Por Edson Rodrigues
Como dizia o saudoso Tancredo Neves, “política é como as nuvens, que mudam constantemente sua configuração no céu”. Assim se sucedeu no domingo histórico de votação da continuidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, com o placar de 367 votos em favor do Brasil e 137 em favor do PT.
Os maiores derrotados pela votação, na verdade, foram aqueles que firmaram pé e insistiram em apoiar a presidente. No Brasil, os grandes perdedores foram o ex-presidente Lula e o seu PT.
Já no Tocantins, quem mais perde é Kátia Abreu, senadora e até hoje ministra da Agricultura e, por sorte, tem seus dois grandes inimigos na berlinda: o PT pode ter seu registro de partido político cassado e sua maior estrela – com o perdão do trocadilho – o ex-presidente Lula, desafeto venal da tocantinense, dificilmente escapará das garras da Polícia Federal nas águas da operação Lava Jato.
Kátia, que não tem telhado de vidro, terá que mudar o tamanho de seu calçado e descer do salto alto para redesenhar sua vida política. Sua permanência ao lado da presidente da República, mesmo que por amizade pessoal, começa a ter reflexos em outras áreas, como na Confederação Nacional da Agricultura, entidade que preside pelo segundo mandato, que havia fechado questão em favor do impeachment e se sentiu traída com o posicionamento da senadora. Por lá, fala-se até em “impeachment” contra Kátia.
Essa correção de rota de Kátia Abreu deve partir dela própria e começar pela sucessão municipal de Palmas, Capital do seu Estado.
RAUL FILHO, CARTA FORA DO BARALHO
O homem mais popular na política partidária é, sem sombra de dúvidas, o ex-prefeito Raul Filho, filiado ao PR do senador Vicentinho Alves, e que já lidera várias pesquisas de opinião pública – as em que não figura em primeiro lugar, aparece invariavelmente na segunda posição com empate técnico.
Raul Filho está condenado por colegiado e inelegível, mas não está preso, não usa tornozeleira eletrônica, mas terá que pagar sua pena, que foi convertida em prestação de serviços, que podem ir desde lavar banheiros em creches ou abrigos públicos ou fazer trabalhos assistenciais. Caso não a cumpra, terá que usar roupa de presidiário, receber visitas na prisão aos fins de semana e não dormir em casa.
Mas, porque Raul foi condenado?
Raul foi condenado por crime ambiental, não político ou de improbidade. Mesmo assim, a condenação por colegiado o enquadra na Lei da Ficha Limpa. Com isso, o senador Vicentinho Alves perde sua “bala de prata” na sucessão da Capital, mas ganha um imenso poder de barganha, pois Raul Filho sempre foi figura fácil nas rodas políticas, goza de prestígio junto à população e será um dos grandes cabos eleitorais na campanha pela prefeitura de Palmas, com força significativa para mudar cenários e fortalecer candidaturas.
CARLOS AMASTHA, HOMEM DE SORTE
A condenação de Raul Filho caiu no colo do atual prefeito Carlos Amastha como um bilhete premiado de loteria, o que comprova que, além de jogar bem o jogo político e ser um expert em marketing pessoal, o colombiano tem muita sorte.
Filiado ao PSB e com o apoio do PSDB do senador Ataídes Oliveira, Amastha deve dispensar a presença da senadora Kátia Abreu e do seu filho, Irajá Abreu em seus palanques, mesmo que essa opção o obrigue a dar a vaga de vice-prefeito em sua chapa ao partido de Aécio Neves.
Se já aparecia bem nas campanhas, agora Amastha deve estar trabalhando em um planejamento para que os índices de intenção de votos pela sua reeleição permaneçam num patamar adequado, sem perder musculatura na reta final.
MARCELO MIRANDA E O PMDB PALACIANO
O governador Marcelo Miranda tem mais uma oportunidade dada por Deus ou pelo destino de dar uma virada em sua vida pública.
De preterido pelo Palácio do Planalto e pela presidente Dilma, caso Michel Temer assuma a presidência da República, o governador do Tocantins poderá alçar voo como o preferido do governo federal, com as portas ministeriais abertas para seu governo, com as deputadas federais Josi Nunes e Dulce Miranda recebendo tratamento VIP graças aos votos de domingo.
Outro peemedebista ex-aliado de Marcelo que, apesar de estar sem mandato, poderá ganhar influência em Brasília, é o ex-deputado federal Jr. Coimbra, que flanava no segundo escalão do governo federal por indicação da bancada do PMDB na Câmara federal e acabou demitido por Dilma por conta da sua amizade com o deputado Eduardo Cunha.
Mesmo assim, Marcelo Miranda ainda precisa ficar atento em relação aos seus “companheiros” que servem a Deus e ao diabo. A hora é de aproveitar a oportunidade e olhar para os peemedebistas que sempre estiveram ao seu lado, na vitória ou na derrota e que lutaram e trabalharam por sua volta ao Palácio Araguaia. Eles também merecem ser prestigiados. Muitos ainda estão “na sarjeta” à margem do poder.
As traições sofridas por Dilma durante a votação pela continuidade do seu impeachment devem servir de exemplo e valem uma reflexão a todo e qualquer governante sobre o grau de periculosidade de ter ao seu lado pessoas que não são totalmente confiáveis.
OS SEM-CANDIDATO
As atenções se voltam, novamente, para os senadores Kátia Abreu e Vicentinho Alves e seus filhos, os deputados federais Irajá Abreu e Vicentinho Jr., respectivamente. A primeira ficou sem Carlos Amastha e o segundo, sem Raul Filho e, ambos, sem rumo e sem candidato em Palmas.
Mas nada os impede de se unirem para aplicar suas forças e transformar candidaturas menos festejadas em potenciais concorrentes, tanto em Palmas quanto nos demais 138 municípios do Estado.
Os dois senadores, juntos, terão força e significância consideráveis em qualquer pleito em que se envolverem e em Palmas têm duas opções:
CARLOS GAGUIM
O deputado federal Carlos Gaguim é um nome identificado com a criação e emancipação política de Palmas, cidade onde iniciou sua história política, sendo eleito vereador e presidente da Câmara Municipal por dois mandatos. A partir daí, foi eleito para a Assembleia Legislativa, onde também foi presidente por dois mandatos e eleito governador para um mandato tampão, cargo no qual concedeu uma série de benefícios, progressões e promoções ao funcionalismo público, fato que o fez ser querido e respeitado pela grande massa de servidores estaduais.
O atual sonho político de Gaguim é chegar ao Senado, e sua candidatura à prefeitura da Capital ainda é uma incógnita. Nada o impede, no entanto, que do alto do seu prestígio junto aos servidores e ao seu bom trânsito e traquejo políticos, de agir como o catalisador de uma candidatura única para fazer frente ao atual prefeito Carlos Amastha.
Condições políticas e pessoais, Gaguim reúne de sobra para enfrentar essa empreitada. Resta saber se ele estará disponível para encabeçar esse movimento.
TOM LYRA
Bem sucedido como cidadão e como empresário, Tom Lyra, atualmente filiado ao PPS, traz consigo uma extensa bagagem administrativa adquirida no Brasil e no exterior, além de um excelente relacionamento com as classes empresarial e política da Capital. Vice-governador de Sandoval Cardoso, Lyra pode ser uma opção viável caso tenha em seu staff “fazedores de votos” como Kátia Abreu e Vicentinho Alves.
Sua disposição para concorrer ao cargo também é uma incógnita, mas, “onde há fumaça, há fogo”, logo, é um nome a ser considerado.
O EFEITO PALÁCIO ARAGUAIA
Dentro de todo esse contexto, é certo que o quadro sucessório de Palmas terá modificações profundas, principalmente com o PMDB de Marcelo Miranda livre das ingerências de Kátia Abreu e de Dilma Rousseff, o que cria condições para que construa uma candidatura com chances reais de vitória.
Outra certeza é que nem Carlos Gaguim muito menos Carlos Amastha serão os “ungidos” pelas hostes palacianas na corrida sucessória da Capital – e nem em qualquer outra corrida, diga-se de passagem – pois os dois são os maiores desafetos do PMDB de Marcelo Miranda.
Outras análises sobre os efeitos do impeachment na sucessão de Palmas e dos demais municípios tocantinenses só poderão ser feitas após o andamento do processo no Senado, tendo em vista que o Tocantins possui três votos em partidos diferentes – Kátia Abreu no PMDB (afastada, tendo em seu lugar Donizete Nogueira), Vicentinho Alves no PR e Ataídes Oliveira no PSDB – sendo que Kátia Abreu deve deixar o ministério da Agricultura para voltar ao Senado Federal para trabalhar contra o impedimento de sua amiga Dilma Rousseff.
O que cada um dos nossos senadores fará com seu voto terá consequências imediatas caso o impeachment passe ou não.
Até os próximos capítulos!