Se para bom entendedor meia palavra basta, a senadora Dorinha Seabra, presidente estadual do União Brasil, deu a palavra inteira em recente entrevista a um programa de rádio: “meu candidato, o que tenho compromisso para o senado é o governador Wanderlei Barbosa”. Ou seja, nenhuma menção de possibilidade de apoio à candidatura natural do vice-governador, Laurez Moreira, ao governo em 2026.
Por Edson Rodrigues
Como o nome de Dorinha sempre é lembrado como possível candidata ao governo, ela mesma se prontificou em afirmar que “meu nome está sempre à disposição”.
Com essas afirmações, os principais analistas políticos do Tocantins apontam que, em síntese, Dorinha, abriu o jogo sobre seu projeto político, o que soou como uma declaração de independência em relação ao grupo político palaciano, uma vez que, sendo parte da base de apoio, entende-se que Dorinha teria que seguir as orientações do líder do grupo, governador Wanderlei Barbosa, e, no caso, apoiar a candidatura de Laurez ao governo em 2026.
MOVIMENTOS ESTUDADOS
Prefeito de Araguaína Vagner Rodrigues e senadora Dorinha Seabra
O Observatório Político de O Paralelo 13 avalia as declarações de Dorinha como uma demarcação de território político e que esses movimentos foram estudados com antecedência. Basta lembrarmos do anúncio da filiação de Wagner Rodrigues, prefeito de Araguaína, ao União Brasil, sob as bênçãos da senadora, e o sumiço do deputado federal Carlos Gaguim dos eventos e solenidades do grupo palaciano, quando, até algum tempo atrás, era “figurinha carimbada” em qualquer tipo de evento.
Pelo visto, o projeto político de Dorinha Seabra já está sendo colocado em prática, ao mesmo tempo em que outros parlamentares tocantinenses no Congresso Federal demonstram também estar ensaiando um distanciamento estratégico do Palácio Araguaia, na intenção de demonstrar independência e mostrar uma fragilização do governo de Wanderlei Barbosa, que estaria “à deriva”.
O resultado dessa movimentação poderá ser medido nas eleições municipais do ano que vem.
DE SENADOR A GOVERNADOR: TABU A SER QUEBRADO
Dorinha Seabra terá que quebrar um tabu político do Tocantins, nos 35 anos de emancipação política, nenhum senador eleito no Estado conseguiu êxito em se tornar governador. De Irajá Abreu, ainda em mandato, passando por Vicentinho Alves, Eduardo Siqueira Campos, Luiz Maia Leite, João Rocha, Leomar Quintanilha, Carlos do Patrocínio, Moisés Abrão e Kátia Abreu, ninguém conseguiu “pular” da Casa Alta para o Palácio Araguaia.
Laurez Moreira, Wanderlei Barbosa Dorinha Seabra em registro de candidaturas
Agora, além da demonstração de independência, Dorinha precisa formatar seu grupo político, após as eleições de 2024, para agir de forma oposicionista ao governo de Wanderlei Barbosa, uma vez que o candidato do atual governador será o seu vice, Laurez Moreira, ressaltando que Dorinha se elegeu senadora com o apoio do grupo palaciano.
Desta forma, a senadora terá que se mostrar mais forte que o próprio Wanderlei Barbosa, após as eleições municipais, para justificar a saída de membros da base de apoio ao governo para engrossar as fileiras da campanha de Dorinha ao governo.
Tudo isso sem combinar com o eleitor e ignorando o fato de Wanderlei Barbosa jamais ter perdido uma eleição, mesmo sem o apoio dos prefeitos de Araguaína, Gurupi, Paraíso do Tocantins e Porto Nacional, que não apoiaram a sua reeleição em 2022 e o fato de ainda restarem, pelo menos, mais dois anos e meio para governar, ajustar a máquina pública e fazer política nos 139 municípios.
Dorinha se declarar candidata ao governo, mesmo que de forma velada, é seu direito democrático, inclusive o de querer que seu partido cresça nas eleições municipais de 2024, consolidando seu grupo político.
Assim como é direito dos componentes do grupo governista considerar essa movimentação de Dorinha um sinal de que seu lugar não é, mais, sob o teto do Palácio Araguaia, assim como o dos seus indicados com cargos no governo estadual.
Assim é a democracia!