A sucessão municipal em Palmas não é um jogo de loteria. Vários partidos têm bons nomes mas, apesar disso, o que decide, mesmo, é a “matéria prima”, leia-se infraestrutura partidária, fundo eleitoral e trabalho de marketing para garantir a cobertura jornalística.
Por Edson Rodrigues
O pleito pode ser comparado a uma corrida automobilística, quando, antes da largada, há o treino oficial, que coloca os mais capazes à frente dos demais. Numa metáfora atual, separa quem está de Mercedes, com a máquina na mão, e quem está de Williams, correndo apenas para manter o nome na praça.
Seguindo essa linha, a pole position pertence à prefeita, Cinthia Ribeiro, que tem várias obras e ordens de serviço de vantagem sobre todos os demais “corredores”. A pergunta que não quer calar é: os demais corredores vão atuar em equipe, quantos são, ou será cada um por si, brigando uns com os outros, pra ver quem chega em segundo?
Tudo isso precisa ser ponderado, lembrando que, sem infraestrutura partidária e sem união, nenhum dos demais concorrentes pode fazer frente à atual prefeita da Capital.
POÇOS DAS VAIDADES
Entre os vários pré-candidatos, cada um tem uma vaidade, um interesse pessoal que pode afastá-lo das primeiras posições no “grid de largada”, com a exceção de dois ou três, que ainda dependem da capacidade própria de aglomerar partidos, somar forças e aglutinar lideranças partidárias em torno de suas pretensões, mesmo que sejam de partidos nanicos, pois não estamos, aqui, a analisar números, mas potenciais eleitorais.
O grande perigo para esses demais candidatos é o que farão com o Fundo Partidário. Será que vão pensar no “macro” e realizar boas intervenções no Horário Gratuito de Rádio e TV ou se vão “esquecer” dos candidatos majoritários e cuidar apenas do próprio umbigo.
Essas “vaidades” têm que ser observadas e avaliadas pelo conjunto de forças políticas, antes de dar início aos trabalhos efetivos da campanha eleitoral, pois um candidato fora do tom, pode comprometer todos os demais.
Há de se observar que a campanha eleitoral em Palmas tem um custo alto, diferenciado. Só um bom marqueteiro não sai por menos de 500 mil reais, sem contar a produtora de rádio e TV, o custo gráfico, com pessoal, com palanques, som, auxiliares, técnicos, assessoria jurídica e contábil e a estrutura de pequenas – mas muitas – visitas, sempre prestando atenção aos cuidados com a Covid-19.
AINDA NÃO COMEÇOU
Para os desavisados, que acham que as candidaturas já estão definidas e em confronto entre si, vale lembrar que nada começou de verdade. Enquanto não se definir quem e quantos serão os candidatos, não há estratégia definida nem planejamento de campanha estabelecido.
Em um colégio eleitoral com pouco mais de 180 mil eleitores aptos a votar, espera-se uma abstenção beirando os 35%, 2% de votos em branco e 3% de votos nulos. Analisando as pesquisas de consumo interno de vários partidos, realizadas por diversas empresas, no Tocantins e em outros estados, nenhum pré-candidato a prefeito conseguiu atingir os 20% das intenções de voto, uma prova clara e límpida de que o eleitor, dentre eles o palmense, ainda não escolheu o seu candidato e há, sim, um vácuo a ser explorado pelos candidatos.
PANDEMIA
Segundo os técnicos do Ministério da Saúde, Brasília, Goiânia e Palmas estão entre as capitais em que os índices de contaminação e óbitos devem começar a cair a partir de meados de setembro.
Isso significa que os pré-candidatos terão tempo de campanha em sua plenitude, os 45 dias estabelecidos pela legislação, e com a possibilidade de pequenas reuniões e o – até agora impensável – famoso trabalho de corpo a corpo, o que possibilitará aos institutos de pesquisas, reais condições para desenvolver um trabalho que reflita a realidade do eleitorado palmense.
VITÓRIA OU DERROTA SEPARADOS POR UM FIO
A sucessão municipal em Palmas não é, definitivamente, um jogo de loteria. Vitória e derrota caminham juntas, separadas por um fio, representado pela visão estratégica e pelo conhecimento de cada pré-candidato a respeito do eleitorado.
É sabido que, pelo menos, 80% das pré-candidaturas apresentadas têm objetivos diferentes de uma vitória nas urnas. Esses postulantes estão candidatos para promover interesses pessoais, manter seu nome em voga ou mapear território visando às eleições de 2022. Já outros, mesmo sem nenhuma expressão política, estão no páreo com seriedade, acreditando que Davi sempre vence Golias.
Mas, existem as candidaturas com potencial, dinheiro e vontade de se eleger, porém, ainda lhes falta um grupo político capaz de aglutinar outras forças ao seu projeto, sempre lembrando que, para isso, será necessário administrar egos e vaidades para conseguir harmonia e união.
CÍNTHIA RIBEIRO
Em termos de administração pública, a prefeita de Palmas vai muito bem, com suas ações de enfrentamento a pandemia elogiadas pela mídia, muitas obras sendo entregues e outra iniciando.
Mas, como já se sabe, apenas isso não garante uma reeleição. A prefeita precisa colocar em prática, de forma urgente, suas estratégias de campanha, fechar acordos e assumir compromissos políticos, e costurar coligações majoritárias sem, no entanto, terceirizar as negociações de apoio junto aos mais de cem candidatos a vereador que virão em sua chapa.
Cínthia também precisará estar preparada para os piores momentos que enfrentará em sua vida pública, que são os ataques que sofrerá durante a campanha, pois, uma vez postulando uma reeleição, ela torna-se a única “vidraça”, alvo de todos os demais. A única forma de encarar esse desafio é com uma ótima equipe de marketing e conselheiros experientes.
O papel que a oposição vai desempenhar nessas eleições faz parte do jogo democrático, porém, sabe-se que nem todos jogam limpo e, com o anonimato incorreto das redes sociais, as baixarias serão certas, transformando as redes sociais em um verdadeiro “esgoto” de fake News e denuncismo.
Espera-se que, pelo menos, no Horário Eleitoral Gratuito de Rádio e TV as participações sejam respeitosas e dentro da Lei, mas acreditamos que isso se dará, apenas, com raríssimas exceções. O tom da campanha será o de belicismo, tendo como alvo principal a prefeita, Cínthia Ribeiro, que precisa estar psicológica e estrategicamente preparada.
SUA MAJESTADE, O ELEITOR
Embora não seja tratado assim durante, praticamente, três anos e meio, no período eleitoral o eleitor ganha status de majestade, passando a ser tratado com toda pompa e cerimônia, mesmo que falsamente, na maioria das vezes, pela classe política.
Afinal, é o voto de cada cidadão que permitirá, ou não, a eleição dos postulantes a um cargo eletivo.
Pois essa “majestade” nunca foi tão maltratada em um período pré-eleitoral. Cerca de 53% dos eleitores palmenses, segundo dados da última pesquisa de consumo interno de um grande partido, feita por um instituto de renome nacional, estão ou desempregados ou endividados. Há ainda aqueles que sobrevivem com os parcos repasses dos programas sociais do governo federal. Esse eleitorado está na base da pirâmide social da Capital, e será ele quem decidirá pela vitória ou derrota dos postulantes.
Segundo as pesquisas, a grande preocupação desse eleitor, hoje, é não deixar sua família passar fome, garantir os estudos de seus filhos e, ao mesmo tempo, evitar uma contaminação por Covid-19.
Espera-se que até a primeira semana de outubro Palmas comece a voltar à sua normalidade social. A grande questão será qual o tipo de discurso e qual projeto de governo que irá encorajar o eleitor a deixar a comodidade de sua casa para ir até uma urna, depositar seu voto.
Os postulantes às cadeiras de prefeito e vereador em Palmas terão que apresentar propostas muito afinadas com os desejos da população, pois, para ter “mais do mesmo” ou ter que escolher entre candidatos paraquedistas, com quem não tem nenhuma afinidade, o povo prefere ficar em casa.
As eleições deste ano na Capital do Tocantins não serão uma loteria, mas um minucioso jogo de convencimento, em que as preocupações com o futuro da cidade e de sua população terão que estar muito bem claras, em planos e projetos muito bem elaborados.
Caso contrário, a abstenção recorde será fato e os candidatos eleitos não terão respaldo popular, o que transformará mandatos em uma verdadeira “via crucis”.
O povo não é bobo. Estamos de olho!