Cada vez mais nas mãos do principal bloco do Congresso, Bolsonaro pode ver desidratar o apoio do grupo em meio às denúncias que respingam no governo, ao aumento de protestos de rua e ao crescimento de Lula nas pesquisas de voto

 

Por Luiz Calcagno

 

A CPI da Covid tornou-se a balança do Centrão na Câmara. Os trabalhos do colegiado passaram a servir de termômetro para que o bloco político mais poderoso do Congresso decida se continuará com o presidente Jair Bolsonaro. Principalmente, depois do depoimento à comissão do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e do irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda. Eles denunciaram um esquema de compra superfaturada da vacina Covaxin. O Centrão segue com o chefe do Planalto, mas o grupo não se comprometerá se o governo entrar em queda livre.

 

O namoro de Bolsonaro com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), segue firme. Mas a dinâmica do relacionamento também mudou. Para cientistas políticos, o parlamentar assumiu como uma figura fiel ao presidente. Hoje, porém, a proeminência é do aliado e não do mandatário. Para completar o cenário, há a percepção, da parte de parlamentares, de que, apesar das constantes derrotas em votações, o vento está soprando a favor da oposição, com pesquisas mostrando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva bem-avaliado, enquanto o chefe do Executivo vive o pior momento de sua gestão.

 

Para o deputado Fábio Trad (PSD-MS), se a acusação contra Bolsonaro e seu líder de governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), se confirmarem, há forte risco de o mandatário perder a governabilidade. “A CPI, hoje, tem mais força do que o Centrão em termos de sustentação da governabilidade. Se a CPI encontrar provas da culpa do presidente e de líderes do bloco nesses fatos, isso tem potencial de desidratar a relação, e o Centrão vai procurar o caminho”, frisou. “O vento, hoje, sopra a favor da oposição. Até o dia anterior ao depoimento dos irmãos Miranda, tínhamos uma CPI da imprudência sanitária. E, agora, é a CPI da provável prevaricação do presidente.”

 

O líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS), confirmou que a oposição trabalha com insistência para quebrar essa liga. “A Câmara não pode chancelar a crueldade do governo Bolsonaro. Acredito que esse quadro vai começar a mudar. Ele sabia que Ricardo Barros estava envolvido. Não fez nada, manteve o líder. Não é possível que o Parlamento vá se submeter a essa lógica”, criticou. A oposição entregará, na quarta-feira, um “superpedido” de impeachment contra o chefe do Planalto e organiza manifestações para o próximo sábado.

 

O petista destacou, no entanto, que a deterioração da relação entre o presidente e o Centrão é um processo. “O certo é que os dois movimentos estão acontecendo, a comprovação das maracutaias e o desgaste de Bolsonaro na sociedade. E, na medida em que for comprovado, aumentará mais o desgaste. Um terceiro elemento são as mobilizações sociais, que estão crescendo”, ressaltou.

 

O vice-líder do governo, Evair de Melo (PP-ES), negou o quadro. “A base está sólida e organizada. O impacto da CPI é zero. Essa conversa que deputados da base estão insatisfeitos... É claro que tem alguém que está fazendo velha política e não está conseguindo. Por estar filiado a partido da base, se diz base, mas nunca foi. O modelo objetivo do governo não satisfaz”, rebateu.

 

Eleições

 

Na visão do estrategista político Orlando Thomé, o povo nas ruas é uma preocupação, mas a distância até as eleições em 2022 conta a favor de Bolsonaro. “O que pode mudar essa balança é a denúncia em relação à corrupção no caso da Covaxin. Mas ainda é muito difícil saber o alcance delas”, disse. “E é importante a reação do governo com a coletiva da semana passada, do ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral da Presidência) e de Élcio Franco (assessor da Casa Civil), que indica que isso pode ser um calcanhar de aquiles. Mas, se porventura não se criarem as condições para o impeachment, minha opinião é que o presidente recupera a queda que teve, pois tem uma base sólida de apoiadores na faixa acima de 25%.”

 

Para o analista político Melillo Dinis, do portal Inteligência Política, o rompimento entre Bolsonaro e Lira não é questão de “se”, mas de “quando”. “O namoro já mudou. Antigamente, o Lira é que, para ser eleito e construir as suas relações internas e externas à Câmara, era fiel a Bolsonaro. Com o passar dos meses, é Bolsonaro que, cada vez mais, precisa ser fiel a Lira. E ambos vão trair um ao outro”, arriscou.

 

Na opinião de Dinis, a postura crítica ao governo, do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), é uma das evidências. “Ele bateu tanto no Bolsonaro, sendo da base, que nem precisa de oposição. Se o vice-presidente, homem de confiança de Lira, já está vociferando esse conjunto de críticas e impropérios, imagine o deputado de perfil baixo que não é líder”, comparou.

 

Ameaças

 

Em pronunciamento na semana passada, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, acompanhado do assessor da Casa Civil Élcio Franco, rebateu as denúncias dos irmãos Miranda. Ele negou superfaturamento do contrato da Covaxin e disse que não houve favorecimento a ninguém. Lorenzoni afirmou que o governo pedirá abertura de investigação pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela Controladoria-Geral da União (CGU) sobre as declarações do deputado Luis Miranda. “O senhor vai explicar e pagar pela irresponsabilidade, pela má-fé, pela denunciação caluniosa e pela produção de provas falsas”, ameaçou.

 

Posted On Segunda, 28 Junho 2021 17:59 Escrito por

Ela teria enviado um e-mail à Comissão Parlamentar de Inquérito com os pontos a serem abordados em seu depoimento

 

Por Mariana Costa*

 

A ex-mulher de Eduardo Pazuello, Andréa, procurou a CPI da COVID se dizendo disposta a depor. A informação foi divulgada, neste domingo (27/6), pelo colunista do jornal "O Globo", Lauro Jardim.

 

Andréa teria enviado um e-mail para a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, com os pontos que poderia abordar sobre atos do ex-marido, enquanto ocupava o Ministério da Saúde.

 

Os membros da CPI avaliam se ela vai ser chamada para prestar depoimento. Segundo o colunista, a decisão final sobre ouvi-la deve ocorrer após uma conversa pessoal entre o presidente da CPI da COVID, senador Omar Aziz (PSD-AM) e Andréa, que mora em Manaus.

*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria

 

Posted On Segunda, 28 Junho 2021 07:14 Escrito por

Partido cruzou os braços na briga entre Onyx e Miranda

 

Por Guilherme Amado

 

Os integrantes do DEM que torcem para ver o partido longe de Jair Bolsonaro em 2022, o que até hoje é uma incerteza, estão em festa com a denúncia trazida pelo deputado Luis Miranda, do DEM do DF. Como o comando do DEM cruzou os braços na briga entre Onyx Lorenzoni e Miranda, a aposta é que Bolsonaro perceberá como uma tomada de lado — contra ele.

 

Posted On Segunda, 28 Junho 2021 07:13 Escrito por

Miranda e o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciaram ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid supostas irregularidades na compra da vacina

 

Com Agência Estado

 

No centro das denúncias de desvios na compra da vacina indiana Covaxin, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) sugeriu neste sábado, pela segunda vez, que existe uma gravação que comprova que o presidente Jair Bolsonaro foi informado sobre o suposto esquema no Ministério da Saúde. Segundo ele, se Bolsonaro desmenti-lo, o presidente terá uma "surpresa mágica".

 

Miranda e o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciaram ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid supostas irregularidades na compra da vacina. No depoimento, eles disseram ter avisado Bolsonaro há três meses sobre as suspeitas e sobre uma "pressão atípica" para acelerar a importação. Na conversa, Bolsonaro teria citado o deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo na Câmara, como o parlamentar que queria fazer "rolo" no ministério.

 

As declarações de Miranda elevaram a pressão sobre o governo. Ontem mesmo, o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a comissão irá analisar a possibilidade de comunicar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a ocorrência de suposto crime prevaricação de Bolsonaro, por não ter agido contra o esquema.

 

Em entrevista neste sábado ao site O Antagonista, Miranda afirmou que tem como provar suas declarações. Questionado se não seria a palavra do presidente contra a sua, ele afirmou que Bolsonaro, nesta situação, "vai ter uma surpresa mágica". "Se ele fizer isso (questionar minha versão), vou ter que fazer algo que nunca um parlamentar deve ter que fazer contra o presidente", afirmou o deputado. "Mas aí ele vai ficar constrangido, muito, porque eu tenho como provar. Mas na hora certa."

 

Miranda reclamou, ainda, dos ataques recebidos por parte dos filhos de Bolsonaro, que o qualificam como traidor por ter denunciado a compra fraudulenta. "Se ele (Bolsonaro) fizer isso, a gente vai ter que provar de um jeito que é totalmente desfavorável para o resto da carreira política dele. Se precisar, a gente prova. Só isso", disse Miranda, em referência à possibilidade de Bolsonaro contradizer sua versão.

 

Na entrevista, Miranda também não negou a existência de uma gravação da conversa com Bolsonaro. "Tinha três pessoas na sala. Eu, como parlamentar, não gravaria. Mas vamos mudar este assunto, por favor?", desconversou. A terceira pessoa na sala era justamente o servidor Luis Ricardo, irmão do deputado.

 

Senadores da CPI da Covid 19

Esta foi a segunda vez que Miranda passou indicações de que existe uma gravação da conversa com o presidente. Em seu depoimento à CPI na sexta-feira, durante várias horas, ele evitou revelar aos senadores que o deputado supostamente envolvido no esquema era o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Em suas respostas, Miranda dizia não se lembrar do nome do deputado citado por Bolsonaro.

 

Durante questionamento do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, Miranda afirmou que "tinha mania de gravar algumas conversas, mas eu não gravo conversa com o presidente...". Na sequência, cometeu um ato falho: "Mas posso procurar na gravação (o nome do deputado do esquema), assim o presidente (Bolsonaro) também não poderia me desmentir, né?"

 

Ao contrário dos demais imunizantes, negociados diretamente com seus fabricantes (no País ou no exterior), a compra da Covaxin pelo Brasil foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A empresa virou alvo da CPI, que autorizou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de um de seus sócios, Francisco Emerson Maximiano. O depoimento do empresário na comissão estava marcado para esta semana, mas ele alegou estar em quarentena após voltar da Índia e não compareceu.

 

Além da Precisa, Maximiano é presidente da Global Saúde, empresa que já foi alvo de ação por irregularidades em contrato com o Ministério da Saúde em 2018. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal à época em que Ricardo Barros, hoje líder do governo Bolsonaro, era ministro. Na ocasião, a pasta pagou R$ 20 milhões para comprar remédios de alto custo a pacientes com doenças raras, mas os produtos nunca foram entregues.

 

Quem é Luís Miranda, o deputado youtuber que acusa o governo no caso da Covaxin

 

Luis Miranda morou nos Estados Unidos antes de voltar ao Brasil e se eleger deputado federal.

 

Deputado federal de primeiro mandato, Luís Cláudio Miranda (DEM-DF) ganhou os holofotes nesta semana ao afirmar que alertou o presidente Jair Bolsonaro sobre supostas irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde. As declarações chamaram atenção da CPI da Covid, que vai ouvir o parlamentar nesta sexta-feira (25).

 

Luís Miranda tem a sua trajetória marcada por polêmicas envolvendo seus negócios e por uma atuação ligada à base governista do Congresso.

 

Eleito pelo Distrito Federal em 2018, o deputado foi o sexto candidato mais bem votado na capital, com pouco mais de 65 mil votos.

 

Miranda ganhou notoriedade com um canal que mantinha no YouTube, onde dava dicas para o seus seguidores sobre como empreender nos Estados Unidos. Morando no país norte-americano desde 2014, o então candidato fez toda sua campanha eleitoral de 2018 sem estar em Brasília.

 

No entanto, foi justamente a sua atuação nos Estados Unidos que gerou as principais polêmicas do deputado. Em 2019, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, mostrou supostas vítimas que alegaram ter sofrido golpes milionários após investirem em negócios que Miranda mantinha no Estados Unidos. Uma das pessoas entrevistadas pela emissora disse que teve um prejuízo de cerca de R$ 150 mil.

 

No mesmo ano, a Justiça do Distrito Federal aceitou denúncia de estelionato contra o deputado em ação envolvendo o uso de cheques falsos para o pagamento de dívidas. Ele nega as acusações.

 

O deputado também foi proprietário da Fitcorpus, uma rede de clínicas de estéticas que foi à falência em meio a supostos calotes e 26 ações na Justiça provenientes de pacientes, sócios e ex-funcionários. Antes de fechar as portas, a clínica tinha sido proibida de realizar qualquer tipo de procedimento cirúrgico pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal.

 

Luis Miranda foi acusado de compra de votos

 

Em outra polêmica, os suplentes de Miranda registraram uma denúncia contra o parlamentar por suposta compra de votos durante sua campanha eleitoral, em 2018. Os denunciantes alegaram que ele realizou o sorteio de dois celulares aos seguidores que mais interagissem em uma live transmitida em 14 de agosto daquele ano – dois dias antes do começo oficial da campanha.

A acusação ainda afirmava que Miranda usou o próprio cartão de crédito para patrocinar o post do sorteio na internet e que essas despesas deveriam ter sido pagas por meio de uma conta exclusiva da campanha.

 

No entanto, Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Distrito Federal rejeitou as acusações e decidiu manter o mandato do parlamentar. A Justiça Eleitoral entendeu que não houve provas robustas que configurassem compra de votos ou de que houve impulsionamento irregular.

 

Em 2019, o deputado foi acusado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) por suspeita de estelionato. Segundo a denúncia, Miranda e outras duas pessoas teriam apresentado um cheque falso para pagar uma dívida de aluguel, em 2010.

 

O deputado era o fiador de um imóvel na capital do país. Porém, nem ele nem o locatário teriam quitado os aluguéis, o que resultou em uma ação de despejo movida pela empresa dona do imóvel. Uma das supostas vítimas acabou retirando as acusações, o que fez a promotoria pedir a extinção da ação.

 

“Provei minha inocência. Nesse processo, o próprio locatário disse que jamais causei prejuízo a ele. Ganhei na Justiça e lavei a minha honra nessa ação absurda”, disse Miranda ao jornal Folha de S.Paulo.

 

 

Posted On Domingo, 27 Junho 2021 06:53 Escrito por

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), disse que o presidente Jair Bolsonaro citou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR) como o parlamentar que queria fazer “rolo” no Ministério da Saúde.

 

Lauriberto Pompeu e Daniel Weterman

 

Miranda e seu irmão Luís Ricardo Fernandes Miranda, servidor de carreira do ministério, confirmaram à CPI ter avisado Bolsonaro, há três meses, sobre suspeitas de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin e relataram uma “pressão atípica” para acelerar a importação. Bolsonaro teria mostrado saber a origem da pressão ao dizer “é mais um rolo desse (parlamentar)...” A dupla pôs Bolsonaro no centro de um escândalo e, a partir de agora, a CPI passará a mirar o presidente.

 

Miranda afirmou por 12 vezes não se recordar o nome do congressista citado pelo presidente durante a sessão, mas acabou divulgando a identidade pouco antes das 22h.

 

“A senhora também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou. Foi o Ricardo Barros. Eu queria ter dito desde o primeiro momento, mas vocês não sabem o que eu vou passar”, declarou ao responder uma pergunta da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

 

“Apontar um presidente da República que todo mundo defende como uma pessoa correta, honesta, que sabe que tem algo errado, sabe o nome, que sabe quem é e não faz nada por medo da pressão que pode levar do outro lado? Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem está fazendo o errado? De quem desvia dinheiro público de gente morrendo por causa dessa p... de covid”, completou o parlamentar, com lágrimas nos olhos.

 

Diferentemente dos demais imunizantes, negociados diretamente com seus fabricantes (no País ou no exterior), a compra da Covaxin pelo Brasil foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A empresa virou alvo da CPI, que na semana passada autorizou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de um de seus sócios, Francisco Emerson Maximiano. O depoimento do empresário na comissão estava marcado para esta semana, mas ele alegou estar em quarentena após voltar da Índia e não compareceu.

 

Além da Precisa, Maximiano também é presidente da Global Saúde, empresa que já foi alvo de ação por irregularidades em contrato com o Ministério da Saúde em 2018. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal à época em que Ricardo Barros (Progressistas-PR), hoje líder do governo Bolsonaro, era ministro. Na ocasião, a pasta pagou R$ 20 milhões para comprar remédios de alto custo a pacientes com doenças raras, mas os produtos nunca foram entregues.

 

Procurado pelo Estadão, Ricardo Barros disse desconhecer os motivos que levaram o governo Bolsonaro a negociar com Maximiano. A reportagem também tentou contato com o líder do governo para saber se ele seria o parlamentar citado por Bolsonaro na conversa relatada por Miranda, mas Barros não respondeu.

 

Após a declaração de Miranda, o líder do governo foi às redes sociais para negar envolvimento no caso. "Não participei de nenhuma negociação em relação à compra das vacinas Covaxin. Não sou esse parlamentar citado. A investigação provará isso. Também não é verdade que eu tenha indicado a servidora Regina Célia como informou o senador Randolfe (Rodrigues, Rede-AP). Não tenho relação com esse fatos", postou. A servidora, nomeada quando Barros era ministro da Saúde, no governo de Michel Temer, foi a fiscal do contrato da Covaxin no Ministério da Saúde.

 

Emenda de líder do governo favoreceu Covaxin

Em fevereiro, Barros, citado agora por Miranda, apresentou uma emenda à medida provisória 1026 para que imunizantes aprovados na Índia recebam uma análise acelerada na Anvisa de uso emergencial. A sugestão foi acolhida no parecer da MP, que também inseriu a agência da Rússia.

 

A emenda do líder do governo foi defendida na quarta-feira pelo ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS), da Secretaria-Geral da Presidência, ao rebater as acusações de Miranda e do irmão. Na ocasião, ele citou que a emenda de Barros também permitiria a entrada de outras vacinas no País.

 

Por meio de nota enviada na terça-feira, 22, Barros disse que “não houve qualquer interferência do Palácio do Planalto no assunto” e que “a inclusão do órgão de saúde da Índia no artigo 16 da MP também foi motivo de emendas dos deputados Orlando Silva e Renildo Calheiros (ambos do PCdoB, partido de oposição)”.

 

Barros também move uma ofensiva sobre a Anvisa. Ele disse ao Estadão, no começo de fevereiro, que iria “enquadrar” a agência, que naquele momento ainda não havia autorizado a entrada da vacina indiana no País.

 

Repercussão

A revelação de Miranda de que Bolsonaro teria citado o nome de Barros ao ouvir as supostas irregularidades na compra da Covaxin repercutiu imediatamente entre a cúpula da CPI da Covid. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), ressaltou que Barros foi o autor de uma emenda à Medida Provisória 1026/2021 para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acelerar a análise de vacinas já autorizadas na Índia - o que beneficiou a Covaxin.

 

"Queria dizer que Vossa Excelência (Simone Tebet) fez a grande pergunta do dia. Queria congratular-lá por conseguir a resposta que todos queríamos. O nome citado por Miranda é o mesmo que apresentou na Câmara que autorizou a aquisição da Covaxin", disse Renan. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que, a partir da citação ao nome de Barros, o "roteiro está pronto".

 

"É um grande momento da CPI. Estamos diante do maior escândalo de corrupção da história da República", disse Randolfe, destacando que a MP na qual Barros propôs a emenda é a mesma em que o governo Bolsonaro recuou e não inseriu na versão final da minuta o dispositivo que garantiria a compra de imunizantes como da Pfizer.

 

"Hoje eu tirei um peso das minhas costas", comentou o deputado, após confirmar o nome de Barros, que já era especulado numa série de questionamentos feitos pelos senadores da CPI.

Suspeita de propina

Luís Miranda chegou ao Senado de modo performático trajando um colete à prova de balas por cima do terno e com uma bíblia sob o braço.

 

Em contraste com o irmão, o chefe do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Luís Ricardo, se portou de maneira mais contida e com menos uso de frases de efeito. Recém chegado dos Estados Unidos, o servidor chegou uma hora atrasado no Congresso porque estava acompanhando a entrega de doses da vacina da Janssen contra o coronavírus.

 

Ricardo relatou ter ouvido falar sobre propina envolvendo a pressão pela compra da Covaxin. Em mensagem enviada ao congressista, o funcionário público escreveu: “aquele rapaz que me procurou dizendo que tem vacinas disse que não assinaram porque os caras cobraram dele propina para assinar o contrato”.

 

Em depoimento à CPI, o servidor afirmou que o “rapaz” é um servidor do Ministério da Saúde chamado Rodrigo, que agora os senadores querem convocar para o colegiado. “O Ministério estava sem vacina e um colega de trabalho, Rodrigo, servidor, me disse que tinha um rapaz que vendia vacina e que esse rapaz disse que alguns gestores estavam pedindo propina. Ele não citou o nome.” O servidor é Rodrigo de Lima, funcionário terceirizado da pasta.

 

Pazuello

O deputado do Distrito Federal disse que o general Eduardo Pazuello admitiu a ele ter deixado do comando do Ministério da Saúde porque não aceitou participar de um esquema de corrupção. "(Pazuello) Falou apenas que pessoas muito poderosas que são do Parlamento avisaram a ele que, se ele não soltasse aquelas famosas emendas de final de ano para um grupo específico – entregaram uma lista pra ele –, ele estaria fora", disse Luís Miranda à CPI.

 

E completou: "E, na aeronave, ele desabafa comigo: 'Eu sei que eu vou sair. Essa semana, eu saio'. E não tinha nenhuma notícia de que ele ia sair. Na semana, realmente, ele cai, nessa semana que segue".

 

O general disse a senadores governistas que ordenou em março uma apuração interna sobre o caso Covaxin ao então secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, e que nada teria sido encontrado.

 

De acordo com o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), o deputado do DEM disse na terça-feira, 22, que a saída de Pazuello tem relação com o processo da Covaxin. “Na conversa com a gente, ele (Miranda) disse que o Pazuello (Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde) caiu porque não teve como resistir a esse esquema. Por isso, foi substituído”, afirmou Renan ao Estadão.

 

De acordo com o deputado, informações suspeitas contidas na primeira versão da "invoice" (nota fiscal) da negociação pela vacina indiana motivaram uma reunião com Bolsonaro no dia 20 de março. Entre as informações questionadas, estão a exigência de pagamento antecipado e a quantidade de doses menores do que estava sendo negociado.

 

Após a reunião, o servidor da pasta alertou o irmão deputado sobre as suspeitas, conforme áudio exibido na comissão. "Pensa no preju", disse Luis Ricardo, se referindo às características da importação. Em outro áudio, o técnico do Ministério da Saúde responsável pelas importações fala: "Nunca recebi ligação de ninguém, já nesse, meu amigo, o que tem gente em cima pressionando... Aí você já fica com pé atrás, entendeu?"

 

Em sessão tumultuada, Luis Miranda diz que avisou Eduardo Bolsonaro sobre suspeita de corrupção na compra da Covaxin O deputado apresentou na CPI da Covid prints de conversas entre ele e o irmão, o servidor Luis Ricardo, sobre irregularidades no Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana Covaxin e a pressão para que se fechasse o contrato. "Eu conversei com o Eduardo Bolsonaro sobre as denúncias encaminhadas ao meu irmão e mandei para ele o contato, para que ficasse mais fácil de ele conversar", falou.

 

O vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) perguntou se Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez contato, e ele respondeu negativamente.

 

Luis Miranda continuou a mostrar o print das conversas com assessor do presidente Jair Bolsonaro, em que ele pedia que avisasse ao presidente que "está rolando um esquema de corrupção na aquisição da vacina". Ele insiste que se avise Bolsonaro. "Depois não quero ninguém dizendo que implodi a república".

 

Além dos prints, o servidor Luis Ricardo esclareceu que recebeu ligações aos sábados diretamente do dono da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano, para agilizar a compra.

 

A exibição dos prints e áudios foi constantemente interrompida por senadores governistas, que tentaram obstruir a sessão. Entre eles, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, é o mais exaltado, acusando a cúpula da CPI de antecipar julgamentos durante os questionamentos.

 

Veja a cronologia dos acontecimentos relatados pelos irmãos:

16/03: Precisa pede início do processo de importação da Covaxin.

 

18/03: Luís Ricardo disse que o seu setor recebeu um link com todos os documentos, incluindo a primeira invoice (nota fiscal). Após análise de um técnico, foi verificado que a empresa citada, a Madison Biontech, não estava no contrato, o termo de pagamento era 100% antecipado e a quantidade era de 300 mil doses, não os 4 milhões prometidos no contrato.

 

18/03: Solicita autorização para a fiscal do contrato, Regina Célia.

 

19/03: Coronel Pires, do Ministério da Saúde, encaminha a Luís Ricardo contatos de Maximiano, chefe da Precisa e da Global. O representante da empresa ia se reunir com o coronel Elcio Franco para agilizar. Durante toda a execução, Luís Ricardo recebeu mensagens, ligações e chamadas ao gabinete.

 

20/03: Luis Ricardo e Luís Miranda falam com Jair Bolsonaro sobre suspeitas na compra da Covaxin.

 

Posted On Sábado, 26 Junho 2021 07:13 Escrito por
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