Ex-diretor da Qualicorp fechou delação e admitiu caixa dois para Serra

Posted On Sexta, 27 Novembro 2020 18:19
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O fundador da Qualicorp, José Seripieri Filho, assinou na quinta-feira (26) um acordo de delação premiada junto à Procuradoria-Geral da República (PGR)

Com Agências

 

O ex-diretor-presidente de um dos braços da Qualicorp no setor de planos de saúde, Elon Gomes de Almeida, fechou um acordo de delação premiada com a Justiça Eleitoral de São Paulo e admitiu o pagamento de aproximadamente R$ 5 milhões em caixa dois para a campanha do tucano José Serra ao Senado em 2014. É a primeira delação premiada que envolve o setor de planos de saúde.

 

A delação de Elon foi a base para a operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira que, com autorização da Justiça Eleitoral, realiza busca e apreensão em endereços ligados a Serra e prendeu o ex-presidente do grupo Qualicorp, José Seripieri Filho.

 

Fundador da empresa Aliança, controlada pela Qualicorp, Elon era pessoa de extrema confiança de Seripieri Filho e responsável por operacionalizar os repasses a políticos.

 

Elon afirmou em sua delação premiada que o repasse de caixa dois para Serra foi acertado por Seripieri, responsável no grupo Qualicorp por manter relações com políticos. O ex-diretor disse que, após o acerto feito por Seripieri, coube a ele realizar o repasse, por meio de contratos fictícios com empresas que posteriormente abasteceriam a campanha de Serra.

 

Em seu depoimento, Elon disse que não houve acerto de contrapartida a ser dada por Serra ao grupo empresarial. Segundo Elon, o caso seria estritamente de caixa dois, sem nenhum benefício prometido pelo tucano durante seu mandato.

 

De acordo com investigadores, o conjunto de provas entregue por Elon incluiu os comprovantes das transferências de recursos e contratos fictícios, sem prestação de serviços.

 

Seripieri sempre teve relações próximas com políticos. Em 2014, recebeu em seu casamento, em Bragança Paulista (SP) recebeu nomes como o então governador Geraldo Alckmin, José Serra e Gilberto Kassab, além da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Elon Gomes de Almeida havia sido alvo da Operação Acrônimo, deflagrada em dezembro de 2015 e que investigou o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). No curso das investigações, ele cenfessou ter pago caixa dois a uma das campanhas eleitorais de Pimentel. Com isso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu o reconhecimento de sua confissão e a redução de sua pena.

 

Depois disso, o empresário procurou a Justiça Eleitoral de São Paulo e fechou um acordo envolvendo o caixa dois para José Serra.

 

Elon fundou a empresa Aliança Administradora de Benefícios de Saúde, que era controlada pela Qualicorp. Em 2017, a Qualicorp comprou o restante da participação societária na Aliança e passou a deter 100% da companhia. Na ocasião, Elon deixou o cargo de diretor-presidente da Aliança.

 

A Qualicorp também havia sido citado na delação premiada do ex-ministro petista Antonio Palocci. No seu acordo fechado com a PF, Palocci afirmou que a Qualicorp fez pagamentos a uma empresa de um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em troca de obter benefícios na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

 

Réus na Justiça Eleitoral

No último dia 4, o senador José Serra e os empresários José Seripieri Filho, da Qualicorp, Mino Mattos Mazzamati e Arthur Azevedo Filho se tornaram réus na Justiça Eleitoral em São Paulo. Eles são acusados de caixa dois, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O caso tramita em sigilo até o próximo domingo (28), quando acontece o segundo turno das eleições municipais, para que as informações não sejam usadas nas campanhas.

 

A defesa do senador José Serra afirmou em nota que "repudia com veemência a denúncia oferecida contra ele pelo Ministério Público Eleitoral na noite desta quarta-feira (4), formulada com base em uma investigação vazia, sobre a qual ele nunca teve nem mesmo a oportunidade de ser ouvido".

 

"A acusação, oferecida às pressas e sem fundamento, constrói uma narrativa fantasiosa, que será devidamente desmentida pelos fatos. O episódio reforça o caráter espetaculoso de mais esta ação contra o senador, cuja reputação e carreira são destacadamente incompatíveis com as práticas que lhe foram atribuídas. José Serra reitera sua confiança na Justiça", disse a nota dos advogados Flávia Rahal e Sepúlveda Pertence.

 

Procurado, o empresário José Seripieri Filho, da Qualicorp, disse também por meio de nota que "o Ministério Público Eleitoral apresentou uma denúncia repleta de ilegalidades", onde "permanece ainda o ambiente de excessos, apesar das correções já feitas pelo Supremo Tribunal Federal".

 

"Ao apurarem uma doação eleitoral, os denunciantes conseguiram transmutar essa ação em crime típico de funcionário público, mas atribuído a uma pessoa de atividade privada, o que é vedado pela lei. E, ao que parece, levou a contradições inerentes à própria delação colhida anteriormente, que pode ter sido ou esquecida ou confundida. Difícil saber pela peça do MPE. Diante de tão frágil alegação e do pouco nexo probatório, a denúncia deve ter vida breve nos tribunais. Sim", disse Seripieri Filho.