No clássico filme Todos os Homens do Presidente, os repórteres que buscavam provar o envolvimento do governo Richard Nixon num esquema para prejudicar o partido Democrata recebem da sua fonte a dica “siga o dinheiro” (você pode assistir à cena aqui). “Seguir o dinheiro” virou um clichê de todas as investigações políticas; afinal, é o rastro do dinheiro que liga os pequenos operadores do dia-a-dia com quem realmente tem o poder.

 

Por Thomas Traumann

 

O inquérito do Supremo Tribunal Federal que apura a disseminação de notícias distorcidas (“fake news”), a organização de manifestações pró-ditadura e as dezenas de youtubers que defendem o fim da democracia está repetindo a tática do “siga o dinheiro”. Hoje a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nas casas de dirigentes do Aliança pelo Brasil, o novo partido do presidente Jair Bolsonaro, e youtubers da extrema-direita. Essa é a primeira ação solicitada pela Procuradoria-Geral da República, que até agora se mantinha neutra na investigação do Supremo Tribunal Federal.

 

O principal alvo da ação de hoje é o advogado Luís Felipe Belmonte, vice-presidente do Aliança Pelo Brasil, tão ligado à família Bolsonaro que é o número três do partido depois do presidente e do seu filho Flavio. Como mostra esta reportagem de VEJA, Belmonte mantinha contato com os organizadores de manifestações pela ditadura, como a Organização Nacional dos Movimentos (ONM) e o Movimento Direita Conservador (MDC).

 

Também foram revistadas as casas do deputado Daniel Silveira, do PSL, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, e o publicitário Sergio Lima, marqueteiro da Aliança Pelo Brasil. Esta é a segunda operação da Polícia Federal referente ao inquérito presidido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes sobre fake news e ameaças à democracia.

 

Ao longo das investigações, o inquérito do STF recolheu provas de um esquema profissional de difamação e ameaças aos ministros do próprio STF, líderes do Congresso e governadores. Esse esquema inclui a sustentação financeira de blogs e páginas do YouTube, contratação de profissionais para organizar correntes de WhatsApp, pagamento de gráficas, carros de som e material de campanha política pró-ditadura.

 

Há fortes indícios de que este esquema teria sido iniciado ao longo da campanha de 2018, com o pagamento de um mensalão por parte de empresários para apoiar a campanha presidencial de Jair Bolsonaro. Em português, isso é caixa-dois, crime passível de cassação da chapa eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral pediu ao STF que compartilhe as provas obtidas neste inquérito para futuros julgamentos de impugnação da chapa Bolsonaro-Mourão. É por isso que o presidente sempre reage com o fígado quando avançam as investigações sobre essa turma.

 

Depois da posse de Bolsonaro como presidente, o mensalão empresarial teria continuado, ora para financiar ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ora contra ministros do STF como Alexandre de Moraes e Celso de Mello ou ainda governadores, como João Doria. Os empresários envolvidos estão sendo investigados. O dinheiro deixa rastro.

 

 

 

Posted On Quarta, 17 Junho 2020 08:05 Escrito por O Paralelo 13

Relato de ministro demissionário também sugere prevaricação

 

POR KENNEDY ALENCAR
Washington

 

Sendo verdade o que disse o ministro demissionário Sergio Moro, o presidente da República cometeu crime de responsabilidade ao dizer que desejava indicar para a direção-geral da Polícia Federal alguém que lhe desse informações sobre investigações sigilosas.

 

Sendo verdade o que disse Moro, ele prevaricou ao não revelar pressões indevidas do presidente da República que foram feitas desde o segundo semestre do ano passado.

 

Bolsonaro ficou mal na foto. Mas Moro também, porque trouxe tais informações a público somente depois de ser levado a pedir demissão pelo chefe. Esse relato sugere prevaricação.

 

Quando Moro diz que Bolsonaro queria um diretor-geral da PF para o qual pudesse ligar e obter informações sigilosas, fica claro que, no cargo de ministro da Justiça, ele testemunhou um crime de responsabilidade do presidente. Bolsonaro precisa dar resposta a acusação tão grave.

 

Deu ruim

Moro jogou para ficar e perdeu. Ameaçou pedir demissão a fim de ganhar a batalha para manter Maurício Valeixo na direção-geral da PF. Mas Bolsonaro não topou e o forçou a sair.

 

No governo Lula, Antonio Palocci Filho teve sucesso ao adotar essa tática até o surgimento do caseiro Francenildo. Na administração FHC, Pedro Malan levou todas.

 

O discurso de Moro de que desejava evitar interferência política na PF não fica de pé. Ele queria ter o monopólio da interferência, a carta branca que Bolsonaro teria lhe dado.

 

Moro usou o peso da PF para intimidar um porteiro que deu depoimento incômodo para a família Bolsonaro no caso Marielle. Ele tentou destruir material da Vaza Jato em proveito próprio. Não agiu corretamente, apesar de vender um discurso de cavaleiro do combate à corrupção que tem cadeira cativa na praça.

 

No final do pronunciamento de hoje, Moro se colocou à disposição do país. Abre, assim, a possibilidade de ser candidato a presidente em 2022. Ele continua a ser a principal ameaça à democracia brasileira.

 

Estranho

Questões de foro íntimo devem ser sempre respeitadas. É legítima a preocupação de Moro com o futuro da família caso algo lhe aconteça. Mas é inusual um magistrado experiente fazer acerto informal de pensão para entrar no governo. Teve contrato de gaveta?

 

Posted On Sexta, 24 Abril 2020 13:38 Escrito por O Paralelo 13

Uma nanopartícula, o novo coronavírus, provocou mudanças abissais e tectônicas na sociedade, no trabalho, no amor e até no poder dos governos. Elas vieram para ficar

 

Por Helio Gurovitz

 

A primeira constatação sobre o que vem por aí depois da pandemia é simples, acaciana até: não dá para saber. São tantas as variáveis em jogo que qualquer previsão será frustrada. A única certeza é a mudança. Não apenas nos hábitos — e nada tão certo quanto mudanças de hábitos. Assim como nos acostumamos ao cinto de segurança ou a gastar menos energia depois do apagão, é possível imaginar um mundo em que persistam o sabão, o álcool em gel e o “distanciamento social”. Menos apertos de mão e beijinhos no rosto.

Menos eventos irrelevantes, menos viagens de avião desnecessárias ou reuniões inúteis — fala-se em economias anuais na casa do trilhão de dólares só com isso. Escritórios com pelo menos metade do tamanho atual. Mais gente trabalhando em casa, para alegria de Slack, Zoom, Teams, Webex, Hangouts, Classroom ou outros badulaques digitais de nome em inglês. Se os novos hábitos persistirem no mundo corporativo, deverá haver um salto enorme na produtividade (sei bem disso, trabalho em casa há cinco anos). As mudanças poderão se estender a outros aspectos da sociedade.

Talvez haja mais espírito cívico, mais voluntários a ajudar idosos ou grupos ameaçados pelas novas ondas do vírus. Maior respeito por quem trabalha no serviço público ou pelos profissionais de saúde, heróis indiscutíveis no combate à pandemia. Poderemos, numa visão otimista, rumar para um mundo em que a ameaça comum do vírus acabe por gerar mais união em vez de divisão.

 

A principal razão para o otimismo é que, embora venha sendo comparada a guerras ou às crises financeiras do passado recente, a pandemia tem um impacto de outra natureza. Mexe diretamente com a saúde e a vida. “Comparado à opaca crise financeira, com seus ‘credit default swaps’ ou ‘collateralized debt obligations’, o coronavírus é relativamente fácil de entender”, afirmou o escritor americano Peter C. Baker.

“É uma dúzia de crises emaranhadas numa só, e todas se desenrolam imediatamente, de modo inescapável. Políticos ficam infectados. Celebridades ricas ficam infectadas. Amigos e parentes ficam infectados. Podemos não estar exatamente ‘todos juntos nessa’ — como sempre, os pobres sofrem mais —, mas essa é uma sensação mais real do que jamais foi depois de 2008.” Talvez, disse Baker, possamos ver nossos problemas como comuns, e a sociedade como mais do que “uma massa de indivíduos competindo uns contra os outros por riqueza e status”.

 

Nas palavras da analista Mira Rapp-Hooper, do Council on Foreign Relations (CFR), “a Covid-19 não tem ideologia”. Revela a importância da boa governança em qualquer regime. Não será vencida na base do tacape ou das armas, pelos brucutus que berram ignorância nas redes sociais. Nossas armas contra aquele grãozinho de poeira nanoscópico precisam ser mais sofisticadas: o conhecimento científico, o trabalho paciente e diuturno nos laboratórios de pesquisa, a agilidade e a qualidade do atendimento médico. É na criatividade e no engenho do cérebro humano que os otimistas depositam suas esperanças.

Posted On Quarta, 15 Abril 2020 12:31 Escrito por O Paralelo 13

Jorge Oliveira

Alemanha, Berlim – Vamos botar os pingos nos is: é imoral que o governo da Dilma gaste 65 bilhões de reais com o Bolsa Família, 20% a mais do que investe na educação. Quase 15 milhões de famílias estão nesse programa que forma o maior contingente de cabo eleitoral do mundo, uma vergonha nacional. Na ditadura militar dizia-se que manter um país de analfabetos era ter o apoio da massa alienada e subjugada que se contentava com o pão e circo oferecido pelos déspotas. O governo petista adota o mesmo critério no poder: gasta uma montanha de dinheiro para domesticar milhões de miseráveis com recursos que poderiam ser aplicados na educação e na infraestrutura para gerar emprego e renda ao invés dessa doação terceiro-mundista. Um escárnio. Já foi pior, mas ainda continua desastrosa a política da presidente Dilma. No governo Lula – que fazia apologia do analfabetismo, orgulhoso de não ter estudado e chegado à presidência – os recursos do Bolsa Família eram 60% maiores do que os aplicados na educação, o que até se justificava para um presidente avesso aos livros e à cultura e que governou com factoides. Um deles, o “Fome Zero”, prometia acabar com a fome no Brasil em quatro anos. Como a iniciativa não saiu do papel, expandiu o programa mais demagogo que se tem notícia na história do país, o Bolsa Família. Idealizado por Fernando Henrique Cardoso, atende a um batalhão de esfomeados que hoje vivem como parasitas à sombra do governo. Ao criar o programa, FHC renunciou as suas teses sociológicas ao preferir a intervenção demagógica e populista do estado a alternativas de projetos sociais de mais estabilidade para combater a pobreza e a miséria. Esse gigantesco curral eleitoral – que garantiu a reeleição do FHC – foi o ovo de colombo para o PT. Lula viu nessa genialidade populista a chance também da reeleição. Juntou todos os “programinhas” na mesma sacola e criou o Bolsa Família. Desde então o país deixou de pensar. Atualmente, mais de 40 milhões de pessoas são contempladas com esse assistencialismo e milhares delas permanecem escravas desse programa. O governo é incapaz de desenvolver projetos para capacitá-las visando a redução dessa dependência.
O Bolsa Família é paternalista e eleitoreiro. Se a idéia era a distribuição de renda, o programa não passa de um pacote fisiológico a serviço da reeleição. Como se sabe, investir na educação ainda é o caminho mais correto para uma transformação social. Mas na visão retrógrada petista o caminho mais curto é empregar o dinheiro público em caridades na falta de programas sociais consistentes para combater a miséria. É por causa dessa leviandade que parte da população está anestesiada. Milhares de crianças atoladas no crack, a periferia infestada de traficantes, a saúde em coma com os hospitais sucateados, as escolas abandonadas e a violência incontrolável. É o Brasil que anda para trás há 12 anos, desde que o PT chegou ao poder com um monte de sindicalistas incompetentes e desqualificados ocupando os principais espaços do governo para fazer negociatas. O modelo, porém, se exauriu. Aliás, nunca existiu modelo. A própria ministra do Planejamento, Miriam Belchior já disse numa entrevista que o “país tinha pressa e o PT preferiu tocar obras a fazer projetos”. Quanta irresponsabilidade! O resultado dessa leviandade já se reflete nas pesquisas. Na última, Dilma caiu novamente. Agora, com 36%, está muito longe dos quase 70% de aprovação de maio do ano passado. Além disso, entre os candidatos a presidente é a que tem a maior rejeição. Outro número que assusta o governo: quase 70% dos entrevistados querem mudança, mas sem a Dilma. O brasileiro não quer apenas pão e circo. Quer mais: quer saúde, educação, segurança e transporte público. E isso, infelizmente, o PT não oferece.

 

Jorge Oliveira é jornalista

 

 

Posted On Quinta, 24 Abril 2014 05:30 Escrito por O Paralelo 13

O declínio da Petrobras, com sua trajetória descendente, jamais foi ignorado pelo bloco oposicionista. Em 2009, requeremos a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar irregularidades envolvendo a Petrobras e a ANP. Era inaceitável, sob qualquer ângulo republicano, assistir de forma indiferente à maior empresa estatal brasileira frequentando com assiduidade as páginas policias da imprensa. Uma realidade que, obrigatoriamente, deve ser objeto de máxima atenção por parte do Poder Legislativo em sua competência de fiscalização sobre o Poder Executivo. Uma agravante sobrepunha-se: o fato de o braço auxiliar do Poder Legislativo – o Tribunal de Contas da União (TCU) – considerar essa estatal uma das mais fechadas e resistentes ao repasse de informações, havendo, inclusive, registro de casos de fornecimento de dados incorretos e informações desencontradas. Foi nesse contexto, em face de inúmeras denúncias de irregularidades e desvios de recursos feitas por Polícia Federal, Ministério Público Federal e TCU, bem como das dificuldades desses órgãos em obter as informações necessárias para concluir as investigações, que fomos compelidos a investigar os fatos por meio de uma CPI. A partir de sua instalação, o governo encarregou sua base de apoio de preparar as exéquias desse colegiado. Sem condições de impedi-la, já que o STF asseguraria à minoria o direito de instalar a CPI, o governo a dominou de forma absoluta, desrespeitando as mais caras tradições do Senado Federal. Em reação, a oposição anunciou, no dia 10 de novembro de 2009, sua retirada definitiva da comissão, sem, no entanto, abdicar do dever de apurar as denúncias que ensejaram a criação da CPI. Nesse sentido, 18 representações foram encaminhadas ao Ministério Público, enfeixando uma espécie de relatório final paralelo antecipado da oposição, com o intuito de contribuir para o esclarecimento de pontos tão controvertidos da gestão da Petrobras na época. A rumorosa compra da refinaria em Pasadena havia sido objeto de representação de minha autoria em 2012. A declaração da presidente Dilma (então presidente do Conselho da Petrobras), alegando que a decisão da compra da refinaria, em 2006, se deu com base em um relatório falho, irradiou o movimento em torno da instalação imediata de uma CPI. A denúncia anterior, envolvendo o pagamento de propina a diretores da companhia por uma empresa holandesa – US$ 30 milhões para fechar contratos de aluguel de plataformas do pré-sal –, já era um rastilho no paiol da Petrobras. A indignação popular impôs ao parlamento uma postura compatível com os anseios de transparência e, sobretudo, de combate à impunidade da população. A decisão dos partidos de oposição e parlamentares independentes de vários partidos de colher assinaturas para a criação da CPI não foi picuinha ou revanchismo. Agimos em absoluta sintonia com os ditames republicanos. Trata-se de uma investigação política que complementa a investigação judiciária e colabora com ela. A Petrobras já foi a 12.ª empresa no mundo e hoje, em poucos anos, tornou-se a 120.ª empresa no mundo, sendo a petroleira mais endividada internacionalmente. Que a gestão administrativa foi temerária e claudicante é inquestionável. É hora de debater a Petrobras na plataforma que nos cabe: o Congresso Nacional.
Alvaro Dias é Senador

Posted On Terça, 01 Abril 2014 16:40 Escrito por O Paralelo 13
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