Seguindo o tom de embate, Geraldo Alckmin foi diversas vezes questionado sobre corrupção; aliança com “centrão” também foi tema
Por iG São Paulo
Terceiro candidato à presidência da República nas eleições de 2018 a ser entrevistado pelos apresentadores do Jornal Nacional , o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin teve de responder, nesta quarta-feira (29) a perguntas capciosas de William Bonner e Renata Vasconcellos.
Já na primeira questão, logo após o tradicional “boa noite” de Bonner, Vasconcellos levantou o tema das alianças de Geraldo Alckmin com o “centrão” – bloco de partidos conservadores que conta com a impressionante marca de 41 deputados investigados pela operação Lava Jato. Como o candidato explica essa aliança ao eleitor?
O tucano argumentou, em resposta, que “todos os partidos tem bons quadros” – pretendendo exemplificar o que disse, Alckmin citou a senadora Ana Amélia (PP), que é vice em sua chapa presidencial. Ainda, pontuou, cabe ao presidente o dever de forma maiorias para conseguir aprovar leis no Congresso, e a aliança com o ‘centrão’ teria também essa função. Quanto aos investigados, disse, a Justiça dirá se são culpados ou não.
A resposta, no entanto, não satisfez Vasconcellos. Em uma longa intervenção, ela leu o histórico de um dos candidatos apoiados localmente pelo PSDB, o ex-presidente Fernando Collor (PTC). A jornalista resgatou, ainda, uma frase do próprio Alckmin, que em 2006 citou em entrevista a famosa passagem bíblica: “diga-me com quem andas que te direi quem és”. E então, candidato?
Frente a questionamento tão contundente, o tucano negou que seja apoiado por Collor, e reafirmou: “A sociedade quer que haja investigação, com punição para quem precisa ser punido e absolvição para quem deve ser absolvido. Eu apoio a Lava Jato”. Sobre a relação com Collor, ele afirmou que o PSDB de Alagoas o apoia, não o PSDB nacional. A sopa de siglas partidárias no país, diz o ex-governador, gera situações como essa, daí a necessidade de uma reforma política, defendeu.
O assunto é a relação de Geraldo Alckmin e Aécio Neves
Um assunto incômodo aos tucanos veio à tona na entrevista do presidenciável ao JN: Aécio Neves . Com “eloquentes e explícitos” áudios, nas palavras de Bonner, que comprovariam o envolvimento de Aécio com corrupção, porque o PSDB não se move para o expulsar do partido?
O ex-governador paulista insiste, então, que o tucano mineiro não foi condenado pela Justiça. E acrescentou que, se for considerado culpado, deverá pagar pelos crimes cometidos. “Não transformamos réu em vítima. O Aécio foi afastado da presidência do partido. Só fui eleito presidente do partido porque ele foi afastado”.
Vasconcellos, então, levanta outro assunto incômodo: os delatores de empreiteiras que apontam que remeteram largas somas de dinheiro para campanhas de Alckmin – seguindo a tortuosa lógica do “caixa 2”. Se o PSDB dá tanto crédito aos delatores de Lula, porque diminuem o crédito dos delatores quando os delatados são tucanos?
“Isso que foi dito na delação é mentira. As minhas campanhas sempre foram feitas de maneiras simples e dentro da lei. Da minha família ninguém participa de governo. É importante separar o joio do trigo”, disse, no que foi lembrado por Bonner que não apenas um, mas três delatores contam a mesma história referente às doações ilegais para sua campanha ao governo de São Paulo.
Ainda em terreno espinhoso, Bonner pede que Alckmin explique as supostas fraudes que teriam norteado a licitação do Rodoanel em São Paulo. O ex-governador afirma acreditar na inocência de Laurence Lourenço, um dos responsáveis pelas obras e que se encontra preso acusado de corrupção.
“Houve questionamentos técnicos ao longo da obra e Laurence corretamente pediu que os envolvidos se manifestassem. Técnicos apontaram a dificuldade imposta pelo volume de rochas – o Banco Interamericano do Desenvolvimento, que participou das obras, concordou. Acho que o Laurence está sendo injustiçado. Espero que quando ele for absolvido tenhamos o mesmo espaço na imprensa para falar da absolvição”, disse o tucano.
Em seguida, a bancada do JN inquiriu o ex-governador paulista sobre a ascensão do PCC, maior facção criminosa do país que, desde presídios em São Paulo, comandaria o crime e diversos estados brasileiros. A política tucana para a segurança pública falhou nesse ponto?
“A nossa política de segurança é um exemplo”, defendeu-se. “Temos a melhor polícia, a melhor tecnologia do Brasil. Reduzimos drasticamente o número assassinatos no estado”. Questionado se a queda das mortes não seria decorrente de um acerto com o PCC, rebateu: “É inacreditável alguém dizer que 10 mil pessoas deixam de ser mortas por anos por uma proposta do crime, e não por ação governamental”.
O tucano negou, por fim, que o PCC controle o crime de dentro das prisões. “Nego isso. São coisas que são repetidas até tornarem-se realidade. Temos penitenciárias de segurança máxima antes de o governo federal instituir a medida”.
Acabado o assunto, os entrevistadores passaram a tratar da mobilidade urbana. Segundo Bonner, obras no metrô, programadas para serem entregues em 2014, estão ainda paradas. Nesse quesito São Paulo será um exemplo para o Brasil?
“O Rodoanel foi quase todo entregue. Ano que vem terminaremos os 180 km de anel metropolitano. Em oito anos, em plena crise, sozinho, sem aportes federais, entregamos quase 50% do metrô e do trem”, enumerou o tucano.
Mas, disse Bonner, e quanto ao déficit de moradias, que extrapola um milhão de casas e que agravou durante o mandato de Alckmin?
“São Paulo é o único estado do Brasil que investe 1% do ICMS só em moradia. Fizemos a primeira parceria público-privada de habitação, para revitalizar o centro de São Paulo. Complementamos recursos do Minha Casa Minha Vida. O déficit não aumentou só em São Paul, mas no país todo, em razão da crise econômica dos últimos anos”, disse o candidato.
Terminou, assim, o escrutínio do tucano no Jornal Nacional . Geraldo Alckmin arrematou, então, com suas considerações finais: “O Brasil que eu quero é um país de oportunidades para todos. Temos pressa e precisamos mudar, precisamos de reformas. Vamos fazer rápido as reformas que o pais precisa”, concluiu.