Faltam confirmar adesão organizações de Sergipe, Piauí, Rondônia, Roraima, Acre e Amapá. Em Brasília, o ato começa, às 10h, no Museu Nacional. Informações foram dadas em entrevista coletiva de imprensa, convocada por entidades responsáveis pela manifestação nacional
Por Samara Schwingel
Representantes de entidades de trabalhadores da educação federal concedem coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (13). O encontro conta com equipes de Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), UNE (União Nacional dos Estudantes), Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), ANPG (Associação Nacional de Pós-graduandos), Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino) e Fasubra (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil), que definiram ações conjuntas e unificaram o discurso em defesa das universidades e institutos federais.
Técnico-administrativos em educação, docentes e estudantes promovem, nesta quarta-feira (15), a “Greve nacional da educação”, em protesto contra os cortes anunciados para as universidades federais. Também há uma greve geral dos trabalhadores (não só da educação), marcada pelas centrais sindicais para 14 de junho.
Paralisação nacional em 15 de maio
“Sobre o dia 15, temos agendados atos nas capitais das 21 unidades da Federação que aderiram, além de outras grandes cidades. Será um dia bastante movimentado”, informa Heleno Araújo, presidente do CNTE. "Faltam confirmar Sergipe, Piauí, Rondônia, Roraima, Acre e Amapá, mas acreditamos que todos vão aderir."
“A educação está dando uma grande demonstração de força construindo esses atos unitários. É uma pauta que interessa a toda a sociedade. No dia 15, vamos parar nossas atividades e vamos para a rua”, afirma Antônio Gonçalves.
O ato em Brasília:
Em Brasília, os integrantes do movimento se reunirão em frente ao Museu Nacional, às 10h, da quarta-feira (15). De lá, caminharão até o Congresso Nacional, passando pelo Ministério da Educação (MEC), terminando a passeata na Rodoviária do Plano Piloto. Não há previsão de horário de término. O ato será acompanhado por carro de som. Haverá distribuição de panfletos.
Confira a programação da manifestação em Brasília, de acordo com Luis Antonio Pasquetti, presidente da ADUnB (Associação dos Docentes da Universidade de Brasília):
10h — Concentração no Museu Nacional
11h — Marcha em direção ao Congresso Nacional (usando as três faixas à esquerda no mesmo sentido da direção dos veículos, para não atrapalhar o trânsito)
12h — Chegada à “Rua das Bandeiras”, próxima ao Congresso Nacional (permanência de uma hora e 30 minutos), onde o ministro da Educação, Abraham Weintraub, deve estar no momento
13h30 — partida em direção à Rodoviária
14h30 — dispersão, usando as faixas à esquerda
Confira orientações da ADUnB para a manifestação de quarta (15), em Brasília:
"Para garantir a segurança de todos e todas, manifestantes e da sociedade, repassamos as seguintes orientações:
1. A manifestação é pacífica em defesa da educação pública e do direito à aposentadoria;
2. Combine de ir à manifestação em grupo. Ande SEMPRE junto ao grupo. Nem na saída da manifestação saia separado;
3. Não aceite provocações, tampouco provoque;
4. Não incite a violência;
5. Não deprede o patrimônio público;
6. Não use máscaras, nem nada que cubra o rosto;
7. Não solte bombinhas ou fogos de artifício durante a manifestação;
8. Siga as orientações da coordenação do ato;
9. Leve seus documentos de identificação pessoal. O policial não pode prender você por estar sem documento. No entanto, na ausência de documento, você pode ser levado à delegacia para fins de identificação;
10. Você tem o direito de filmar e registrar tudo;
11. Você tem o direito de permanecer calado diante de qualquer pergunta, de qualquer autoridade;
12. Leve água e lanche para consumo próprio;
13. Sapatos confortáveis ajudam caso você precise sair do local da manifestação por causa de alguma confusão;
14. A manifestação faz parte de um movimento democrático assegurado pela Constituição Federal. Você pode levar faixas, bandeiras e cartazes. Manifestar é um direito seu! Sem violência!"
O ato no resto do país
Confira onde se concentrarão os manifestantes em todas as unidades da Federação que aderiram ao movimento até agora em diferentes locais do país no link.
Veja as instituições que terão atividades acadêmicas interrompidas por adesão ao dia de paralisação pela educação de quarta-feira (15), de acordo com a Fasubra.
No entanto, o número total de institutos e universidades que vão aderir pode ser muito maior, pois a lista abaixo cita apenas as entidades filiadas à Fasubra:
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Universidade Federal de São Carlos (Ufscar)
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
Universidade Federal de Itajubá (Unifei)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG)
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG)
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Universidade Federal do Tocantins (UFTO)
Universidade Federal de Alagoas (Ufal)
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFTPR)
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR)
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Greve geral em 14 de junho
“Depois do dia 15, só temos programada mobilização para o dia 14 de junho. Entre esses dois dias, estaremos trabalhando, nos preparando para a greve do dia 14”, completa Heleno Araújo. “Dia 14 vamos parar tudo: transporte, educação, toda a classe trabalhadora”, observa Marcelino Rodrigues, coordenador geral da Fasubra.
Os porta-vozes não souberam informar detalhes da programação de 14 de junho. "Ainda não tem uma programação certa. Só sabemos que vão paralisar o dia todo e talvez, à tarde, tenha uma passeata", diz.
Questionado sobre a possibilidade de greves prolongadas, que durem mais de um dia, Antônio Gonçalves rebate: “Nacionalmente, não pensamos em outra atividade, mas cada local pode ter uma articulação nesse meio tempo”. Ou seja, o movimento de algumas universidades e institutos federais pode até decretar greve, mas não será nacional ou geral.
Reclamações
“O governo fala de contingenciamento, mas não vai haver recomposição desses recursos. E as instituições públicas são as que mais produzem conhecimento no pais”, reclama Antônio Gonçalves, presidente do Andes.
“De fato, 95% da pesquisa brasileira é feita no ambiente das universidades públicas. Essas pesquisas fazem diferença na vida das pessoas. Fomos surpreendidos com a suspensão de verbas. É um cenário de apagão da ciência brasileira”, critica Manuelle Marques, da Anpg. “É um ataque à soberania brasileira e à universidade, que tem sido produtora do senso crítico. A justificativa é que essas bolsas estariam ociosas, mas sabemos que não é verdade”, diz Manuelle Marques, da Anpg, sobre os cortes aos benefícios da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Manifestação da Ubes
Confira artigo de Pedro Lucas Gorki, presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) sobre a movimentação do dia 15:
"Cortes na educação: A gota d’água vai virar um tsunami
Na segunda-feira (6/5), eu estava junto às centenas de estudantes que protestavam do lado de fora do Colégio Militar do Rio de Janeiro, no bairro da Tijuca. Dentro, o presidente Jair Bolsonaro, cujo governo anunciou, recentemente, o corte de 30% do dinheiro da educação. Enquanto Bolsonaro estava fechado, cercado por alto esquema de segurança, com medo da reação popular e de encarar os jovens que lá estavam, o protesto dos secundaristas ganhava o apoio da população, das pessoas que passavam a pé, nos carros, dos trabalhadores, de quem escutava as reivindicações e concordava com elas.
A reação popular contra os cortes na educação, liderada pelo movimento estudantil secundarista e universitário, pode resultar nas maiores manifestações do Brasil desde a posse presidencial em janeiro. Até Bolsonaro já sabe que essa foi a gota d’água que vai virar um tsunami. Bolsonaro não gosta muito de estudar e não é lá muito bom de história – a ponto de falar que a ditadura no Brasil não existiu ou que os ditadores assassinos de países como o Chile e o Paraguai foram pessoas importantes. Mas ao ignorar ou desconhecer que, neste mesmo continente, foi a juventude que enfrentou e derrubou os regimes mais autoritários, pode ter cometido um erro que as ruas não vão perdoar. Nós vamos para cima.
O movimento estudantil está protagonizando, nas diversas regiões do país, um levante unificado contra a tentativa de destruição do nosso ensino. Toda essa força vai desaguar, no dia 15 de maio, em uma jornada nacional nas ruas, nos institutos federais, nos colégios, construindo uma grande paralisação nacional da educação.
A mobilização dos atos foi rápida. Em poucos dias, o movimento se espalhou em assembleias, debates, protestos, ações diretas. Os jovens têm acompanhado com preocupação a transformação ideológica covarde de um Ministério da Educação que vira as costas para alunos e professores, voltando-se apenas para o fanatismo de extrema direita e para os lucros do setor educacional privado. A declaração do ministro Abraham Weintrub de que as universidades públicas devem ser punidas por promover “balbúrdia” foi a gota d’água.
Ao atacar o ensino superior, o governo mentiu, dizendo priorizar a educação básica. Mas o MEC cortou recursos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio. Um bloqueio de pelo menos R$2,4 bilhões de reais.
Enquanto publica decretos de posse de arma para enriquecer a indústria do tiro e tenta emplacar a reforma da Previdência e o fim das aposentadorias para agradar aos bancos e a previdência privada, Bolsonaro tira dos salário dos professores, da merenda, dos laboratórios, das bibliotecas, da reforma das quadras e das salas de aula das escolas públicas. E é por isso que a UBES e o movimento estudantil secundarista estão no centro desse debate e vão conduzir os milhões de estudantes da educação básica para resistir a esse governo. Vamos ensinar ao ministro da Educação que as escolas e universidades brasileiras devem ser prioridade, inclusive para garantir o crescimento econômico.
Mais de 100 institutos federais já deram o seu recado, aderindo à campanha #TiraAMãodoMeuIF. O movimento já conta com paralisações e protestos em todos os 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Com roupas pretas e palavras de ordem, os secundaristas denunciam que, devido aos cortes no orçamento das instituições, muitos alunos não poderão, sequer, concluir o ano letivo. Não bastasse promover a perseguição nas escolas, a censura de alunos e professores; a tentativa de obrigar todos os estudantes do Brasil a repetir o seu slogan partidário de campanha eleitoral no pátio das instituições, Bolsonaro agora quer estrangular a juventude da forma mais direta e cruel: tirando os poucos recursos do setor educacional e tentando matar de fome o sistema de ensino brasileiro.
O que o governo não sabe é que essa mesma juventude já resistiu a momentos tão ou mais duros que esse, ao longo dos últimos 70 anos. E tem uma força invencível quando está unida. Já derrubamos presidentes e ditadores quando conseguimos contagiar a sociedade e ela ficou do nosso lado. Cada estudante secundarista também tem uma mãe, um pai, um vizinho que não concorda com a retirada de dinheiro da educação e que precisa de muito pouco para ser convencido a ir às ruas conosco. E se isso acontecer, já seremos numericamente um movimento incontrolável e incontornável. Um governo que perde popularidade de forma inédita nos seus cinco primeiros meses, deveria ter mais sabedoria ao escolher seus inimigos. Mexer com a juventude brasileira é coisa séria. Não aos cortes. Vamos à luta!" *Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa