Para o presidente nacional do partido, o PDT compõe a ala de oposição ao presidente Jair Bolsonaro e faz críticas ao chefe do Executivo Nacional, muitas vezes proferidas pelo ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes.
Por Ricardo Galhardo e Pedro Venceslau
A ida do ex-governador paulista e pré-candidato a prefeito da capital pelo PSB, Márcio França, a um evento com o presidente Jair Bolsonaro, na sexta-feira passada, em São Vicente, constrangeu o PDT e ameaça uma aliança entre os partidos em São Paulo. Sem citar nomes, o presidente do PDT, Carlos Lupi, mandou um recado claro na terça-feira, 11, por meio de suas redes sociais.
“O PDT não irá tolerar pré-candidato vinculado ao bolsonarismo. Se houver algum caso, terá sua pré-candidatura suspensa. Estaremos atentos se houver qualquer denúncia”, escreveu o dirigente. O post de Lupi também foi interpretado como um contraponto ao PT, que, na semana passada, aprovou uma aliança com o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner Carneiro, o Waguinho (MDB), aliado de Bolsonaro.
França participou de um evento oficial da Presidência da República em São Vicente, no litoral paulista, sua base eleitoral. Bolsonaro foi à cidade vistoriar a reforma de uma ponte cuja obra foi alvo de disputa entre o prefeito Pedro Gouvêa (MDB), cunhado de França, e o governador João Doria (PSDB).
França foi convidado na véspera pelo próprio Bolsonaro por meio de uma chamada de vídeo para o celular de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – e atualmente um dos principais aliados do Palácio do Planalto no Estado.
Na chamada, França disse que está arrecadando donativos para os moradores de Beirute, capital do Líbano, abalada por uma série de explosões na região portuária, na semana passada – a mulher dele, Lúcia, é descendente de libaneses. Bolsonaro se comprometeu a conseguir um avião para transportar o material.
O encontro, no entanto, foi interpretado como um sinal político. França usa como referência para sua estratégia de campanha o mapa dos votos que obteve na capital no 2.° turno da disputa para o governo. Ele venceu com folga nas franjas da cidade e avançou sobre o eleitorado “azul do centro”, que, historicamente, vota contra o PT. Para atrair o eleitor bolsonarista, França vai repetir a estratégia de resgatar sua bandeira de campanha do alistamento cívico ao mesmo tempo em que já se coloca como o candidato anti-Doria.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que foi avisado previamente por França do encontro e rechaçou que exista uma aproximação entre França e Bolsonaro. “Isso é completamente improcedente. Ele (França) estava junto com a comunidade libanesa (Skaf também é descendente de libaneses) e queria tratar de uma questão humanística. Não tem nada mais do que isso e nem poderia ter. Não há nenhuma identidade que possa nos aproximar”, declarou o presidente do PSB.
Segundo ele, o fato de França ter aceitado o convite de Bolsonaro “não significa nada”. “Minha preocupação com isso é zero. Acho que é especulação daqueles que estão com receio de disputar com ele. Este tipo de sectarismo já foi faz muito tempo.”
‘Dois senhores’. O episódio animou o PCdoB – cujo pré-candidato em São Paulo é o deputado federal Orlando Silva – a tentar uma aproximação com o partido do ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes. O PCdoB viu no gesto de França uma chance. “Márcio França não pode servir a dois senhores. Ele está, como dizia Brizola, costeando o alambrado. Se tem um tema de convergência no campo democrático é a crítica ao Bolsonaro”, disse Silva.
Presidente municipal do PDT e pré-candidato a vice na chapa de França, Antonio Neto minimizou. “Não houve intenção de fazer um gesto político. França é, com certeza, um pré-candidato de centro esquerda”, disse Neto. “Em 2012, o PCdoB não se importou quando (Paulo) Maluf apoiou (Fernando) Haddad.”