Acossado pelas suspeitas em torno da compra da vacina Covaxin, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fustigou integrantes da CPI da Covid, repetiu que não há suspeitas de corrupção em seu governo e afirmou que a acusação sobre o imunizante indiano é a arma que sobra aos seus opositores
POR JOÃO PEDRO PITOMBO E RICARDO MARTINS
"Me acusam de quase tudo, até de comprar uma vacina que não chegou no Brasil. A acusação é a arma que sobra", disse o presidente nesta quinta-feira (24) na cidade de Pau de Ferros, no Rio Grande do Norte.
Repetindo o roteiro do discurso que fez mais cedo em Jucurutu (RN), Bolsonaro voltou a afirmar que não há suspeitas de corrupção em seu governo: "As poucas acusações que ocorrem são mentiras, são fake news".
O presidente da República também atacou a CPI da Covid e seu relator, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). "Não adianta inventarem CPI pra querer me tirar do poder. Sete senadores, tendo à frente Renan Calheiros, dizem que eu não dou bom exemplo por questão da pandemia. Renan Calheiros, siga o meu exemplo: seja honesto".
Mais cedo, em Jucurutu, Bolsonaro já havia falado indiretamente das suspeitas relacionadas à compra da vacina Covaxin. "Não adianta inventar vacina, porque não recebemos uma dose sequer dessa que entrou na ordem do dia da imprensa ontem. Nós temos um compromisso. Se algo estiver errado, apuraremos."
O presidente também voltou a defender o voto impresso, afirmando que, caso fosse aprovado pelo Congresso, já seria uma realidade nas eleições de 2022. A gente anda por aí, e o pessoal fala muito do voto impresso. Isso passa pelo Parlamento brasileiro. E tenha certeza de uma coisa, se passar pelo Parlamento e for promulgada essa PEC, nós teremos voto impresso no ano que vem."
Bolsonaro disse ainda que em seu governo não existe espaço para a corrupção. E para a tristeza de alguns poucos, o governo está completando dois anos e meio sem uma acusação sequer de corrupção. Nós temos um compromisso, se algo estiver errado, apuraremos. Mas, graças a Deus, até o momento, não temos um só ato de corrupção. Quem podia esperar isso daí?
O presidente indicou que não irá se pronunciar sobre as suspeitas relacionadas à Covaxin , ao afirmar que não tem que dar entrevistas e que não irá responder a perguntas de idiotas.
"Eu não tenho que dar entrevista. Eu não tenho que responder perguntas de muitos idiotas, que o tempo todo só vêm debaixo na gente. Não estou livre de errar, mas tenho humildade suficiente pra reconhecer, tudo isso acontece."
O presidente visitou o município de Jucurutu para participar de uma visita técnica à barragem de Oiticica, que, quando estiver pronta, atenderá 330 mil pessoas na região.
Em Pau dos Ferros, participou da assinatura da ordem de serviço do ramal do Apodi, canal que levará água da transposição do rio São Francisco até o Rio Grande do Norte.
Nos dois eventos, Bolsonaro estava acompanhado dos ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Fábio Faria (Comunicações) os três não usaram máscaras de proteção contra a Covid-19.
As suspeitas envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin atingiram o Palácio do Planalto, com o relato de que o próprio Bolsonaro foi alertado há mais de três meses dos indícios de irregularidades.
O surgimento de novos fatos resultou em uma nova linha de investigação da CPI da Covid, que se tornou central e deve nortear as atividades da comissão pelas próximas semanas. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que talvez seja a denúncia mais grave já recebida pelo colegiado.
O Planalto, por sua vez, reagiu no fim da tarde desta quarta-feira (23) escalando um dos investigados pela CPI para explicar o caso Covaxin Elcio Franco, assessor especial da Casa Civil e ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, mas sem conseguir rebater o eixo das suspeitas.
Bolsonaro ainda pediu para que a Polícia Federal investigue o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e o irmão dele, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), autores das acusações que o envolvem.
O caso em torno das suspeitas da compra da Covaxin pelo governo Bolsonaro foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo na semana passada, com a divulgação do depoimento de Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde.
Ele disse ao Ministério Público Federal que recebeu uma "pressão atípica" para agilizar a liberação da Covaxin, desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech.
O contrato de R$ 1,6 bilhão entrou na mira da CPI, que suspeita de favorecimento para a vacina indiana e, em particular, para a empresa brasileira Precisa Medicamentos, que atuou como intermediária no negócio.
A Covaxin é a vacina mais cara negociada pelo governo federal, com valor de R$ 80 a dose. Além disso, as negociações foram concluídas em tempo recorde, quando comparada com os processos com a Pfizer e o Instituto Butantan.
Rogério Marinho se posicionou favorável ao senador tocantinense durante almoço com mais de 20 prefeitos e vice-prefeitos nesta quarta-feira, 23 de junho
Por Fernanda Cappellesso
Em um almoço com mais de 20 prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e lideranças tocantinenses em Brasília, o Ministro do Desenvolvimento Regional (MDR), Rogério Marinho, pontuou que seu apoio nas eleições de 2022 para Governo do Tocantins está destinado ao senador Eduardo Gomes. O deputado federal Carlos Gaguim estava no almoço.
O ministro destacou ainda que, em sua opinião, Gomes, que é o atual líder do governo federal no senado, é o mais preparado e qualificado para ocupar o principal cargo do executivo tocantinense. Gomes, que tem uma boa relação com o Governo Federal, já conta também com o apoio de todos os outros ministros do Governo Federal e com mais de 100 prefeitos no Tocantins, graças ao seu trabalho para viabilizar recursos para atender às demandas todos os municípios do Estado.
Nos bastidores da política estadual já é tido como certo que Gomes comece visitas aos municípios no segundo semestre deste ano com intenção de levantar as reais necessidades do Tocantins para o seu plano de governo.
Deputado levou denúncia da Covaxin a Bolsonaro e acabou alvo do chefe da Secretaria-Geral, que anunciou processo contra o correligionário
Por Caio Barbieri
O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) reagiu, na noite desta quarta-feira (23/6), às declarações dadas pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral, Onyx Lorenzoni, sobre as denúncias levadas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre um possível esquema para favorecer a compra de vacinas Covaxin pelo Ministério da Saúde. Em pronunciamento à imprensa, o representante do Palácio do Planalto afirmou que vai processar o parlamentar por denunciação caluniosa, e o irmão do parlamentar, servidor do Ministério da Saúde, por prevaricação.
Em conversa com o Metrópoles, Miranda classificou as falas de Lorenzoni como “gravíssimas” e com a única intenção de tentar calar tanto ele quanto o irmão, o servidor concursado Luis Ricardo Miranda, após os documentos e as investidas para que Bolsonaro tomasse alguma atitude sobre o contrato da Covaxin se tornarem públicos.
“Fui ameaçado com a intenção clara de coagir as testemunhas, que somos eu e meu irmão. Ali ficou claro que a intenção dele [Onyx] é de nos coagir para que fiquemos calados e não tenhamos coragem de continuar”, afirmou.
O deputado federal também desmentiu o correligionário – ambos são filiados ao DEM – sobre a possibilidade de falsificação do documento com a intenção de compra dos imunizantes.
“Não tem documento falso coisa nenhuma, é documento interno do Ministério da Saúde. Além da ameaça feita pelo ministro, quem comete crime é ele, porque os documentos são do próprio ministério. Na mesma fala, ele [Onyx] diz que os documentos foram corrigidos. Afinal, são falsos ou foram corrigidos, como ele disse que ocorreu no dia 24 de março, dois dias depois da minha denúncia? Então manda-se corrigir um documento em vez de mandar apurar os possíveis crimes? A fala dele foi muito grave.”
Relação azedada
Questionado sobre a relação partidária com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luis Miranda desabafou sobre o posicionamento do Planalto e considerou as falas do ministro Onyx como uma “trairagem”. Ele também afirmou que o papel que exerceu foi de levar o caso ao presidente da República para que despachasse a denúncia para a Polícia Federal.
“Levamos o caso para que o presidente fizesse a denúncia, oficialmente. Nós somos apenas testemunhas. Não somos acusadores, o que demonstra total desespero do ministro Onyx. Ele tem algo a esconder? As falas dele são mais graves do que se podem aparentar. Ele se sentiu ofendido, porque por diversas vezes no início do mandato eu fiz outras denúncias sobre outros casos do Ministério da Saúde e ele não levou para frente. Eu tenho isso protocolado e entregue na agenda oficial dele. Eram denúncias sérias”, disse.
Miranda também afirmou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 sobre as declarações de Onyx Lorenzoni.
“Estou preparando o pedido para que o STF, bem como a CPI, avaliem se as palavras de Onyx não foram palavras claras de ameaça para coagir as testemunhas e com o objetivo de ficarmos calados na CPI. Se for o caso, vamos pedir a prisão dele. Não vou me sentir coagido, não. Vou botar ele na cadeia. Se ele tentar me ameaçar de novo, vou procurar todas as autoridades para que isso aconteça”, reforçou.
Mensagens a Bolsonaro
Mais cedo, a coluna também revelou os prints de conversas com WhatsApp entre o deputado federal e um dos ajudantes de ordem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no dia em que o parlamentar e o irmão foram ao Palácio da Alvorada para falar sobre indícios de irregularidades na compra de vacinas, antes de a confirmação chegar ao Ministério Público Federal (MPF).
A repercussão das denúncias levou o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a requisitar segurança para o deputado federal, ao irmão dele e também para familiares.
O parlamentar disponibilizou ao Metrópoles as mensagens encaminhadas a um secretário do presidente da República, com os alertas de uma possível corrupção no processo de compras do imunizante indiano. A pedido do congressista, o nome do militar foi preservado.
“Avise o PR [presidente da República] que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Ministério da Saúde. Tenho provas e as testemunhas. Sacanagem da porra… A pressão toda sobre o presidente e esses ‘FDPs’ roubando”, escreveu o parlamentar às 12h55 do dia 20 de março. Como resposta, o auxiliar de Bolsonaro respondeu com uma Bandeira Nacional.
Uma hora depois, Miranda insistiu: “Não esquece de avisar o presidente. Depois, não quero ninguém dizendo que eu implodi a República. Já tem PF e o caralho no caso. Ele precisa saber e se antecipar”. Da mesma forma, a resposta foi com o símbolo nacional.
O congressista, então, afirmou ao ajudante de ordens que estaria “a caminho”, dando a entender que faria uma visita a Bolsonaro no Planalto. Dois dias depois, no dia 22 de março, Miranda encaminhou documentos para o mesmo número do ajudante de ordens presidencial. “Meu irmão quer saber do presidente da República como agir”, insistiu.
Reunião com Bolsonaro
A coluna Janela Indiscreta confirmou que ambos estiveram no Palácio da Alvorada no dia 20 de março deste ano, quando o alerta teria sido feito ao chefe do Executivo sobre as investidas de autoridades do Ministério da Saúde para que a importação do imunizante indiano fosse acelerada. O depoimento do servidor do ministério foi dado ao MPF no dia 31 de março.
Tanto o deputado federal quanto o irmão devem ser ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 na próxima sexta-feira (25/6). O requerimento de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) é direcionado aos dois e foi aprovado nesta quarta-feira (23/6).
O convite surgiu após o MP propor abertura de investigação criminal para apurar se houve irregularidades na compra superfaturada pela União das doses da vacina indiana, produzida pela Bharat Biotech.
De acordo com Luis Miranda, documentos e prints de mensagens de WhatsApp levados ao chefe do Executivo comprovariam a pressão, por parte de integrantes do Ministério da Saúde, para a compra da Covaxin.
A Procuradoria da República no Distrito Federal apontou descumprimento no contrato assinado entre a Precisa Medicamentos, representante da farmacêutica no Brasil, e o ministério por possíveis quebra de cláusulas sobre a entrega do imunizante.
Entenda
Um documento do Ministério das Relações Exteriores mostra que o governo federal negociou, no início de fevereiro deste ano, a compra da vacina indiana Covaxin por um valor 1.000% mais alto do que o preço anunciado pela fabricante seis meses antes. As tratativas ocorreram, portanto, mais de um mês antes do encontro dos irmãos Miranda com Bolsonaro e da denúncia feita ao MPF.
Em agosto do ano passado, o imunizante contra a Covid-19 foi orçado em 100 rúpias, valor que equivale a US$ 1,34 a dose, segundo a Bharat Biotech, laboratório que fabrica o fármaco. A informação consta em um telegrama sigiloso da embaixada brasileira na Índia
O valor acordado com o Ministério da Saúde, no entanto, é mais alto — de US$ 15 por unidade, o que equivale a R$ 80,70, na cotação da época. A informação foi revelada pelo jornal Estado de S.Paulo.
Também chama atenção o fato de que, diferentemente das outras vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde, o contrato foi articulado com a Precisa Medicamentos, representante da Bharat Biotech no Brasil, e não com o próprio laboratório.
Outro telegrama do Itamaraty mostra que o embaixador brasileiro na Índia relatou críticas ao governo indiano por causa do valor pago pela vacina. Eles compraram o imunizante por US$ 4,10, quantia mais barata que a oferecida ao Brasil.
Entre os pontos de discordância, auxiliares do presidente estariam pressionando contra a taxação de investimento hoje isentos
POR BERNARDO CARAM E DANIELLE BRANT
O governo está finalizando a proposta de reforma do IR (Imposto de Renda), com previsão de envio do texto ao Congresso ainda nesta semana. Em um dos principais eixos da medida, não deve ser cumprida a promessa eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de aumentar a faixa de isenção para rendas de até cinco salários mínimos.
De acordo com um membro do Ministério da Economia, a pasta está em negociação final com Bolsonaro, mas o martelo ainda não havia sido batido até o início da tarde desta terça-feira (22).
Segundo relato, o Palácio do Planalto ainda pressionava por alterações que inviabilizariam a conta da reforma. Entre os pontos de discordância, auxiliares do presidente estariam pressionando contra a taxação de investimentos hoje isentos.
Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro afirmou que seu até então assessor econômico Paulo Guedes havia formulado proposta de reforma do IR com isenção para rendas de até cinco salários mínimos (R$ 4.770 em valor da época, ou R$ 5.500 hoje) e cobrança de 20% sobre todas as outras rendas.A proposta finalizada agora, com Guedes no posto de ministro da Economia, pode não chegar à metade do valor prometido pelo presidente. Os cálculos mais recentes do time do ministro apontavam para um aumento da faixa de isenção dos atuais R$ 1.903,98 para R$ 2.400,00. O presidente ainda tentava uma ampliação desse valor.
O patamar também é menor do que o apresentado por Bolsonaro no início deste ano, quando afirmou que tentaria ampliar a faixa para R$ 3.000 em 2022.

Na ocasião, ele argumentou que gostaria de alcançar o valor de R$ 5.000, mas disse que não conseguiria por causa da pandemia, que aumentou muito o endividamento do governo.
A reestruturação do IR será a segunda etapa da reforma tributária do governo. De acordo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o governo prevê a apresentação da proposta para esta quarta-feira (23).
A primeira fase da reforma, que unifica PIS e Cofins para criar a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), está no Congresso sem previsão de votação.
O plano de Guedes para o IR da pessoa física deve mudar apenas a faixa de isenção, sem alteração nas alíquotas existentes hoje, que variam de 7,5% a 27,5%.
Além disso, Guedes quer reduzir e unificar em 15% cobranças sobre investimentos em renda fixa, hoje regidos por uma tabela regressiva que vai de 22,5% a 15%, a depender do tempo de aplicação. Os detalhes da reestruturação já haviam sido antecipadas pelo ministro.
Para ampliar a arrecadação, a ideia é acabar com a isenção de produtos financeiros como LCI (Letra de Crédito Imobiliário), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e CRA (Certificado de Recebíveis Agrícolas). Este seria um dos pontos de pressão contrária vinda do Planalto.
O pacote do ministro também prevê a criação de tributação sobre a distribuição de dividendos, hoje isenta e que passaria a ser taxada em 20%. Nesse ponto, também houve pressão da ala política e o governo avalia criar uma faixa de isenção para ganhos de até R$ 20 mil por mês com dividendos.
Ainda na tributação sobre empresas, o plano prevê um corte de cinco pontos percentuais na taxação de IR de pessoas jurídicas. O patamar cairia de 25% para 20% em um período de dois anos.
O governo deve propor ainda a extinção do mecanismo de JCP (Juros sobre Capital Próprio), outra forma de distribuição de recursos aos acionistas.
As regras de aplicação das mudanças, em caso de aprovação da proposta, são variáveis e muitas vezes têm interpretações divergentes. Em geral, aumentos de tributos só passam a valer no ano seguinte à aprovação da mudança. Para reduções, a regra não se aplica.
Para as mudanças no IR da pessoa física, como a ampliação da faixa de isenção, a norma deve valer a partir de 2022, caso o projeto seja aprovado ainda em 2021. Isso porque o imposto já está sendo recolhido neste ano sob a tabela atual.
Para o fim da isenção sobre dividendos, LCI, LCA, CRI e CRA, técnicos afirmam que o início da cobrança poderá ser feito imediatamente após a aprovação do texto porque essa taxação já existia e depois houve a isenção. Nesses casos, a regra não valeria para investimentos anteriores, mas apenas para aplicações feitas após a aprovação da medida.
Em outra frente, o Senado vota nesta quinta-feira (24) projeto do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) que reabre o prazo de adesão ao Pert (Programa Especial de Regularização Tributária). A medida permite renegociação de dívidas com descontos e alongamento de prazos.
A ideia do texto se assemelha à proposta de passaporte tributário anunciada pelo governo e ainda não enviada. No entanto, o objetivo do plano do governo era conceder benefícios apenas a empresas em dificuldade, e não a todas as pessoas e companhias interessadas, como define o projeto que está no Senado.
O passaporte teria uma previsão para uso do prejuízo fiscal para abatimento da dívida das empresas, dando às companhias a possibilidade de iniciar uma nova vida fiscal.
A REFORMA DO IMPOSTO DE RENDA EM AVALIAÇÃO PELO GOVERNO
- Amplia faixa de isenção do IR para pessoa física. Equipe econômica definiu aumento de R$ 1.903,98 para R$ 2.400. Planalto ainda pressionava por valor maior
- Reduz e unifica em 15% cobranças sobre investimentos em renda fixa, hoje regidos por uma tabela regressiva que vai de 22,5% a 15%
- Acaba com isenção de produtos financeiros como LCI, LCA, CRI e CRA
- Amplia de zero para 20% a taxação sobre distribuição de dividendos. Governo avalia manter a isenção para ganhos de até R$ 20 mil por mês
- Extingue o mecanismo do JCP (Juros sobre Capital Próprio), usado pelas empresas para distribuir recursos aos acionistas
- Reduz IR de pessoa jurídica de 25% para 20% em dois anos
Medida irá agora para sanção presidencial
Por Heloisa Cristaldo
A Câmara dos Deputados aprovou nesta segunda-feira (21), por 258 votos a 136, o texto-base da medida provisória que viabiliza a privatização da Eletrobras. A proposta prevê, entre outras medidas, a emissão de novas ações da Eletrobras, a serem vendidas no mercado sem a participação da empresa, resultando na perda do controle acionário de voto mantido atualmente pela União. A matéria segue para sanção presidencial.
Analisado pelos senadores na semana passada, o texto precisava ser votado até terça-feira (22) para que não perdesse a validade. Dessa forma, uma sessão extraordinária da Câmara foi convocada para esta segunda.
A proposta permite que a empresa venda ações na bolsa de valores para diminuir a participação acionária da União, que também não poderá comandar o conselho da empresa, mas terá poder de veto sobre as decisões (golden share).
O texto do relator, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), também autoriza o governo federal a criar uma empresa pública ou sociedade de economia mista para administrar a Eletronuclear, estatal que controla as usinas de Angra e Itaipu Binacional. As empresas devem ficar sob controle da União.
O relator justificou a aprovação da medida em virtude da perda da capacidade de investimentos da Eletrobras. Segundo o deputado, entre 2011 e 2019 esses valores despencaram de uma média anual próxima a R$ 10 bilhões para 3,3 bilhões.
“Como consequência da perda de capacidade de investimento podemos citar a ausência da empresa nos últimos leilões de geração, o que tem contribuído pela gradativa perda de participação no mercado. Em 2011, a empresa detinha 36% da capacidade de geração e 56% das linhas de transmissão do país. Em 2019, esses percentuais caíram para 30% e 45% respectivamente. Ainda, de acordo com projeções do Ministério das Minas e Energia, caso seja mantida a tendência atual, devem atingir 23% e 32%, em 2029”, argumentou Elmar Nascimento.
A matéria prevê a contratação de energia de reserva de termelétricas movidas a gás natural em montante equivalente a 1.000 megawatt (MW) em estados do Nordeste que ainda não tenham gasoduto e outros 5 mil MW nas regiões Norte e Centro-Oeste.
O texto determina ao Poder Executivo que sejam contratados os empregados da Eletrobras demitidos sem justa causa nos 12 meses seguintes à desestatização em empresas públicas federais para cargos de mesma natureza e com salários equivalentes aos anteriormente recebidos.
Obstrução
Contrários à medida, Psol, PT, PSB e Novo entraram em obstrução para tentar adiar a votação da proposta. Segundo o líder da oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), partidos contrários à matéria entrarão com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a proposta.
“Vamos à Justiça tentar reverter esse absurdo que, além de um enorme prejuízo para o Brasil e os brasileiros, é inconstitucional. Uma imoralidade que vai pesar principalmente mais no bolso do consumidor brasileiro”, afirmou Molon.
Para a bancada do partido Novo, foram incluídos trechos por deputados e senadores alheios ao tema central, como contratação de termelétricas, prorrogação de incentivos fiscais e outros temas.
O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), defendeu a aprovação da matéria. Para o deputado, as mudanças incluídas pelos parlamentares tratam do setor energético.
“Se a medida provisória falar de energia, e nós dissermos que matéria pertinente com a energia é jabuti, depreciaremos o trabalho de deputados e deputadas que têm total respaldo para fazer quaisquer emendas que pensem ser meritórias, e o Plenário decide por sua maioria”, afirmou.