Postagem feita nesta quinta-feira (4) aponta para o envolvimento de Flávio Bolsonaro com milícia e divulga dados pessoas de supostos envolvidos
Por iG Último Segundo
O grupo de hackers Anonymous Brasil liberou na madrugada desta quinta-feira (4) dados sobre "a verdade" do caso Marielle Franco. As informações foram compartilhadas por volta de 00h30 no horário de Brasília em um link e apontam para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) como mandante do crime. Informações pessoais de pessoas confirmadas e outras supostamente envolvidas na morte da vereadora do Rio de Janeiro estão disponíveis, como CPF, número de cartão de crédito, filiação, telefones e endereço.
"Não queremos trazer notícias não verdadeiras, não somos nenhum grupo iniciante e nem estamos com o propósito de fama, diferente de todos os grupos brasileiros, aqui nós apuramos os fatos e trazemos conforto e conhecimento sobre o que estão nos escondendo, aqui nós apoiamos todos, nós? Somos negros, asiáticos, judeus, muçulmanos, lgbt, e toda classe oprimida e desfavorecida! Vocês não estão sozinhos, estamos com vocês", diz o início do texto de esclarecimento que antecipa uma série de links e vídeos sobre como funcionou o suposto planejamento da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes .
O grupo de hackers apontou para Flávio Bolsonaro como o integrante da família presidencial que atua junto com a milícia. Um link de apoio redirecionado para um suposto documento da Câmara, do deputado Rogério Correia (PT-MG), que pede uma investigação especial para apurar as ações criminosas das milícias do Rio de Janeiro. Contudo, não consta no requerimento o número de emissão e a data, apenas o mês de fevereiro do ano de 2019 ao final do suposto documento.
"Estamos cansados, o povo clama por ajuda, será que poderíamos visualizar com mais profundidade e com mais precisão o caso do presidente? O que o senhor acha Presidente? Talvez surja provas que seu filho é corrupto, talvez esse ano, a favela vai se revoltar, policiais estão abusando de poder, e o sistema deixa!", disse em mensagem os hackers , que reafirmou que a direita está "propícia a ser fascista ".
Apesar de serem contra Bolsonaro , o Anonymous voltou a reforçar que são apartidários em busca de "justiça" pelas minorias. "Isso não é sobre ser de esquerda ou de direita, afinal somos contra qualquer sistema político".
Nesta nova exposição de dados, foram divulgadas informações sobre de Ronnie Lessa e a esposa, Elaine Pereira Figueiredo, Elcio Vieira de Queiroz, Alexandre Motta de Souza, Rodrigo Jorge Ferreira, Camila Moreira, apontada como advogada que "atrapalhou as investigações", Bruno Pereira Figueiredo, cunahdo de Ronnie Lessa, José Márcio Mantovano e Josinaldo Lucas Freitas, que seriam amigos de Ronnie e "ocultaram armas".
"Conclusão? Parece que a família bolsonaro é a mandante. Também parece que agora temos vários motivos para duvidar da postura do nosso querido presidente! #MarielleVIVE", finalizou a postagem do grupo que se autodenomina Anonymous Brasil .
Em apenas 24 horas, foram contabilizados mais 28.633 casos de Covid-19; país chega a 584.016 confirmações. Tocantins tem 228 novos casos e total de mortos sobe para 82
Com Agências
O Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira (3) seu mais recente balanço com as atualizações de casos e mortes por complicações do coronavírus Sars-Cov-2 no Brasil. Os principais dados são:
32.548 mortes, eram 31.199 na terça (2)
Foram 1.349 registros de morte incluídos em 24 horas
584.016 casos confirmados, eram 555.383 na terça
Foram incluídos 28.633 casos em 24 horas
312.851 pacientes estão em acompanhamento (53,6%)
238.617 pacientes estão recuperados (40,9%)
O balanço da quarta-feira registrou também 408 mortes que aconteceram nos últimos 3 dias. Além disso, segundo o Ministério da Saúde, há mais 4.115 suspeitas que estão sob investigação.
Tocantins
Os novos casos são de Araguaína (92), Palmas (23), Gurupi (10), Paraíso do Tocantins (10), São Miguel do Tocantins (09), Palmeiras do Tocantins (08), Porto Nacional (08), Axixá do Tocantins (06), Miracema do Tocantins (06), Tocantinópolis (05), Araguatins (04), Itaguatins (04), Lagoa da Confusão (04), Rio Sono (04), Sampaio (04), Cariri do Tocantins (03), Nova Rosalândia (03), Aguiarnópolis (02), Goiatins (02), Pedro Afonso (02), Praia Norte (02), Wanderlândia (02), Ananás (01), Angico (01), Babaçulândia (01), Barrolândia (01), Buriti do Tocantins (01), Colinas do Tocantins (01), Couto Magalhães (01), Formoso do Araguaia (01), Goianorte (01), Guaraí (01), Maurilândia do Tocantins (01), Miranorte (01), Piraquê (01), Riachinho (01) e São Salvador do Tocantins (01).
Balanço por estados
O Ministério da Saúde divulgou também a distribuição dos casos e mortes por complicações do novo coronavírus (Sars-Cov-2) por estado brasileiro.
São Paulo se manteve como o estado com mais casos e mortes pela doença, são 123,4 mil confirmações e ao menos 8,2 mil mortes. O Rio de Janeiro é o segundo do país com mais casos e mortes: respectivamente 59,2 mil e 6 mil.
Parlamentares que representam o funcionalismo público se aliam a integrantes da ''bancada da bala'' e a partidos de oposição para derrubar decisão de Bolsonaro que congela salários dos servidores até o fim de 2021. E dizem ter apoio entre governistas
Por Marina Barbosa
Sancionado há menos de uma semana, o plano de socorro aos estados e municípios já passa por mais uma bateria de negociações no Congresso Nacional. A oposição está se articulando para derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro que manteve o congelamento dos salários dos servidores públicos até 2021, como contrapartida para a liberação dos recursos para o enfrentamento à covid-19 nos entes federativos. E pode contar até com o apoio de aliados do governo. Deputados da base governista confirmaram que deve haver “uma unificação de forças” e dizem que, por isso, “não é impossível derrubar o veto”.
A negociação está sendo conduzida pela Frente Parlamentar Mista do Serviço Público, que diz já ter fechado questão pela derrubada do veto com as bancadas do PDT, PV, Rede e PSB. A medida conta com o apoio do PT, tanto que o deputado Carlos Veras (PT-PE) apresentou até um projeto de lei complementar que tenta revogar o artigo que impede o aumento dos salários de servidores nos próximos 18 meses. O projeto servirá como um plano B caso os parlamentares não consigam derrubar o veto.
Coordenador da frente, o deputado Professor Israel (PV-DF) disse que não é só a oposição que não concorda com a ideia de cobrar dos servidores públicos o custo da pandemia do novo coronavírus. “Alguns parlamentares de outros partidos também têm dito que podem apoiar a derrubada do veto, caso a proposta favoreça os servidores de saúde, educação e também da segurança. Por isso, estamos fazendo costuras individuais e achamos que vamos conseguir apoio em muitos partidos”, afirmou Israel, que disse já ter identificado essa disposição para o acordo até em deputados do DEM e do PL.
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Presidente da bancada da bala, o deputado Capitão Augusto (PL-SP) admitiu que alguns integrantes da frente, apesar de apoiarem o governo de Jair Bolsonaro, devem votar pela derrubada do veto para tentar garantir o reajuste de servidores da segurança pública, como os policiais. “Seria muito ruim votar contra a categoria. Eu mesmo estou pedindo a derrubada do veto, assim como os deputados da saúde e da educação estão fazendo com suas bases”, revelou.
“Acho que, no fundo, o Bolsonaro aprova o reajuste. Ele só vetou por conta do Paulo Guedes”, disse Capitão Augusto, que chegou a contar com o apoio do líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), na tentativa de deixar os policiais de fora da lista de servidores que não poderão ter reajuste salarial nos próximos 18 meses.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO) disse que ainda é cedo para dar um veredicto a essa questão. Ele explicou ainda que não há data para a avaliação do veto pelo Congresso. E lembrou que o governo pode negociar do outro lado. Líderes do Centrão, que entrou recentemente na lista de aliados de Bolsonaro, dizem que, apesar do apelo dos servidores, estão dispostos a votar pela manutenção do veto por conta do impacto fiscal dessa medida. Segundo a equipe econômica, o congelamento deve gerar economia de cerca de R$ 130 bilhões para o setor público nos próximos 18 meses.
Duas pesquisas feitas no Brasil aparecem na fase pré-clínica no relatório da OMS
Por Marcelo Braga, G1 — São Paulo
Relatório publicado no site da Organização Mundial de Saúde (OMS) com dados até esta terça-feira (2) mostra que estão em desenvolvimento pelo menos 133 candidatas a vacina contra o vírus SARS-Cov-2, causador da Covid-19, sendo que dez delas estão na fase clínica, ou seja, sendo testadas em humanos.
Embora os estudos avancem em todo o planeta, muitos especialistas acreditam que a vacina não estará disponível em 2020. Projeções otimistas falam num prazo de 12 a 18 meses, que já seria recorde. A vacina mais rápida já criada, a da caxumba, levou pelo menos quatro anos para ficar pronta.
Outra hipótese contra a qual todos os pesquisadores lutam é a de que uma vacina efetiva e segura nunca seja encontrada. O vírus do HIV, que causa a Aids, é conhecido há cerca de 30 anos, mas suas constantes mutações nunca permitiram uma vacina.
"Está todo mundo muito otimista, mas estudo de vacina é algo muito complicado. A maioria deles para na fase 3, de testes clínicos, pelos problemas que aparecem. É importante discutir essa possibilidade (de não se ter uma vacina)", admite Álvaro Furtado Costa, médico infectologista do HC-FMUSP.
Gustavo Cabral, imunologista que lidera um estudo na USP e no Incor (leia mais abaixo) concorda: “A vacina é o melhor caminho profilático (preventivo), mas não é o único caminho, há também os tratamentos. Para o HIV não há vacina e as pessoas que têm o vírus podem ter uma vida normal. Sabemos que aproximadamente 80% das pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 não desenvolvem a Covid-19 ou têm sintomas leves. O problema são os outros 20% e o risco de fatalidade, hoje de 6%. Mas há centenas de estudos sobre medicamentos neste momento”, disse.
A busca pela vacina
Para chegar a uma vacina efetiva, os pesquisadores precisam percorrer diversas etapas para testar segurança e resposta imune. Primeiro há uma fase exploratória, com pesquisa e identificação de moléculas promissoras (antígenos). O segundo momento é de fase pré-clínica, em que ocorre a validação da vacina em organismos vivos, usando animais (ratos, por exemplo).
Só então é chegada à fase clínica, em humanos, dividida em três momentos:
Fase 1: avaliação preliminar com poucos voluntários adultos monitorados de perto;
Fase 2: testes em centenas de participantes que indicam informações sobre doses e horários que serão usados na fase 3. Pacientes são escolhidos de forma randomizada (aleatória) e são bem controlados;
Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da eficácia/segurança e prever eventos adversos; só então há um registro sanitário
Das dez vacinas em testes em fase clínica, algumas aparecem em estágio mais avançado, como a desenvolvida pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, que vai iniciar testes na 3 e que imunizará mais de 10.260 voluntários no Reino Unido.
Essa vacina é produzida a partir de um vírus (ChAdOx1), que é uma versão enfraquecida de um adenovírus que causa resfriado em chimpanzés. A esse imunizante foi adicionado material genético usado para produzir a a proteína spike do SARS-Cov-2 (que ele usa para invadir as células), induzindo a criação de anticorpos.
A empresa AstraZeneca já fechou com EUA e Reino Unido para produzi-la em escala mundial. O CEO da farmacêutica disse à rede britânica BBC, no domingo, que a população pode ter acesso a 100 milhões de doses da vacina já em setembro.
"De forma prática: é possível que uma vacina fique disponível em cerca de 18 meses por causa do investimento no mundo inteiro. O mundo parou. Mas eu diria que é impossível até setembro", opina o brasileiro Gustavo Cabral.
Álvaro Furtado Costa também recomenda cautela com anúncios muito otimistas sobre vacinas. Ele acredita que não se pode desprezar, por exemplo, que uma novidade nesse campo impulsiona as ações da empresa que a anuncia.
A empresa norte-americana Moderna relatou que encontrou níveis de anticorpos semelhantes aos de curados nos primeiros testes clínicos. A companhia usa RNA mensageiro (mRNA). Uma vacina chinesa, do Instituto de Tecnologia de Pequim, feita com adenovírus recombinante tipo 5 (ad5), também mostrou bons resultados. Ambas estão neste momento no início da fase 2.
“Quando se começa um estudo de vacina, a fase 1 tem resultados bem preliminares e rápidos, para começar a avaliar se é segura, se não tem grandes efeitos adversos, mas você testa pouca gente. Nas fases 2 e 3 você testa 10 mil, 20 mil pessoas, isso é mais demorado. Aí você vê se realmente protege. O mundo testou vacinas de HIV que chegaram à fase 3 e aí falharam. É preciso ter calma”, disse Costa.
Há cerca de oito abordagens diferentes sendo testadas neste momento.
As iniciativas brasileiras
Duas pesquisas feitas no Brasil aparecem na fase pré-clínica no relatório da OMS.
Um dos projetos é liderado por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pelo Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor). A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Pesquisador responsável pelo estudo, Gustavo Cabral é imunologista pela USP e pós-doutor pela Universidade Oxford e na Universidade de Berna, na Suíça. Seu grupo trabalha com plataforma de vacina baseada em partículas semelhantes ao vírus (VLP, em inglês). Já há testes com animais.
“Quando um vírus entra nosso corpo, o sistema imunológico ataca. Não queremos utilizar o vírus, queremos usar partículas semelhantes ao vírus. Fizemos com chikungunya, Streptococcus e agora Covid-19. Essas partículas são apenas uma base que estimula o sistema imunológico. Nele, a gente coloca alguns pedaços do coronavírus, fragmentos proteicos ou proteína inteira, dando estímulo ao sistema imunológico para produzir anticorpo.”
Também em fase pré-clínica está uma vacina pesquisada pelo INCTV (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas), que tem base técnica elaborada pelo Grupo de Imunologia de Doenças Virais da Fundação Oswaldo Cruz-MG.
“Nossa técnica consiste em usar o vírus da influenza como vetor vacinal. Como se trata de um vírus defectivo para a multiplicação, ele não causa a doença, mas gera produção de anticorpos. Com esse processo, uma das possibilidades é desenvolver uma vacina bivalente, que possa ser usada contra influenza e contra o coronavírus”, explica o pesquisador Ricardo Gazzinelli, líder do Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e coordenador do INCTV.
Há trocas de informações entre os dois grupos de pesquisadores.
Iniciativa global
Nesta semana, a Casa Civil tinha prevista uma reunião interministerial para tratar da entrada do Brasil no ACT Accelerator, iniciativa global gerida pela OMS que pesquisa uma vacina para o coronavírus e que conta com a adesão de cerca de 40 países, incluindo ao bloco da União Europeia.
Há uma preocupação de o Brasil não ficar "no fim da fila" no acesso à vacina caso não se engaje no esforço internacional.
O Brasil, até o momento, se mantém alinhado ao governo dos Estados Unidos, que não está no ACT Accelerator, mas, dada a forma como o governo americano trata as questões de propriedade intelectual, não há nenhuma garantia de que o brasileiros se beneficiariam caso uma empresa americana desenvolva a vacina.
"Temos que desenvolver nossa própria vacina, estamos atrás da fila, não estamos envolvidos com a União Europeia. O país que desenvolver a vacina vai priorizar seu povo, seus associados e, depois, quem pagar mais", projetou o imunologista Gustavo Cabral.
Por que a demora?
Especialistas dizem que as vacinas demoram, em média, dez anos para ficarem disponíveis ao público após o início dos estudos.
Uma vacina ideal protege contra infecções, impede a propagação e faz tudo isso com segurança. Ou seja, é preciso que os efeitos colaterais sejam todos previstos e administrados pelos agentes licenciadores, evitando que as consequências sejam ainda mais perigosas para os infectados.
"O exército americano desenvolveu uma vacina usando vírus atenuado contra a chikungunya. Quando estava na fase 2, perto do estudo de larga escala e de licenciar para seres humanos, descobriram que 6% ou 8% dos vacinados desenvolvia fase mais crítica da doença. Em termos técnicos, se a gente pula de fase, quando chega bem próximo, precisa retomar tudo de novo", exemplificou Gustavo Cabral.
E o que fazer sem vacina?
Enquanto não há vacina, a busca é por medicações que possam diminuir a taxa de mortalidade e, portanto, recuperar infectados pelo vírus SARS-Cov-2. O ensaio clínico iternacional Solidarity, da OMS, é desenvolvido também no Brasil pela Fiocruz em 18 hospitais e 12 estados, com pesquisa de diferentes medicações.
Medicamentos usados para outros tratamentos podem ser adequados para combater o Covid-19. A adaptação, porém, também exige muita pesquisa e precisa ter erros minimizados.
As pesquisas hoje são, por exemplo, com antivirais como o remdesivir, adotado inicialmente para tratar ebola e hepatite C, e testado em Reino Unido, EUA e Japão: "Existem muitos estudos acontecendo com drogas na entrada do vírus, mas todos estudos ainda iniciais. Por enquanto não há nenhuma droga que resolva 100%", ressaltou Álvaro Furtado Costa.
A hidroxicloroquina segue liberada pelo Ministério da Saúde brasileiro para o tratamento de pacientes no estágio inicial da Covid-19, embora tenha tido testes interrompidos pela OMS, já que tem efeitos colaterais graves, como maior chance de parada cardíaca. E não há estudos que atestem sua eficácia contra o novo coronavírus.
Mas e se além de não acharem a vacina ideal nenhum remédio se mostrar eficaz para curar uma pessoa infectada? Quando a maioria das pessoas for contaminada ela pode ser erradicada por não ter mais quem infectar? Ou poderá voltar numa nova onda de pandemia em breve, se o vírus sofrer mutação? "Há perguntas que só são respondidas com o tempo", pondera Gustavo Cabral.
Estudo motivou a OMS a suspender os testes com as substâncias em ensaios clínicos internacionais. Uma manifestação de preocupação pode ser utilizada para registrar que há dúvidas sobre um artigo publicado em uma revista, mas ainda não há evidências conclusivas suficientes para uma retratação ou outra medida a tomar.
Por G1
A revista científica "The Lancet" publicou, nesta terça-feira (2), uma nota na qual manifesta "preocupação" com o estudo sobre cloroquina e hidroxicloroquina que foi publicado na própria revista no dia 22 de maio. O estudo, feito com 96 mil pacientes de Covid-19, motivou a OMS a suspender os testes com as substâncias em ensaios clínicos internacionais.
No texto, a revista afirma que "importantes questões científicas foram levantadas sobre os dados relatados" no estudo.
Na pesquisa, os autores haviam concluído que o uso dos dois remédios, normalmente usados para tratar malária ou doenças autoimunes, não trazia benefícios contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Eles também constataram que o uso desses medicamentos trazia um risco de arritmia cardíaca.
A "The Lancet" informou que uma auditoria independente dos dados do estudo está ocorrendo, e os resultados são esperados "muito em breve".
Veja a íntegra da nota da 'The Lancet':
"Manifestação de preocupação: Hidroxicloroquina ou cloroquina com ou sem um macrólido para tratamento de COVID-19: uma análise de registro multinacional
Importantes questões científicas foram levantadas sobre dados relatados no artigo de Mandeep Mehra et al. — Hidroxicloroquina ou cloroquina com ou sem um macrolídeo para tratamento de COVID-19: uma análise de registro multinacional — publicado na The Lancet em 22 de maio de 2020. Embora uma auditoria independente da proveniência e da validade dos dados tenha sido encomendada pelos autores não afiliados ao Surgisphere e esteja em andamento, com os resultados esperados muito em breve, estamos emitindo uma manifestação de preocupação para alertar os leitores para o fato de que sérias questões científicas foram trazidas à nosso atenção. Atualizaremos este aviso assim que tivermos outras informações.
Os editores"
A manifestação de preocupação é um recurso que pode ser utilizado pelo editor para registrar que há dúvidas sobre um artigo publicado em um periódico, mas ainda não há evidências conclusivas suficientes para uma retratação ou outra medida a tomar.
Base de dados
O estudo publicado na "The Lancet" queria analisar se a cloroquina ou a hidroxicloroquina tinham algum benefício no tratamento de Covid-19 — acompanhadas ou não de macrolídeos (classe de antibióticos da qual a azitromicina faz parte).
Para isso, os pesquisadores analisaram uma base de dados de uma empresa chamada "Surgisphere", de Chicago, cujo dono é um dos autores da pesquisa. A compilação incluía informações de 671 hospitais em seis continentes.
A preocupação, agora, é com a qualidade desses dados. Na sexta-feira (29), a "The Lancet" havia emitido uma nota de correção sobre dados do estudo — entre eles a classificação geográfica de um hospital — que, no entanto, não alteraram o resultado dele.
No mesmo dia, em nota publicada no site da "Surgisphere", os cientistas afirmaram que uma auditoria dos dados estava em andamento.
New England Journal of Medicine
A revista científica "New England Journal of Medicine" também publicou uma manifestação de preocupação nesta terça-feira (2) em relação aos resultados de uma segunda pesquisa, não relacionada ao estudo da "The Lancet", que também foram constatados com base nos dados da "Surgisphere".
O estudo, publicado em 1º de maio, investigava os efeitos que medicamentos para tratar problemas cardiovasculares poderiam ter na Covid-19. Foram usados os dados de 169 hospitais em 3 continentes.
"Recentemente, foram levantadas preocupações substantivas sobre a qualidade das informações nesse banco de dados", destacou a revista. "Pedimos aos autores que forneçam evidências de que os dados são confiáveis. Enquanto isso, e para o benefício de nossos leitores, estamos publicando esta manifestação de preocupação sobre a confiabilidade de suas conclusões".
Veja a íntegra da nota:
"Manifestação de preocupação: Mehra MR et al. Doença cardiovascular, terapia medicamentosa e mortalidade em Covid-19. N Engl J Med. DOI: 10.1056 / NEJMoa2007621
Em 1º de maio de 2020, publicamos “Doença cardiovascular, terapia medicamentosa e mortalidade em Covid-19” , um estudo sobre o efeito do tratamento pré-existente com inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) e bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRAs) em Covid-19.
Este estudo retrospectivo utilizou dados de um banco de dados internacional que incluía registros eletrônicos de saúde de 169 hospitais em três continentes. Recentemente, foram levantadas preocupações substantivas sobre a qualidade das informações nesse banco de dados.
Pedimos aos autores que forneçam evidências de que os dados são confiáveis. Enquanto isso, e para o benefício de nossos leitores, estamos publicando esta manifestação de preocupação sobre a confiabilidade de suas conclusões.
Estudos de inibidores da ECA e de BRAs em Covid-19 podem desempenhar um papel importante no atendimento ao paciente. Incentivamos os leitores a consultar outros dois estudos publicados em 1º de maio de 2020, que usaram dados independentes para chegar a suas conclusões."
Brasil
Depois da decisão da OMS de suspender o uso da hidroxicloroquina em ensaios internacionais de Covid-19, o Ministério da Saúde brasileiro manteve a recomendação dela e da cloroquina para a doença.
Ao comunicar a decisão, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou que o estudo não tinha uma metodologia "aceitável para servir de referência".
"O estudo [da Lancet] não é um ensaio clínico, é apenas um banco de dados coletado de vários países. Não entra em um estudo metodologicamente aceitável para servir de referência para outros países, muito menos para o Brasil", declarou Pinheiro.
'Não invalida' resultados anteriores, afirma especialista
Para a microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, os problemas encontrados no estudo da "The Lancet" não invalidam resultados anteriores, que já apontavam que a cloroquina e a hidroxicloroquina não têm benefício no tratamento da Covid-19.
"Isso não invalida os resultados anteriores que foram bem conduzidos, que foram publicados nas outras revistas, e todos indicam para o não funcionamento da hidroxicloroquina, com a azitromicina ou sem", destaca Pasternak.
"As conclusões que a gente tem até agora não foram alteradas porque o paper da Lancet tem problemas", afirma a cientista.
Para a microbiologista, a reflexão necessária é sobre a qualidade do conhecimento científico que está sendo gerado durante a pandemia. Pasternak lembra que a revisão de uma pesquisa por outros cientistas (a chamada "revisão por pares", ou "peer review", em inglês, que é necessária para um estudo ser publicado) leva tempo.
"A revisão pelos pares não foi desenhada para funcionar em 'fast-track' [de forma acelerada]. É uma revisão que tem que ser cuidadosa, e, por isso, ela demora", pondera.
"Eu acho que essa situação toda mostra como nós estamos despreparados para lidar com situações de emergência. A nossa primeira reação é o pânico. Desde o começo da pandemia a gente tem escutado pessoas dizerem 'não dá tempo de fazer um ensaio clínico controlado, randomizado e com grupo placebo'. Bom, já teria dado tempo. Se tivesse sido feito desde o começo, em vez de um monte de trabalhos incompletos, a gente já teria uma resposta muito mais confiável", avalia Pasternak.