O presidente do PSD disse a VEJA oline que o PT pode atrapalhar o governo, cobra firmeza na Economia e faz defesa da política de juros do Banco Central
Por Clarissa Oliveira
Citado frequentemente como um dos principais articuladores políticos da atualidade, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, olha com cautela para a crise vivida no Congresso pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Equilibrando-se entre o apoio de seu partido a Lula e a adesão ao governo de Tarcísio de Freitas, no qual é secretário de Governo, Kassab considera natural a tensão entre Executivo e Legislativo. Mas diz enxergar com preocupação o efeito do PT sobre o presidente. “O PT pode sim atrapalhar o governo do presidente Lula”, afirma.
Convidado desta semana do Amarelas On Air, programa de entrevistas de VEJA, Kassab diverge da forma como o PT tem abordado temas como o tamanho da máquina estatal, o controle das contas públicas e a atual política de juros. Para ele, esses são alguns dos obstáculos que se impõem a um movimento necessário de Lula na direção do centro.
“Se Lula não conseguir caminhar para o centro na condução das suas políticas públicas, ele vai ter um desgaste. Ele vai ter um desgaste. Eu divirjo em relação ao que o PT prega para o Brasil, em relação ao tamanho do Estado, em relação à condução da política econômica. Sou bastante conservador nisso, tenho preocupação com o excesso de gastos públicos. Eu acho que, se não houver controle, vamos ter muita dificuldade de controlar a inflação e vamos continuar com os juros altos”, afirmou Kassab.
Na entrevista a esta colunista, Kassab lembrou da simbologia da aliança que uniu Lula ao hoje vice-presidente Geraldo Alckmin, com a promessa de que o governo caminharia para o centro. Ele também defendeu, por exemplo, a atual política de juros do Banco Central, fruto de sucessivos embates tendo Lula e o PT de um lado e Roberto Campos Neto do outro. Para Kassab, a cautela demonstrada pelo presidente da autoridade monetária se faz necessária no atual momento, considerando o risco de uma disparada da inflação.
“Essa taxa de juros tem esse patamar baseado na constatação de que não tem nada pior para o Brasil do que a volta da inflação”, disse Kassab, acrescentando que Campos Neto tem demonstrado “muito boa vontade com o governo”, mesmo tendo a responsabilidade de decidir pela redução dos juros sem a certeza de que o governo fará sua parte na Economia. “Acho que essa cautela do Banco Central tem sido importante para o Brasil”, disse.
Kassab enxerga em Fernando Haddad uma peça-chave para equilibrar o desempenho do governo nessa equação. Aos poucos, segundo ele, o ministro da Fazenda tem feito valer suas opiniões e começa a conquistar a confiança de setores que antes temiam sua indicação. “Depois da eleição do Lula, eu percebia, todo mundo percebia, muita preocupação com o Haddad e pouca preocupação com o PT. Todos entendiam: o Haddad, no Ministério da Fazenda, não vai ser positivo. E as coisas mudaram, né? Hoje existe mais confiança no Haddad na condução da economia e menos no PT.”