Como na história bíblica do dilúvio, enquanto Noé construía sua arca e avisava aos demais de que Deus mandaria um grande chuva que inundaria a tudo, não deixando “pedra sobre pedra’, ninguém lhe dava ouvidos, continuando a ocar suas vidas como se nada fosse mudar.

 

Por: Edson Rodrigues

 

Quando a grande chuva caiu e a água começou a inundar tudo, sem tomar conhecimento de estrutura, altura ou fortaleza, todos correram para a arca, mas, como Noé havia avisado, a porta já estava fechada.  Além dos seus animais e da sua família, não cabia mais ninguém.

A metáfora acima serve para o momento político que o Tocantins atravessa.  Os avisos foram muitos, os exemplos explosivos, mas ninguém deu a menor bola para o Mensalão, menos ainda para a Lava a Jato.

Mas, hoje, com a “chuva” das operações trovoando sob os céus tocantinenses, tal qual como aconteceu com Noé. A “porta da impunidade” está bem fechada, vedada pelas operações da CGU, do TCU, da PF, do MPF e  da Justiça Federal.

Os que não acreditaram nos avisos e continuaram a praticar atos de corrupção, licitação fraudulenta, superfaturar obras, provocar rombo no Igeprev, fraudar a venda da Saneatins, causar rombo de 9 bilhões nas contas da Saúde, triplicar preços de rodovias e outras malversações do erário público, não só laranjas, mas quem comandou e arquitetou tudo, estão, agora, em pleno dilúvio, sob as gotas dolorosas da Lei que, não por acaso, parecem mirara em suas cabeças.

Com toda essa “chuva”, poucos serão os que encontrarão abrigo para estar com as cabeças fora d’água até o ano de 2018, ano em que as portas da arca estarão abertas aos que quiserem ter a coragem de colocar seus nomes à disposição da população eleições, quando os partidos estarão articulando para o embate eleitoral com direito a uma vaga para governador e uma para vice, duas vagas para senador e duas de suplente, 12 para deputado federal e 24 deputado estadual.

Poucos serão os que ainda terão “oxigênio” fora da arca, assim como outros poucos poderão recorrer ao oxigênio fornecido pela Justiça, por meio de certidões que os tornem aptos a se registrar na candidatura. 

Por outro lado, muitos não poderão sequer ter acesso ao oxigênio da Justiça, já que podem estar guardados na casa de prisão, no presídio de Palmas, sem acesso ás máscaras ou aos escafandros.

Esses serão os que não acreditaram no dilúvio da força da Justiça e continuaram na escuridão praticando crimes contra o erário público.

Esses estarão, para sempre, fora da arca.

 

AMASTHA, EM PALMAS, KALIL EM BELO HORIZONTE E O ENTERRO COLETIVO DE VELHOS CACIQUES POLÍTICOS

O candidato que logrou vitória em Belo Horizonte, empresário Alexandre Kalil, do PHS, sem prometer nada só com discurso de que seria diferente dos políticos tradicionais, não aceitou nenhum político tradicional em seu palanque no segundo turno, evitou qualquer adesão e derrotou o candidato do senador Aécio Neves, João Leite do PSDB.

Assim, ou quase assim, foi e está sendo com prefeito Carlos Amastha, que expurgou o clã dos Abreu e companhia, além de ex- governadores, ex-prefeitos e deputados Federais e estaduais.

O único que não subiu em palanque foi governador Marcelo Miranda, mas ele também não apoiou o discurso do prefeito reeleito, que foi de duras críticas à atual classe política tocantinense.

 

Com a vitória de Amastha em Palmas, e com as atuais e futuras operações dos órgãos da Justiça, pouco se salvarão, haja vista que muitos processos contra gestores atuais e de outros mandatos também serão em breve apresentados e representados, materializando-se no verdadeiro dilúvio na política do Tocantins, em que poucos irão sobreviver.

E mais, os sobreviventes terão de se unir de forma a se fortalecer, mesmo que não seja por amor mútuo – o que é difícil – mas por instinto de sobrevivência e, assim construírem sua própria arca para os próximos dilúvios que se avizinham até 2018.

Amastha estará com a sua arca pronta, com seus escolhidos dentro e com a porta bem fechada, para que ninguém se atreva a tentar entrar.  Se os ocupantes irão sobreviver, só o futuro poderá dizer.

A data está marcada: três de outubro de 2018. Quem estiver vivo irá testemunhar um milagre. 

Ou não!

 

Posted On Quarta, 02 Novembro 2016 21:27 Escrito por

O candidato do PSB à Prefeitura de Goiânia, Vanderlan Cardoso, derrotado no domingo, dia 30 pelo candidato do PMDB Iris Rezende Machado culpou os arranjos antecipados para o pleito de 2018 para governador e senador, em Goiás, pela sua derrota por diferença de mais de 100 mil votos.

 

Por: Valdir Morgado

 

Embora o campanha de Iris tenha sobrecarregado o eleitor com  a informação de que Vanderlan era apoiado por Marconi Perillo( PSDB) para jogar o desgaste do governo, principalmente junto ao funcionalismo público para cima de Vanderlan, na verdade, o governador goiano não moveu uma palha sequer para ajudar o candidato, ex-prefeito de Senador Canedo, empresário bem sucedido na iniciativa privada, mas que ainda está engatinhando na política.

Aliás, na eleição do primeiro turno, o governador Marconi Perillo viajou durante 15 dias para países asiáticos ( China e Japão), em busca de investimentos estrangeiros para Goiás, abandonando não só o candidato a prefeito de Goiânia, mas até mesmo os de outros municípios, onde seu partido disputava o pleito. Antes de viajar, Marconi Perillo anunciou que não iria se movimentar nas eleições municipais deste ano. No segundo turno, em que havia eleições apenas em Goiânia e Anápolis, ele não pediu votos para ninguém. Apenas anunciou que seus auxiliares estavam liberados, o que praticamente representou uma proibição para se engajarem nos pleitos, para bom entendedor de política.

Tudo leva a crer que Vanderlan está certo ao analisar que  a eleição para prefeito de Goiânia, este ano está atrelada às eleições de 2018. Marconi Perillo é candidato ao Senado e vai fazer tudo que for possível para buscar o apoio do PMDB para sua coligação. Da parte de Iris Rezende sua eleição para prefeito de Goiânia vai representar sua aposentadoria política, pois está com 83 anos e já manifestou a seus amigos mais íntimos que se eleito, iria encerrar sua carreira como um vitorioso e não como um derrotado várias vezes por Marconi Perillo.

O senador Ronaldo Caiado(DEM) se aliou ao candidato Iris Rezende, unicamente porque viu, diante de sua possível vitória, a possibilidade de sair candidato a governador de Goiás, com o apoio de uma grande agremiação, que tem estrutura em todos os municípios,  o que se concretizou domingo, com a vitória de Iris.

O candidato a governador de Goiás, que será apoiado pelo governador Marconi Perillo será o atual vice e secretário de Segurança Pública, José Eliton(PSDB). O único entrave a ser resolvido é o secretário do Gabinete Civil, Vilmar Rocha,(PSD) que já anunciou que é candidato a governador ou a senador pela base governista. Mas não descarta a possibilidade de estar na chapa de José Eliton. Como são duas vagas de senador em disputa, fica tudo  arranjado, com Marconi disputando uma vaga ou então Vilmar disputando a vice.

 

(Valdir Morgado é jornalista aposentado, ex-jornalista da Ascom-Tocantins)

Posted On Segunda, 31 Outubro 2016 18:05 Escrito por

Por Ramiro Bavier Para garantir equilíbrio fiscal, a máquina pública trabalhando de forma eficiente e com uma perspectiva positiva para os próximos anos, o Tocantins terá que fazer novos ajustes de contas e ampliar medidas de contenção de gastos. Esse foi o tom do discurso do governador Marcelo Miranda, na manhã desta terça-feira, 25, durante reunião com seu secretariado, no Palácio Araguaia. A reunião serviu para que os gestores expusessem a realidade de cada pasta e afinassem o discurso em torno de uma postura mais austera de toda a equipe do governo. Conter gastos, otimizar recursos e reduzir pessoal fazem parte de um conjunto de estratégias que o Governo do Estado deverá adotar de imediato. “Nós temos todas as condições de fazer o melhor, mesmo diante das dificuldades. A minha determinação é para que busquemos as alternativas e medidas necessárias para proteger o Estado, atrair investimentos futuros, cortar excessos e garantir, à população, serviços de qualidade”, disse o governador. Na área econômica, o contexto atual – apesar da crise – ainda mostra um cenário positivo, segundo o secretário de Estado da Fazenda, Paulo Antenor. Entretanto, ele reiterou a necessidade de ajustes e o corte de despesas. Há uma projeção de perda real de, no mínimo, 360 milhões de reais do Fundo de Participação dos Estados (FPE) para 2016, segundo o secretário. Isso aperta o cinto nas contas do Estado, uma vez que o Tocantins tem uma dependência em torno de 60% desses repasses. A crise nacional e seus reflexos no Tocantins; as dificuldades que a maioria dos estados brasileiros está enfrentando diante desse momento, quando têm que atrasar ou parcelar salários de servidores, por exemplo, dívidas herdadas da gestão passada e o movimento grevista no Estado também marcaram as discussões na reunião. O governador ressaltou que, diferentemente de outros estados no País, o Tocantins tem feito o pagamento do funcionalismo em dia. Marcelo Miranda falou também de sua agenda em Brasília (DF) para garantir recursos para o Estado. “Estou com uma pauta intensa em Brasília, defendendo os interesses do Tocantins com o governo federal. Estamos ao lado do governo do presidente Michel Temer, que dará uma resposta muito positiva à nação”, pontuou. Um dos pleitos citados e defendidos pelo governador é o Projeto de Lei nº 2.617/15, que altera a Lei de Repatriação de Recursos, em tramitação no Congresso Nacional. Para o governador, os recursos provenientes da repatriação representariam mais caixa para o Tocantins e, “consequentemente, mais investimentos em saúde e educação, por exemplo. Temos defendido esses recursos com muita firmeza em Brasília”, disse. Gestão De acordo com o secretário de Estado da Administração, Geferson Oliveira, há uma necessidade urgente de redução de custeio da máquina. Para ele, o equilíbrio nas contas do governo passa, fundamentalmente, pela desoneração, inclusive sobre contratos e comissões. Com esses ajustes, de acordo com o secretário, haverá possibilidades de perspectivas positivas, inclusive com o enquadramento do Estado na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) já para o próximo quadrimestre (abril 2017). Uma espécie de força-tarefa entre todas as pastas para a executar as medidas de ampliação no corte de gastos, principalmente mantendo a governabilidade acima de partidos e interesses pessoais, foi mais uma das recomendações do governo durante o encontro. Nos próximos dias, o governo deve anunciar as medidas de contenção das despesas com custeio e pessoal. A reunião desta terça-feira funcionou também como uma prévia para isso.

Posted On Quarta, 26 Outubro 2016 10:19 Escrito por

Por Edson Rodrigues

 

Para o ex-deputado federal Wolney Siqueira, coordenador financeiro da campanha de Iris Rezende à prefeitura de Goiânia, o candidato do PMDB, representa a experiência de quem já foi governador, senador, prefeito, ministro e, principalmente, mantém-se “ficha-limpa”, após tantos anos de convivência política.

 

Ai na foto: Junior da Fere Boi, Wolney Siqueira e o jornalista Rodrigo Czepak

 

Íris lidera todas as pesquisas de intenção de voto para a capital goiana, com pelo menos 48% contra 35% do seu oponente no segundo turno.

Do alto dos seus 83 anos de idade, Íris traz um excelente relacionamento com o presidente Michel Temer e um excelente trânsito junto aos ministros, secretários e principais assessores do governo federal, assim como com os presidentes do BNDES, do Banco do Brasil, com representantes de governos internacionais, entidades financiadoras e de direitos humanos.

Wolney Siqueira destaca que Íris Rezende é o homem certo para alavancar Goiânia nos caminhos do desenvolvimento, da geração de empregos, Saúde Pública, Ação Social e, principalmente, da estabilidade econômica.

Wolney interpreta os resultados positivos das pesquisas como uma resposta do povo goianiense, que está em busca de dias melhores para suas famílias.

“O povo de Goiânia é muito inteligente para ser enganado por políticos que só querem o poder pelo poder.  Íris Rezende já provou que sua preocupação maior é o povo de Goiânia e o povo de Goiás.  As pesquisas não mentem e nos dão a certeza de dias melhores já, a partir de 1º de janeiro”, afirmou.

Posted On Domingo, 23 Outubro 2016 07:28 Escrito por

 

REVISTA VEJA

Delator detalha como e onde Renan recebia propina do petrolão

O encontro era quase sempre marcado em um hotel discreto no Rio de Janeiro. Uma funcionária do Senado aparecia no horário combinado, identificava-se por meio de uma senha previamente acertada e recebia a coisa — às vezes em envelopes, às vezes em bolsas, quase sempre em malas cheias, conforme o valor da propina acertado para o dia. Valores que variavam de 250 000 a 1 milhão de reais. Era assim, sem nenhuma sofisticação, que parte do dinheiro desviado da Petrobras chegava às mãos do senador Renan Calheiros, presidente do Congresso. Transações que somaram milhões de reais se repetiram por mais de uma década sem que ninguém suspeitasse, financiaram campanhas políticas do PMDB e, agora, fornecem pistas sobre a origem da fortuna acumulada pelo presidente do Congresso. São esses detalhes, contados por um dos delatores da Lava-Jato em depoimentos sigilosos prestados à Procuradoria-Geral da República, que podem levar Renan a percorrer uma trilha semelhante à de Eduardo Cunha.

SERVIDOR DELATA USO ILEGAL DA POLÍCIA DO SENADO CONTRA LAVA JATO

A operação da Polícia Federal que prendeu o diretor da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo de Carvalho, apaniguado do presidente do Congresso, Renan Calheiros, foi possível graças a uma denúncia do policial Paulo Igor Bosco Silva. Em uma notícia-crime enviada à Corregedoria da Polícia Federal, Paulo Igor denunciou que a Polícia Legislativa do Senado utilizou seu pessoal para “embaraçar diligências investigativas” da PF e do Ministério Público Federal em relação a senadores e um ex-parlamentar graúdo envolvidos com o esquema criminoso da Operação Lava Jato. VEJA teve acesso à íntegra do inquérito da Operação Métis.

 

Paulo Igor denunciou que o diretor da Polícia do Senado enviou equipes em julho de 2014 para encontrar escutas ambientais e interceptações telefônicas nos endereços particulares do senador Edison Lobão Filho e do pai dele, Edison Lobão, então ministro de Minas e Energia, nos endereços de Brasília e de São Luís, no Maranhão. O senador Edison Lobão é investigado por receber propina de empreiteiras envolvidas com os desvios bilionários na Petrobras. Na capital maranhense, os policiais foram deslocados para os escritórios da família Lobão nos bairros Olho D’Água e Quintas do Calhau. O policial narrou a preocupação dos colegas que tinham ido a São Luís no momento em que passaram pelos detectores de metal no aeroporto, com o material de varredura do Senado.

As varreduras ilegais da Polícia do Senado, que funcionavam como contrainteligência às ações legais da PF, também foram feitas a pedido dos senadores Ciro Nogueira, Gleisi Hoffmann e Fernando Collor de Mello, todos investigados como beneficiários de recursos do esquema de corrupção descoberto pela Lava Jato. Gleisi recebeu 1 milhão de reais do esquema fraudulento administrado pelo doleiro Alberto Youssef. A varredura preventiva em favor de Collor de Mello foi feita na “Casa da Dinda”, como é chamada sua residência no Lago Norte, em Brasília. A equipe da Polícia do Senado, segundo Paulo Igor, tentou impedir o acesso de policiais federais e dos procuradores da República durante busca e apreensão determinada pelo Supremo Tribunal Federal tanto na Dinda quanto em um apartamento funcional do senador Collor.

O ex-senador José Sarney também foi beneficiado com a varredura preventiva, em julho de 2015, em seu escritório particular no Edifício Office Tower, no Setor Hoteleiro Norte de Brasília. Na época, Sarney não desempenhava nenhum cargo legislativo. O político também é acusado de embolsar dinheiro do esquema de corrupção descoberto pela Lava Jato. Para o Ministério Público Federal, trata-se de uso ilegal da estrutura do Senado para realizar medidas de contrainteligência.

 

ÉPOCA

CUNHA PRETENDE REVELAR O PREÇO DO PMDB DE TEMER PARA APOIAR DILMA NAS ELEIÇÕES

Faltavam 16 dias para o segundo turno das eleições de 2014 quando Eduardo Cunha enviou uma mensagem, em tom de ordem, ao presidente da OAS, Léo Pinheiro. “Vê Henrique seg turno”, escreveu o então líder do PMDB, em 10 de outubro, pedindo ajuda financeira para a reta final da campanha do aliado Henrique Eduardo Alves ao governo do Rio Grande do Norte. Como o dinheiro demorava a cair, Cunha ficou impaciente. “Amigo, a eleição é semana que vem, preciso que veja urgente”, escreveu, três dias depois. “Tem de encontrar uma solução, senão todo esforço será em vão”, insistiu, dali a dois dias. Pinheiro respondia sempre que estava com dificuldades para levantar novos recursos. Cunha, habilidoso negociador, decidiu resolver o problema por conta própria. Providenciou com dirigentes da Odebrecht uma transferência eletrônica de R$ 4 milhões da empreiteira para o comitê nacional do partido em 23 de outubro. Naquele dia, um cheque do mesmo valor saiu da cúpula da sigla para o diretório do PMDB-RN e, ao longo da semana, todos os R$ 4 milhões chegaram à conta da campanha de Alves.

O episódio diz muito sobre Cunha e o PMDB. Ao contrário do PT, o PMDB não teve, nas eleições mais recentes, um tesoureiro responsável por centralizar a arrecadação e a distribuição de dinheiro de campanha – é por isso que, no petrolão, não se descobriu no partido de Cunha figuras como João Vaccari e Delúbio Soares. A maior legenda do Brasil constitui-se numa aglomeração de chefes políticos que, a depender do momento e da oportunidade, organizam-se regionalmente ou no Congresso. Divide-se, em Brasília, em dois grupos principais: o PMDB da Câmara e o PMDB do Senado. A arrecadação de doações eleitorais obedecia a essa estrutura política. O caixa eleitoral do partido, no entanto, era único. Empresários doavam a uma conta nacional, mesmo que quisessem repassar o dinheiro a um candidato específico. A confusão era certa. Não era fácil identificar qual doação pertencia a qual candidato – às vezes, mais de um candidato.

 

Cunha, graças a seu excelente relacionamento com os maiores empresários do país, conforme o episódio com Léo Pinheiro deixa claro, encarregava-se, sobretudo na campanha de 2014, de resolver as encrencas. Conhecia todo mundo que doava e conhecia no PMDB todo mundo que receberia, ou deveria receber, o dinheiro. Tornara-se, de certa maneira, um tesoureiro informal do PMDB. Agora, esse tesoureiro está preso pela Lava Jato – e seus segredos não estão somente na Suíça.

 

Cunha, portanto, conhece como ninguém os bastidores da arrecadação do PMDB em 2014. Meticuloso, guardou documentos e anotou todos os detalhes, incluindo valores e destinatários, das doações – legais e ilegais – daquela campanha. Nelas, há até datas e locais de encontros com empresários, lobistas e políticos do PMDB. Na pauta, sempre dinheiro de campanha. “Ou dinheiro pago durante a campanha”, disse ele recentemente a amigos, com leve ironia. Ele se referia ao fato muito conhecido, nos bastidores do poder, de que eleições são oportunidades para políticos ganharem dinheiro. Afinal, uma vez na posse das contribuições, legais ou ilegais, dos empresários, um político pode usá-las para produzir santinhos – ou produzir saldo em contas na Suíça.

Nos últimos meses, conforme a perspectiva de que fosse preso tornava-se cada vez mais próxima, Cunha, percebendo-se sem saída, reuniu os documentos e organizou as anotações. Passava os dias – e as madrugadas – consultando os arquivos, em papel e no computador, e a memória. Criou pastas para cada alvo. Preparava-se para tentar, no momento certo, uma delação premiada. (Seus advogados chegaram a sondar a Procuradoria-Geral da República, mas as conversas não avançaram.) Parte do material serviria para o livro que Cunha estava escrevendo sobre os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff. Nele, Cunha descreveria os fatos políticos da queda da petista, sem mencionar ilegalidades. Estas ficariam para a delação.

 

ISTOÉ

Os segredos de Cunha

Eduardo Cunha abala as estruturas do poder e tira o sono de políticos de todas as colorações partidárias não só pelo potencial explosivo de suas possíveis revelações. O poderoso ex-presidente da Câmara, preso em Curitiba, possui um amplo acervo, com áudios, vídeos e documentos de negociatas que envolvem integrantes das cúpulas de PT e PMDB. E está disposto a entregá-lo à Justiça

Familiarizado com os segredos mais recônditos de políticos dos mais diversos matizes, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) estremece o poder. Desde que foi preso na última quarta-feira 19, ele tornou-se o novo homem-bomba da República, capaz de acelerar os batimentos cardíacos de pelo menos sete em cada 10 parlamentares do Congresso.

Não por acaso, sua prisão foi comparada a uma espécie de “toque de recolher” no Legislativo. Minutos depois de sua detenção, não havia viva alma na Câmara e Senado para contar história. Pudera. Uma delação daquele que pode ser considerado o presidente da Câmara mais poderoso desde a redemocratização tem potencial explosivo só comparável ao atribuído ao depoimento de Marcelo Odebrecht, dono da maior empreiteira do País – que mantém negociações avançadas para homologar a colaboração premiada com a força-tarefa da Lava Jato. As revelações de Cunha podem atingir não apenas o PMDB, seu partido, do qual por muitos anos foi uma espécie de caixa responsável por arrecadar recursos com empresas e repassá-los a candidatos do partido País a fora.

Mas incriminar também aliados de um amplo leque de legendas. Sobretudo políticos com os quais conviveu intimamente, do atual e de governos anteriores. Ou seja, ele sabe demais e é por saber demais que ele impõe medo e dissemina o pânico em Brasília.

 

O peemedebista é uma espécie de caixa-preta do submundo da capital federal. Conforme apurou ISTOÉ, suas contribuições devem ir além de simples relatos. Cunha guarda consigo um extenso acervo, com áudios, vídeos e documentos, de negociatas que envolvem integrantes da cúpula de PT e PMDB e cerca de 200 deputados de sua base de apoio. O material – considerado nitroglicerina pura por quem já o manuseou – contém detalhes da distribuição de recursos do Petrolão e poderá, entre outros fatos, elucidar casos de corrupção no Porto de Santos, que atinge o coração do PMDB, e no projeto do Porto Maravilha. Parte robusta desse dossiê foi armazenada graças a tecnologias instaladas nos escritórios do ex-presidente da Câmara. Segundo ISTOÉ apurou, Cunha contava com um arsenal antiespionagem. Além de câmeras e escutas ambientais para gravar reuniões, ele dispunha de um dispositivo que, quando acionado, emitia ondas eletromagnéticas capazes de cortar sinais de celulares no ambiente e impediam que o interlocutor gravasse as conversas.

 

Embora sempre tenha negado publicamente a possibilidade de fechar um acordo com a Justiça, há tempos Cunha discute o assunto com seus advogados. Recentemente, adicionou o defensor Marlus Arns, responsável por uma série de acordos na Operação Lava Jato, ao seu grupo de defensores. Metódico, Cunha, nos últimos meses, passou a fazer um inventário de tudo o que ouviu e acumulou.

 

 

OS PARTIDOS SÃO CASAS DE NEGÓCIOS

Primeira mulher no Superior Tribunal de Justiça e famosa por acusar a existência de “bandidos de toga” quando ocupou por dois anos o cargo de corregedora nacional do Conselho Nacional de Justiça, a ex-ministra Eliana Calmon, 71 está aposentada do serviço público há cerca de mil dias, mas segue disparando críticas ao sistema político e ao Judiciário. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, a advogada diz que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, é “o pai do desmonte do CNJ” e o acusa de apoiar o “inoportuno” reajuste salarial de magistrados para “ficar bem com o Poder Judiciário”. E declara que a medida só teve sucesso no Congresso Nacional porque ninguém quis brigar com o setor: “Está todo mundo com o rabo na cerca com essa Operação Lava Jato”. Candidata ao Senado em 2014, ela diz que a experiência foi rica para “conhecer a política por dentro” e afirma que ninguém quer melhorar a situação partidária.

 

O que a senhora acha do aumento salarial para o Judiciário?

Sou absolutamente contra. É inoportuno. O magistrado está ganhando muito bem. Vamos fazer o seguinte? Uma tabela comparativa mostrando quanto ganha um médico do Exército, por exemplo, com dedicação exclusiva. Ou um dentista, um advogado… Mas, não, eles só querem se comparar com o que ganha um milionário, aí não é possível.

Por que esse aumento obteve sucesso no Congresso Nacional?

Houve um lobby muito grande. Mas também porque ninguém quer brigar com o Poder Judiciário.

Por quê?

Por quê? Não precisa nem eu dizer. Um juiz que trabalhava comigo dizia “ministra, está todo mundo com o rabo na cerca”. É uma expressão de matuto. O animal preso pelo rabo fica desesperado, faz qualquer coisa para sair. Então, está todo mundo com o rabo na cerca com essa operação Lava Jato. Então, é melhor não brigar com ninguém que tenha saia. Não se briga com mulher, com amante, nem com juiz, nem com padre. Usou saia, meu amigo, faça as pazes.

O ministro Ricardo Lewandowski lutou muito por esse aumento…

Pois é. Ele prometeu isso. Brigou muito para se contrapor a Joaquim Barbosa (ex-ministro do STF), que era absolutamente contra, então ele se colocou a favor. Quando os juízes foram pedir aumento a Joaquim, e eu estava presente, ele passou uma descompostura. E o Lewandowski se colocou inteiramente contrário àquela posição e aí teve de manter isso até o fim.

Há “bandidos de toga”, como a senhora declarou quando era corregedora do Conselho Nacional de Justiça?

Opa, muitos. Depois que eu saí da Justiça vi que há mais do que eu pensava. Porque eu estou do outro lado do balcão e as pessoas contam para mim as coisas que se passam. Quem conta são os advogados, que são os maiores conhecedores, os empresários e muitos dos que são achacados.

 que a senhora acha do trabalho do CNJ atualmente?

É como se ele tivesse encolhido. Foi feito um processo de desmonte do CNJ desde que saí. A partir da administração do ministro Gilson Dipp e em seguida, a minha, fizemos um trabalho de enfrentamento e isso deu muita projeção ao CNJ. E a partir daí o corporativismo tentou imoedir que o órgão tivesse interferência nas correições, nas atividades administrativas dos Tribunais — e isso contou com o entendimento que tinha o ministro Lewandowski. Ideologicamente, ele nunca aceitou bem essa interferência do CNJ no Poder Judiciário.

Quem é o pai desse desmonte?

Eu acho que foi o Lewandowski. O CNJ está para se transformar em uma figura completamente figurativa se for aprovado um projeto que cria os conselhos dos Tribunais de Justiça. Eles fariam uma filtragem de todas as denúncias que deveriam ir para o CNJ.

Qual seu balanço da Lava Jato?

Foi um divisor de águas, que começa com o mensalão e chega com mais profundidade na Lava Jato. Até porque encontrou uma legislação mais evoluída, como a lei da improbidade empresarial que traz diversos instrumentos como o acordo de leniência, a delação premiada, os acordos de compliance.

Qual sua opinião sobre o pedido de impeachment de Gilmar Mendes?

Ele é um pouco descuidado, emocional. Quando se zanga, fala de uma forma muito desabrida e isso pode dar uma conotação política. Mas não conheço nenhum ato dele que possa ser considerado de improbidade. Acho uma demasia, fruto de pessoas que querem neutralizá-lo.

Um ministro do Supremo pode dar opiniões políticas?

Não é comum, não deveria, mas ele faz. Até aqui, o que ele fez, não pode ser considerado criminoso. Ele fala, mas e aqueles com atos muito mais profundos de identidade ideológica e que não falam e a gente só vê as consequências do seu agir? Esses é que são perigosos.

A senhora nominaria algum?

Não. Assim também já é demais. Eu piso no tomate, mas não nessa velocidade (risos).

Posted On Domingo, 23 Outubro 2016 07:25 Escrito por
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