Se for solto, Lula deve se eleger com facilidade. Caso fique preso, seu candidato estará no 2º turno
Da Redação
As pesquisas eleitorais sinalizam que a definição do primeiro turno da sucessão de 2018 passará pela cadeia. Os dados indicam que, se abandonar suas crendices e começar a falar sério, o PT ainda pode influir no jogo. Quase metade do eleitorado (46%) revela alguma propensão para votar num nome indicado por Lula —30% afirmam que farão isso com certeza. Outros 16% declaram que talvez sigam o caminho apontado pelo pajé petista.
Para ter o que comemorar em meio à desgraça, o PT precisaria virar o seu discurso do avesso. De saída, teria de aposentar a mistificação segundo a qual a Justiça brasileira é feita de tribunais de exceção, pois a maioria dos eleitores (54%) acha que o encarceramento de Lula foi justo.
De resto, o petismo teria de desembarcar o quanto antes do trem-fantasma em que se converteu a candidatura Lula, pois 62% do eleitorado já se deu conta de que a fantasia descarrilou.
Enquanto o petismo nega a realidade, o eleitorado de Lula começa a migrar por conta própria. Num cenário em que aparece como Plano B do PT, Fernando Haddad herda apenas 3% das intenções de voto atribuídas a Lula. É coisa mixuruca se comparada com as fatias herdadas por Marina Silva (20%) e Ciro Gomes (15%). Até Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin e Joaquim Barbosa beliscam mais votos do legado de Lula (5% cada um) do que o petista Haddad.
Outro dado notável é que um pedaço expressivo do eleitorado do preso mais ilustre da Lava Jato (32%) decidiu fazer um pit-stop. Sem rumo, esse um terço informa que, se tivesse de comparecer às urnas hoje, anularia o voto ou votaria em branco.
É gente que parece aguardar por uma sinalização qualquer de Lula. O Datafolha apresenta o universo total do eleitorado como um bololô dividido em três grandes fatias. A fatia anti-Lula (31% dos brasileiros com direito a voto) continua detestando o PT e ruminando sua aversão a Lula. Nesse nicho, 32% votam na direita paleolítica representada por Jair Bolsonaro.
O pedaço do eleitorado pró-Lula, 100% feito de devotos, não se aborreceria se a divindidade presa em Curitiba pedisse votos para um poste. Como Lula ainda não pediu, pedaços da procissão começam a seguir outros andores, especialmente os de Marina e Ciro. Mas a maioria continua fazendo suas preces diante de um altar vazio.
De resto, existe a fatia da geleia geral (37% do eleitorado), que balança na direção de várias candidaturas. Destacam-se nesse grupo, por ora, os partidários de Bolsonaro e Marina. Mas ambos têm menos votos do que o bloco dos brancos e nulos. Ninguém se anima a votar numa hipotética candidatura de Lula no primeiro turno. Mas muitos não descartariam a hipótese de votar nele num eventual segundo round.
Para efeito de sondagem, o Datafolha incluiu o ficha-suja Lula em alguns cenários pesquisados. No principal, o candidato inelegível do PT amealhou 31% dos votos, seis pontos percentuais a menos do ele colecionava em janeiro. Sem Lula, Marina (entre 15% e 16%) encostou em Bolsonaro (17%). A dupla está tecnicamente empatada.
Segue-se um amontoado de concorrentes.
Desde 1994, quando Copa e eleições passaram a ocorrer no mesmo ano, os candidatos sabem que, enquanto não for decidido o torneio de futebol, a campanha política é um pesadelo que atrapalha o sonho de erguer a taça. Mas a prisão de Lula obriga o PT a adiantar o relógio.
Numa disputa com muitos candidatos, em que um cesto com menos de 20% dos votos pode levar para o segundo turno um pretendente ao trono, parece claro como água de bica que a herança eleitoral de Lula pode influir nos rumos da disputa.
Resta saber se o petismo deseja jogar o jogo ou se vai continuar tentando cavar faltas.
JULGAMENTO DE LULA
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin liberou para julgamento recurso protocolado pela defesa para suspender a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O caso deve ser julgado pela Segunda Turma da Corte no dia 26 de junho, conforme sugestão do ministro. Se a condenação for suspensa como foi pedido pelos advogados, o ex-presidente poderá deixar a prisão e também se candidatar às eleições.
Na petição enviada ao Supremo, a defesa do ex-presidente alega que há urgência na suspensão da condenação, porque Lula é pré-candidato à Presidência e tem seus direitos políticos cerceados ante a execução da condenação, que não é definitiva.
"Além de ver sua liberdade tolhida indevidamente, corre sério risco de ter, da mesma forma, seus direitos políticos cerceados, o que, em vista do processo eleitoral em curso, mostra-se gravíssimo e irreversível", argumentou a defesa.
Além de Fachin, a Segunda Turma do STF é composta pelos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewadowski, Dias Toffoli e Celso de Mello.
SITUAÇÃO CLARA
A situação política no Brasil não podia ser mais clara, levando-se em consideração este último Datafolha. Lula só não será presidente se morto ou preso. E mesmo da cadeia pode vir a eleger o próximo presidente da República.
Jair Bolsonaro, que vinha crescendo em todas as pesquisas anteriores, ao que parece já perdeu empuxo com as denúncias de que sua família adquiriu 15 apartamentos após sua entrada na política. E alguns por preços abaixo do mercado em operações, pra dizer o mínimo, heterodoxas.
Geraldo Alckmin, no melhor cenário, chega a 11%, sendo que está no seu quarto mandato de governador no estado de São Paulo. E para alcançar essa votação, Lula e Marina Silva teriam de estar fora da disputa.
Doria virou um nanicão, não passa de 5%, votação semelhante a de Álvaro Dias.
Marina Silva e Ciro até alcançam dois dígitos, mas para isso Lula tem que estar fora do jogo.
Haddad e Jacques Wagner não empolgam ao entrar na vaga de Lula sem que sejam apresentados como seu candidato. Também ficam ali entre 3 e 4%.
Mas, 29% da população diz que votaria com certeza num candidato apoiado por Lula. E 21% poderiam votar. Ou seja, mesmo da prisão as chances do candidato de Lula ir ao segundo turno são quase certas. Sendo Haddad, Wagner, Celso Amorim ou Patrus Ananias. Se for Ciro Gomes, que já tem 10%, esse número pode vir a ser até mais alto.
A pesquisa Datafolha deixa mais alvo que a neve o cenário de outubro. Com Lula, a eleição seria um plebiscito. E ele seria o grande favorito. Sem ele, vai ser um pega para capar. Mas ao que tudo indica, pelo segundo lugar. O primeiro colocado será o candidato de Lula.