalcante em seu gabinete.

 

Goianyr entrou em contato com Totó e tudo foi resolvido. Os pouco mais de dois anos de serviço com Laurez foram suficientes para que, enfim, a aposentadoria de Totó fosse concretizada.

 

Esse fato está sendo narrado para mostrar que, ainda nessa época, Totó Cavalcante reunia totais condições de aplicar seu conhecimento e experiência em benefício do Tocantins, com saúde, sonhos a se concretizar, mas que foram desperdiçados pelos governantes que fecharam os olhos para um dos ícones da nossa história separatista, que se doou de corpo e alma, sem apego a bens materiais, e respeito à coisa pública.

 

REPERCUSSÃO

 

 

Dr. Luciano Ayres deu um dos depoimentos mais contundentes, durante o velório de Totó: “perdemos um valioso patrimônio humano tocantinense’”. O presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres, decretou luto oficial de três dias, assim como o prefeito de Porto Nacional, Ronivon Maciel.

 

Várias autoridades federais, estaduais, municipais e entidades classistas se manifestaram, em pesar, em suas redes sociais, se solidarizando com a família de Totó Cavalcante por sua passagem para um novo plano espiritual.

 

O ex-prefeito de Palmas, Raul Filho, foi outro que compareceu para dar o último adeus a Totó Cavalcante, e fez questão de relatar os laços de amizade que os uniam. Raul considera Totó um dos melhores professores de política com quem teve contato: “humilde, companheiro, uma pessoa com que se podia dividir sonhos e confidências, que tinha ótimas ideias e que sempre se doou para var um Tocantins melhor”.

 

A Família de O Paralelo 13, com fortes laços de amizade com a família de Toró Cavalcante, deixa, aqui, seus mais sinceros votos de pesar pela passagem do nosso amigo, e podemos afirmar, com tranquilidade, que Deus ganhou mais um conselheiro e mais uma estrale brilhará nos céus tocantinenses, olhando por seus cidadãos. Pois Totó Cavalcante tinha como sua principal riqueza;

 

Os ensinamentos que conseguiu transferir para seus filhos, irmão, sobrinhos e familiares, de manter o circula familiar sempre unido, uns apoiando aos outros e buscando fazer o bem ao próximo e dentro de rígidos preceitos religiosos, puderam ser notadamente observados nos seus dias finais, em que foi acompanhado de perto por todos , inclusive pelos admiradores e amigos que ele sempre considerou, também, como família,

 

Totó morreu sereno, em paz, consciente de ter cumprido, com louvor, sua missão como ser humano e seu exemplo servirá de luz para as gerações vindouras.

 

 

A Família O Paralelo 13 agradece pela oportunidade de ter convivido com Totó Cavalcante e deixa, aqui, as suas homenagens.

 

Vai com Deus, guerreiro tocantinense!