Morto há 18 anos, o cantor Raul Seixas de vez em quando tem sua obra indiretamente lembrada durante um discurso ou declaração de um político. Ter a habilidade de dizer "agora o oposto do que eu disse antes", como na letra de "Metamorfose Ambulante", é prática comum na política brasileira e tocantinense, tomada de camaleões que se adaptam a cada legenda que assume o poder de quatro em quatro anos.
Por Edson Rodrigues
Para o cientista político Otaciano Nogueira, da Universidade de Brasília, é natural que políticos mudem radicalmente de opinião porque o que os move são apenas seus interesses.
- Eles podem até ter convicções, mas elas não se sobrepõem aos seus interesses. É o contrário. O interesse que se sobrepõe à convicção. Por isso, eles mudam com frequência completamente de opinião.
Além disso, os próprios partidos políticos são metamorfoses ambulantes. “Se os partidos brasileiros fossem ideológicos não haveria tantos partidos de esquerda, por exemplo. O comunismo é um só, mas o Brasil é o único que tem vários partidos comunistas. Quantas ideologias se conhece no mundo? Três. Nós já tivemos quase 70 partidos se somarmos todos de 1946 para cá. No regime militar ainda havia uma clivagem entre o militarismo e o civilismo, adeptos do regime de força e liberais. Hoje isso desapareceu e não é só no Brasil”, analisa Otaciano.
Apenas uma reforma política, já várias vezes ensaiada, mas, nunca, completa, poderia ajudar a diminuir uma parte do problema, impedindo o troca-troca constante de partidos pelos políticos ao fim de cada eleição.
CAMELÕES E JUDAS NO TOCANTINS
Em meus 34 anos no comando de O Paralelo 13, atuando como presidente e analista político, é a primeira vez que vejo tantos “camaleões” e “Judas” na política tocantinense.
O pior de tudo é que eles coabitam desde o Palácio Araguaia até os bastidores políticos, passando por importantes órgãos governamentais, atuando 14h por dia como lobos vestidos de carneiros – e com ações dignas das carniceiras hienas – passando despercebidos por governos e mais governos, agindo, sempre, à surdina, contra quem lhe estende a mão.
São esses camaleões políticos os responsáveis pelas intrigas, pelas sabotagens, pelas fofocas e pelos dedos duros dentro dos governos em que eles próprios atuam. Seu objetivo é estar sempre perto do poder, bajulando e ganhando confiança dos legitimamente eleitos, mas trabalhando em benefício próprio ou de terceiros, alheios ao poder.
Nas últimas três semanas, esses camaleões políticos estiveram “trabalhando” freneticamente em favor de seus objetivos escusos, transitando entre o escritório político do senador Irajá Abreu e o Palácio Araguaia, alguns, até, viajando lado a lado com o governador em exercício, Wanderlei Barbosa, pelo interior do Estado.
A dificuldade dos “identificadores de camaleões” é saber para quem eles estão exercendo seus ofícios, pois muitos deles são informantes do governador afastado, Mauro Carlesse, outros para o clã dos Abreu, e até para um grupo de deputados estaduais, caprichando no “leva e trás” de informações importantes.
São essas pessoas as responsáveis pelas notícias contaminantes, geradoras de conflitos nas redes sociais e, logicamente, pelas desconfianças e desavenças nas redes sociais, entre os grupos políticos e na Assembleia Legislativa.
Esses “Judas” são tão profissionais no que fazem que criam o problema e logo aparecem com uma solução, uma fórmula que os mantém sempre próximos ao poder desde os governos de Siqueira Campos, Marcelo Miranda, Sandoval Cardoso, mauro Carlesse e Wanderlei Barbosa. A todos eles traíra e de todos conseguiram benesses governamentais.
Se o Palácio Araguaia não tiver cuidado e mantiver os olhos abertos em relação a esses camaleões políticos, dificilmente conseguirá se precaver das ações nefastas dessas pessoas, que podem transformar ações que seriam um “xeque-mate” em seus adversários, em uma espécie de suicídio político, pois eles já estarão com o contragolpe preparado.
Todo cuidado é pouco, pois eles estão lá, dentro do Palácio Araguaia, dos órgãos públicos e da Assembleia Legislativa, e só o tempo será capaz de revelar a verdadeira identidade dos “camaleões políticos” e revelar quem é quem nessa metamorfose política ambulante que é a política tocantinense.
Que Deus nos ajude!