Com a prerrogativa de indicar o próximo ministro do Tribunal de Contas da União, o Senado Federal colocou em pauta, na noite da última terça-feira (14), um processo eletivo em que concorriam à indicação os senadores Fernando Bezerra, líder do governo Bolsonaro no Senado, Antonio Anastasia e a tocantinense Kátia Abreu.
Por Edson Rodrigues
Os senadores concorrentes chegaram a fazer campanha pelos votos dos colegas e o quadro inicial apontava Kátia Abreu como favorita, apoiada, inclusive, pelo Palácio do Planalto, muito por conta da presença do presidente do seu partido, o PP, como ministro da Casa Civel, muito próximo a Bolsonaro, e o senador mineiro Antonio Anastasia, apoiado pelo presidente do próprio Senado, Rodrigo Pacheco, na segunda posição.
Mas, eis que surge o nome de Fernando Bezerra, líder do governo no Congresso, que assume a preferência do presidente Jair Bolsonaro. O problema foi que a candidatura de Bezerra gerou conflitos, e até um questionamento à Justiça quanto à inelegibilidade do líder do governo, por conta de processos contra si.
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Os bastidores indicaram que a reação contra a candidatura de Bezerra teria partido da senadora Kátia Abreu, antes a “preferida do Planalto”, e o resultado desse imbróglio apareceu no painel do plenário do Senado, na noite de terça-feira: nem Fernando Bezerra nem Kátia Abreu. O senador eleito para a vaga no TCU foi Antônio Anastasia, com 52 votos, contra 19 de Kátia e apenas sete de Bezerra.
O desempenho pífio de Bezerra foi lido pelos analistas políticos como resultado de uma manobra do Palácio do Planalto que preteriu seus dois ex-favoritos brigões por um “plano B”, acordo com o candidato do presidente do Senador, Rodrigo Pacheco, que rendeu a vitória esmagadora de Anastasia.
Dessa forma, Jair Bolsonaro cumpre mais uma missão de seu governo, que era não perder a indicação da vaga do Senado para ministro do TCU, uma tarefa cumprida com discrição e efetividade por seus aliados no Senado.
BASTIDORES
O Observatório Político de O Paralelo 13 acompanhou toda a movimentação para a indicação do Senado para o TCU desde o início, inclusive apontando o favoritismo inicial de Kátia Abreu, que chegou a se reunir com o presidente Jair Bolsonaro e o paulatino esvaziamento da sua candidatura, sendo, inclusive, aventada pela imprensa nacional que Kátia estaria “enfrentando dificuldades para uma reeleição ao Senado pelo Tocantins”.
Kátia reagiu, lutou, se empenhou, pode ser até que tenha sido, mesmo, ela, a provocar a Justiça quanto à inelegibilidade de Fernando Bezerra (afinal, ele estava “furando a fila” ao se apresentar como candidato do Palácio do Planalto).
Na segunda-feira, véspera da votação no Senado, Kátia reuniu, em sua residência, em Brasília, mais de 40 senadores e lideranças políticas nacionais para um jantar. Muito articulada e combativa, com passagens pela presidência da Comissão de Relações Exteriores do Senado, pelo ministério da Agricultura no governo Dilma Rousseff, pela presidência da Confederação Nacional da Agricultura entre outros cargos importantes, em que sempre se saiu muito bem, tinha totais condições de conseguir os votos necessários.
Mas, na madrugada de segunda para terça-feira, ou seja, logo depois do jantar na casa de Kátia Abreu, a força-tarefa do Palácio do Planalto saiu a campo para colocar em desenvolvimento seu “plano B”, o que rendeu reuniões e reuniões, que se somara a incontáveis cafés da manhã, e acabou resultando em pactos e acordos.
Com e eleição de Anastasia para o TCU o primeiro suplente, Alexandre Silveira fica no cargo até o fim do ano que vem
Quando o painel eletrônico do Senado anunciou o resultado da votação, a surpresa foi geral. Kátia e Bezerra, os favoritos, foram derrotados pelo “azarão” Anastasia, por uma grande margem de votos. Mesmo assim, Kátia Abreu ainda teve quase o triplo dos votos recebidos por Bezerra que, inclusive, sentindo-se traído pelo Planalto, entregou o cargo de líder do governo no Senado.
“LEI DO RETORNO”
Esta primeira derrota política de Kátia Abreu traz no seu bojo uma espécie de “lei do retorno”. Mesmo sendo a favorita durante a maior parte do pleito e tendo se mobilizado para ser eleita, ela foi derrotada, assim como aconteceu em 2011 com o então senador tocantinense Leomar Quintanilha, que também era favorito para a vaga, mas que teve em Kátia Abreu uma das principais mobilizadoras de votos contrários à sua eleição. Ou seja, Kátia trabalhou, nos bastidores, pela derrota do colega tocantinense.
Briga entre senadores e Kátia Abreu (ao centro, de branco) tentou impedir a continuação da votação para eleição de mesa Diretora do Senado
Vale ressaltar, nesse revés da senadora que, caso ela saísse vitoriosa e assumisse a vaga no TCU, assumiria em seu lugar seu suplente, Donizete Nogueira, um dos fundadores do PT, do qual foi presidente do diretório estadual e defensor ferrenho da candidatura do ex-presidente Lula.
Apesar de hipotética, essa pode, sim, ter sido uma das razões do esvaziamento do favoritismo de Kátia Abreu junto ao Palácio do Planalto.
Sem sombra de dúvida, uma lição dada pela vida política, da pior forma, à Kátia Abreu.
REELEIÇÃO É O ÚNICO CAMINHO
Resta à Kátia, agora, voltar suas baterias para o Tocantins e intensificar as articulações para sua reeleição ao Senado. Por enquanto, tudo indica que o caminho escolhido será o da aliança política com o governador em exercício, Wanderlei Barbosa, que concorrerá, também, à reeleição em 2022.
Kátia, presidente do PP tocantinense, e Irajá Abreu, presidente do PSD tocantinense, têm tudo para construir duas fortes chapas de candidatos a deputados federal e estadual, tendo, ainda, a possibilidade do empresário Edson Tabocão, com chances de ser candidato a vice-governador ou a primeiro suplente de Kátia Abreu.
De agora, até o início de 2022, a qualquer momento o governador em exercício Wanderlei Barbosa pode anunciar por qual partido irá disputar a reeleição e com quem irá se unir, sempre analisando o momento de instabilidade que a tala da Federação Partidária vem criando, com a possibilidade das cúpulas nacionais dos partidos empurrarem “goela abaixo” dos estados as suas decisões.
Todo cuidado é pouco na hora de se filiar a um partido, neste momento, principalmente se a meta for um cargo eletivo em 2022, por conta do grande troca-troca esperado no comando, senão de todas, mas das principais legendas partidárias no Estado.
Fica a dica!
Por hoje é só.